tag:blogger.com,1999:blog-69451427632632529772024-02-07T17:22:47.482-08:00Blog do Tasso AzevedoTasso Azevedohttp://www.blogger.com/profile/16418323153756145254noreply@blogger.comBlogger251125tag:blogger.com,1999:blog-6945142763263252977.post-5119988613701675692021-10-03T21:39:00.000-07:002021-10-03T21:39:04.879-07:00Cadê a floresta que estava aqui? (O gado comeu)<p><span face=""Source Sans Pro", sans-serif" style="background-color: white; caret-color: rgb(95, 95, 95); color: #5f5f5f;"><i></i></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span face=""Source Sans Pro", sans-serif" style="background-color: white; caret-color: rgb(95, 95, 95); color: #5f5f5f;"><i><br /></i></span></div><span face=""Source Sans Pro", sans-serif" style="background-color: white; caret-color: rgb(95, 95, 95); color: #5f5f5f;"><i><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3gzEQix1fTanTAnMlmal6RkS7o2iXAVrwz8-5XAGbJ4LaKHkK1mDi2sY5u8_9Wzq7bIHbKs7PLG4g7rHq4GjARe_cySl_pFMIPt0KA3DU1l6Ubwr3BAlFBFpzBnoAWvaJGEHJ_hxRNWQ/s499/boipirata2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="328" data-original-width="499" height="296" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3gzEQix1fTanTAnMlmal6RkS7o2iXAVrwz8-5XAGbJ4LaKHkK1mDi2sY5u8_9Wzq7bIHbKs7PLG4g7rHq4GjARe_cySl_pFMIPt0KA3DU1l6Ubwr3BAlFBFpzBnoAWvaJGEHJ_hxRNWQ/w451-h296/boipirata2.jpg" width="451" /></a></div><span style="font-size: medium;"><br /></span></i></span><p></p><p><span face=""Source Sans Pro", sans-serif" style="background-color: white; caret-color: rgb(95, 95, 95); color: #5f5f5f;"><i><span style="font-family: arial;">Na região da Amazônia que virou fonte de carbono e pôs a ciência em pânico, rodamos pelas estradas em busca de algum mato para contar a história</span></i></span></p><p><span face=""Source Sans Pro", sans-serif" style="background-color: white; color: #5f5f5f;"><span style="font-family: arial;"><i style="caret-color: rgb(95, 95, 95);">por: Claudio Â</i><i>ngelo</i><i style="caret-color: rgb(95, 95, 95);"> e Tasso Azevedo</i></span></span></p><p><span face=""Source Sans Pro", sans-serif" style="caret-color: rgb(95, 95, 95); color: #5f5f5f; font-family: arial;">O rio Tapajós definitivamente não convidava a um mergulho naquela manhã de sábado. Famoso no passado por suas águas azuis, o afluente do Amazonas se apresentava num verde leitoso esquisito na altura da cidade de Itaituba, oeste do Pará. Ninguém sabe ainda o que causou a mudança da cor do rio neste ano: as apostas vão da proliferação de algas microscópicas à lama dos garimpos que arrasam seus afluentes a montante da “cidade-pepita”, a capital paraense do ouro. Na balsa que cruza para o distrito de Miritituba, na margem direita, mais um elemento que definitivamente não parece estar ajudando a limpar o rio apareceu.</span></p><p style="box-sizing: inherit; caret-color: rgb(95, 95, 95); color: #5f5f5f; line-height: 1.25; margin-bottom: 1rem; margin-top: 0px;"><span style="font-family: arial;">“Olhem só, de vez em quando aqui na balsa passam umas fagulhas”, observou nosso motorista, Carlos Alberto Noronha, o Carlão, enquanto flocos semelhantes a uma nevada leve caíam sobre o para-brisa do carro. “Os portos graneleiros aqui do lado estão despejando soja nas barcaças, e o vento levanta a poeira da soja.” Transtorno para os moradores, que não conseguem pendurar roupas para secar fora de suas casas na época da safra, e mais uma carga de sujeira jogada no Tapajós.</span></p><p style="box-sizing: inherit; caret-color: rgb(95, 95, 95); color: #5f5f5f; line-height: 1.25; margin-bottom: 1rem; margin-top: 0px;"><span style="font-family: arial;">Miritituba se tornou na última década um símbolo das transformações aceleradas que o oeste paraense vem sofrendo. O distrito hoje conta com meia dúzia de estações de transbordo de cargas (ETCs), terminais onde centenas de caminhões descarregam diuturnamente soja e milho colhidos em Mato Grosso (e hoje também no Pará), que serão enviados em barcaças até os portos de Santarém, Barcarena e Santana (esta última no Amapá), depois transferidos a navios e exportados, em sua maior parte para a China.</span></p><p style="box-sizing: inherit; caret-color: rgb(95, 95, 95); color: #5f5f5f; line-height: 1.25; margin-bottom: 1rem; margin-top: 0px;"><span style="font-family: arial;">Com a pavimentação da rodovia BR-163, a Cuiabá-Santarém, anunciada em 2002 e concluída apenas em 2020, o agronegócio de Mato Grosso ganhou uma rota de escoamento diretamente para o chamado Arco Norte do país, mais próximo dos mercados consumidores e a uma distância menor dos centros de produção do que os portos do sul, como Paranaguá. A rodovia passou a enfrentar congestionamentos de carretas na época da safra, e postos de combustível com capacidade para 500 caminhões cada um foram construídos no chamado Km 30, a intersecção entre a 163 e a Transamazônica. Caminhoneiros chegam a esperar dias nos pátios desses megapostos para descarregar em Miritituba.</span></p><p style="box-sizing: inherit; caret-color: rgb(95, 95, 95); color: #5f5f5f; line-height: 1.25; margin-bottom: 1rem; margin-top: 0px;"><span style="font-family: arial;">Mas a principal atingida pela rodovia e a consequente expansão do agronegócio pelo oeste paraense foi a floresta amazônica. O surto de grilagem que se seguiu ao anúncio do asfaltamento fez o desmatamento na região explodir. No começo do século, a devastação ao longo da 163 fez um “dente” no chamado Arco do Desmatamento, a meia-lua sinistra da destruição que avançava Amazônia adentro desde o Maranhão, passando por Tocantins, Mato Grosso, sul do Pará, Rondônia e Acre. Foi também um dos fatores responsáveis pelo desmatamento brutal de quase 28 mil quilômetros quadrados visto em 2004.</span></p><p style="box-sizing: inherit; caret-color: rgb(95, 95, 95); color: #5f5f5f; line-height: 1.25; margin-bottom: 1rem; margin-top: 0px;"><span style="font-family: arial;">O governo Lula tentou conter o surto de desmatamento interditando a área em torno da BR para criar um plano de ordenamento territorial, o “BR-163 Sustentável”. Este incluía a criação de um mosaico de unidades de conservação no entorno da rodovia, como a Floresta Nacional e o Parque Nacional do Jamanxim, a Floresta Nacional de Trairão e o Parque Nacional do Rio Novo. A ideia era que as novas áreas protegidas, mais as já existentes e as terras indígenas, formassem uma “muralha” que protegesse a floresta. Também foi planejada a criação de um distrito florestal sustentável na BR-163, no qual empresas de exploração madeireira pudessem disputar concessões de Florestas Nacionais para fazer manejo sustentável – trazendo dinheiro, empregos e concorrendo com a madeira ilegal.</span></p><p style="box-sizing: inherit; caret-color: rgb(95, 95, 95); color: #5f5f5f; line-height: 1.25; margin-bottom: 1rem; margin-top: 0px;"><span style="font-family: arial;">Embora as teses estivessem corretas e as áreas protegidas de fato sejam um entrave à devastação, faltou Estado nos anos seguintes para implementar o plano. Hoje a região sudoeste do Pará – municípios como Trairão, Novo Progresso e o distrito de Castelo dos Sonhos, em Altamira – ainda está entre os pontos mais quentes de desmatamento. Ali aconteceram, por exemplo, as duas maiores operações de combate à destruição da última década, a Castanheira (2015) e a Rios Voadores (2016), que levaram à prisão os maiores desmatadores do país, Ezequiel Castanha e Antônio “Jotinha” Junqueira Vilela Filho.</span></p><p style="box-sizing: inherit; caret-color: rgb(95, 95, 95); color: #5f5f5f; line-height: 1.25; margin-bottom: 1rem; margin-top: 0px;"><span style="font-family: arial;">As unidades de conservação criadas em 2006 vêm sendo invadidas e desmatadas. O maior exemplo é a Floresta Nacional do Jamanxim, acessível por uma avenida de Novo Progresso. É a área protegida mais invadida e destruída da Amazônia. E <a data-wpel-link="external" href="https://imazon.org.br/publicacoes/reducao-da-flona-do-jamanxim-vitoria-da-especulacao-fundiaria/" rel="external noopener noreferrer" style="box-sizing: inherit; color: #f9b000; text-decoration: none;" target="_blank">pelo menos dois terços das invasões ocorreram após a criação da Flona</a>.</span></p><p style="box-sizing: inherit; caret-color: rgb(95, 95, 95); color: #5f5f5f; line-height: 1.25; margin-bottom: 1rem; margin-top: 0px;"><span style="font-family: arial;">O governo Bolsonaro virou de vez o clima na região ao desmontar os órgãos de controle ambiental e, mais do que isso, empoderar os criminosos com seus discursos. Se grilar, desmatar e garimpar eram vistos antes como um fato da vida e depois como atividades sujeitas a punição, hoje elas são motivos de orgulho – e quem diz o contrário é um inimigo a ser erradicado. Os municípios que mais desmataram a Amazônia <a data-wpel-link="external" href="https://sustentabilidade.estadao.com.br/blogs/ambiente-se/municipios-da-amazonia-que-elegeram-bolsonaro-no-1o-turno-sao-os-que-mais-desmatam-em-17-anos/" rel="external noopener noreferrer" style="box-sizing: inherit; color: #f9b000; text-decoration: none;" target="_blank">elegeram Jair em primeiro turno</a> e lhe permanecem fiéis. Em Novo Progresso é difícil encontrar um comércio, um carro ou uma porteira de fazenda que não sejam adornados com uma bandeira do Brasil, o símbolo capturado pelo regime. Foi em Novo Progresso que fazendeiros se uniram em agosto de 2019 para fazer o infame “<a data-wpel-link="external" href="https://oglobo.globo.com/epoca/sociedade/o-que-se-sabe-sobre-dia-do-fogo-momento-chave-das-queimadas-na-amazonia-23909368" rel="external noopener noreferrer" style="box-sizing: inherit; color: #f9b000; text-decoration: none;" target="_blank">Dia do Fogo” e “mostrar serviço ao presidente”</a>.</span></p><p style="box-sizing: inherit; caret-color: rgb(95, 95, 95); color: #5f5f5f; line-height: 1.25; margin-bottom: 1rem; margin-top: 0px;"><span style="font-family: arial;">O MapBiomas Alerta detectou neste ano na região de Castelo dos Sonhos <a data-wpel-link="external" href="https://infoamazonia.org/2021/09/17/area-floresta-desmatamento-desapareceu-amazonia/" rel="external noopener noreferrer" style="box-sizing: inherit; color: #f9b000; text-decoration: none;" target="_blank">a maior derrubada contínua de floresta na Amazônia</a>: 6.500 hectares de terras públicas destruídos entre fevereiro de 2020 e agosto de 2021. Tentamos chegar de carro até o local, mas fomos impedidos. A estrada que dava acesso à área desmatada começava numa fazenda às margens da BR-163, mas fomos informados de que só seria possível entrar com autorização do dono do imóvel – que, segundo informou a mulher que nos vedou a entrada, estava em Novo Progresso, sem previsão de retorno.</span></p><p style="box-sizing: inherit; caret-color: rgb(95, 95, 95); color: #5f5f5f; line-height: 1.25; margin-bottom: 1rem; margin-top: 0px;"><span style="font-family: arial;">Em 2021 a região voltou a causar pânico entre os observadores da Amazônia. Um estudo liderado pela pesquisadora do Inpe Luciana Gatti e publicado na revista científica <em style="box-sizing: inherit;">Nature</em> mostrava que duas grandes áreas da Amazônia, a de Santarém e a de Alta Floresta, que inclui o trecho paraense da 163, já emitem mais gás carbônico do que absorvem. Isso se deve aos efeitos combinados das queimadas e da mudança do clima. Na região de Alta Floresta as temperaturas médias subiram 2,5<span style="box-sizing: inherit; line-height: 0; position: relative; top: -0.5em; vertical-align: baseline;">o</span>C desde 1979. Isso implica no aumento da mortalidade de árvores, que pode significar o colapso da floresta e um agravamento ainda maior do aquecimento da Terra.</span></p><p style="box-sizing: inherit; caret-color: rgb(95, 95, 95); color: #5f5f5f; line-height: 1.25; margin-bottom: 1rem; margin-top: 0px;"><span style="font-family: arial;">No começo de setembro, nós descemos a BR-163 de carro desde Santarém até Castelo dos Sonhos, retornando pela Transamazônica até Altamira. Estávamos em busca de floresta, o que, à beira da estrada, hoje é artigo raro. A partir de hoje, o Instagram do <em style="box-sizing: inherit;">OC</em> publica uma série de vídeos sobre a viagem. Em todo o trajeto de 850 km entre Santarém e Castelo dos Sonhos, o único trecho hoje cercado de floresta de ambos os lados é a breve travessia do Parque Nacional do Jamanxim.</span></p><p style="box-sizing: inherit; caret-color: rgb(95, 95, 95); color: #5f5f5f; line-height: 1.25; margin-bottom: 1rem; margin-top: 0px;"><span style="font-family: arial;">Onde falta mata sobra soja. Vimos grandes áreas de antigas pastagens sendo convertidas para agricultura. E vimos desmatamentos recentes sendo queimados para a apropriação ilegal e a pecuária. Se essas áreas novas de gado serão convertidas para soja – ou se existe desmatamento novo para soja – ainda é uma incógnita; em tese, a moratória em vigor desde 2006 veda o cultivo da oleaginosa em áreas recentemente desmatadas. Mas a pressão, seja ela direta ou indireta, da agricultura sobre as florestas remanescentes do Pará ficou clara em nosso trajeto.</span></p><p style="box-sizing: inherit; caret-color: rgb(95, 95, 95); color: #5f5f5f; line-height: 1.25; margin-bottom: 1rem; margin-top: 0px;"><span style="font-family: arial;">Isso para não falar no garimpo. O preço do ouro disparou no mundo com a pandemia e cidades como Itaituba, Novo Progresso estão em plena febre do metal. Em Itaituba não se encontra vaga em hotel. Em Novo Progresso uma pizza chega a custar R$ 130. Vimos igarapés completamente alterados por lama de garimpo e uma balsa de extração ilegal no Parque do Jamanxim, a menos de 1 km da BR-163. Em lojas da cidade há verdadeiros estacionamentos de pás carregadeiras (PCs), máquinas de centenas de milhares de reais utilizadas para escavar os rios em busca do metal. “O ouro está com um preço tão alto que o Ibama queima uma e o garimpeiro pede outra”, contou-nos um local.</span></p><p style="box-sizing: inherit; caret-color: rgb(95, 95, 95); color: #5f5f5f; line-height: 1.25; margin-bottom: 1rem; margin-top: 0px;"><span style="font-family: arial;">A mineração está arrasando os rios da região e colocando pressão sobre terras indígenas. O caso mais emblemático é o dos munduruku, da região de Itaituba, assediados e divididos pelos garimpeiros apoiados pelo governo Bolsonaro. Mas a extração ilegal de ouro também é acelerada na Terra Indígena Baú, dos kayapó. Na terra vizinha, a Mekrãgnoti, os indígenas realizam eles mesmos o monitoramento das fronteiras para evitar a entrada de garimpeiros e outros criminosos – com recursos da compensação da BR-163, cortados pela Funai em 2019.</span></p><p style="box-sizing: inherit; caret-color: rgb(95, 95, 95); color: #5f5f5f; line-height: 1.25; margin-bottom: 1rem; margin-top: 0px;"><span style="font-family: arial;">À exceção do território dos kayapó, o único lugar onde entramos em florestas inteiras foi, por incrível que pareça, uma madeireira. Na Floresta Nacional de Altamira, a cerca de 80 km de Moraes de Almeida, distrito de Itaituba, funcionam duas concessões do Serviço Florestal Brasileiro para empresas que fazem corte seletivo em bases sustentáveis (dividindo a área em talhões e deixando a floresta se regenerar após a exploração). Na Flona, o desmatamento vai até a divisa da área de exploração que visitamos, da empresa RRX Florestal. Dentro da unidade de exploração a floresta segue de pé, vigiada pelos madeireiros.</span></p><p style="box-sizing: inherit; caret-color: rgb(95, 95, 95); color: #5f5f5f; line-height: 1.25; margin-bottom: 1rem; margin-top: 0px;"><span style="font-family: arial;">Diante da ausência do Estado, ou de sua presença estimulando o crime e atrapalhando a fiscalização, são povos indígenas, ambientalistas, funcionários públicos entrincheirados no Ibama e no ICMBio e uns poucos empresários que cuidam, do jeito que podem, de manter vivos os últimos grandes blocos de floresta daquela parte do bioma. É do sucesso desses atores que depende o futuro dessa região, um dos principais fronts da batalha pela salvação do clima da Terra.</span></p><p style="box-sizing: inherit; caret-color: rgb(95, 95, 95); color: #5f5f5f; line-height: 1.25; margin-bottom: 1rem; margin-top: 0px;"><span style="font-family: arial;">Veja os vídeos no Instagram: @observatoriodoclima</span></p><p style="box-sizing: inherit; caret-color: rgb(95, 95, 95); color: #5f5f5f; line-height: 1.25; margin-bottom: 1rem; margin-top: 0px;"><br /></p>Tasso Azevedohttp://www.blogger.com/profile/16418323153756145254noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6945142763263252977.post-53602200038934355112021-04-22T07:18:00.003-07:002021-04-22T07:18:47.203-07:00Dez medidas contra o desmatamento que só dependem do presidente<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhqgLIEutihNDjv5huPK735E_fs-JDQ89BErZxl6PR0ewe4cWYpth6n23vxaUkVKsKO9JofoGphQA13NVJRrx2izzzUVx5f29V8jXcMGudNj4wnB46mOkQ7-1EyFhpw_E6ilgXaE1MKjPU/s1024/dematamento_em_mt-1024x683.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="683" data-original-width="1024" height="273" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhqgLIEutihNDjv5huPK735E_fs-JDQ89BErZxl6PR0ewe4cWYpth6n23vxaUkVKsKO9JofoGphQA13NVJRrx2izzzUVx5f29V8jXcMGudNj4wnB46mOkQ7-1EyFhpw_E6ilgXaE1MKjPU/w410-h273/dematamento_em_mt-1024x683.jpg" width="410" /></a></div><div><br /></div><div> <br /><span style="font-family: helvetica;">Esta semana acontece a Cúpula de Líderes sobre o Clima convocada pelo presidente dos EUA, Joe Biden. O presidente Bolsonaro e seu ministro Ricardo Salles vêm condicionando os compromissos do Brasil com a agenda climática ao recebimento de bilhões de dólares. </span></div><div><span style="font-family: helvetica;"><br />O Brasil é o quinto maior emissor de gases de efeito estufa do planeta, especialmente por causa do desmatamento, que responde por quase metade de nossas emissões. A derrubada da mata explodiu no governo Bolsonaro, ao mesmo tempo em que se desmonta todo o aparato de proteção das florestas. <br /><br /></span></div><div><span style="font-family: helvetica;">Agora o governo pede à comunidade internacional que coloque na mesa US$ 1 bilhão de dólares ao ano, sem o qual não pode reduzir a derrubada da floresta. Então, listamos aqui 10 medidas que o governo pode tomar imediatamente, na base do “parecer-caneta", que têm o potencial de colocar um freio de arrumação na devastação em curso. E, ao mesmo tempo, demonstrar à comunidade internacional que fala sério em proteger as florestas e as populações indígenas e comunidades tradicionais:<br /><br /></span></div><div><span style="font-family: helvetica;">1) Retomar imediatamente o Plano de Prevenção e Combate ao Desmatamento na Amazônia (PPCDAM), que já se provou muito eficaz, derrubando o desmatamento mais de 80% entre 2005 e 2012, e que foi mantido até 2018.<br /><br /></span></div><div><span style="font-family: helvetica;">2) Retomar a demarcação das terras indígenas, que está paralisada desde que Bolsonaro tomou posse. É sabidamente um dos meios mais efetivos de proteger a floresta.<br style="box-sizing: content-box; margin: 0px; padding: 0px;" /><br /></span></div><div><span style="font-family: helvetica;">3) Destinar 10 milhões de hectares de florestas públicas hoje abertas à grilagem para criação de unidades de conservação. Paralisar todos os processos de revisão de limites de unidades de conservação.<br /><br /></span></div><div><span style="font-family: helvetica;">4) Embargo imediato e automático das áreas desmatadas ilegalmente, inclusive fora do Cadastro Ambiental Rural, por edital e mapa de áreas embargadas por município. Já existem mais de 100 mil laudos de desmatamento na plataforma MapBiomas prontos para esta ação.<br /><br /></span></div><div><span style="font-family: helvetica;">5) Recomposição do orçamento e autonomia do Ibama, desistir da extinção-fusão do ICMBio e revogar a Instrução Normativa 01/2021, que paralisou a fiscalização ao tornar obrigatória a anuência de superior hierárquico para a ação dos fiscais na autuação, multa e embargo de áreas desmatadas ilegalmente.<br /><br /></span></div><div><span style="font-family: helvetica;">6) Bloquear todos os Cadastros de Imóveis Rurais sobre terras públicas federais e estaduais.<br /><br /></span></div><div><span style="font-family: helvetica;">7) Cancelar todos os processos de regularização fundiária de áreas desmatadas ilegalmente após julho de 2008.<br /><br /></span></div><div><span style="font-family: helvetica;">8) Tornar obrigatória a inclusão do código do CAR da propriedade de origem na Guia de Transporte Animal (GTA), possibilitando a completa rastreabilidade da origem da carne no Brasil.<br /><br /></span></div><div><span style="font-family: helvetica;">9) Vetar o acesso ao crédito rural para quem desmatou ilegalmente depois de julho de 2008 em todos os biomas brasileiros.<br /><br /></span></div><div><span style="font-family: helvetica;">10) Retirar as iniciativas legislativas que premiam quem desmatou ilegalmente (PLs de Regularização Fundiária 2.633/2020, na Câmara, e 510/2021, no Senado) após julho de 2008 e que fragilizam o licenciamento ambiental (PL 3.729/2004).<br /><br /></span></div><div><span style="font-family: helvetica;">Já esta mais do que na hora de mostrar serviço!<br /><br /></span></div><div><span style="font-family: helvetica;">Tasso Azevedo e Andre Lima<br /><br /></span></div><div><span style="font-family: helvetica;">publicado em O Globo em 22.04.2021</span></div>Tasso Azevedohttp://www.blogger.com/profile/16418323153756145254noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6945142763263252977.post-64558309563981041102021-02-03T06:39:00.003-08:002021-02-03T06:39:36.252-08:00Emissão zero é o novo normal<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWG7_aiG2LSZ1fv5gA8HPBoNIIcT223tVRYW7cPdJ2JRSbqFnoc_lXA_0BgG3D-uPQx9ah59AnozDMrfuXo4-ChJwAw-SiTxjSgrTVG9bNk9ijlFFHz0eQpKYHnDisBE2qvziFjupoOZY/s1816/top-five-risks.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="948" data-original-width="1816" height="275" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWG7_aiG2LSZ1fv5gA8HPBoNIIcT223tVRYW7cPdJ2JRSbqFnoc_lXA_0BgG3D-uPQx9ah59AnozDMrfuXo4-ChJwAw-SiTxjSgrTVG9bNk9ijlFFHz0eQpKYHnDisBE2qvziFjupoOZY/w528-h275/top-five-risks.png" width="528" /></a></div><p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-size: 13px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><br /></p><p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-size: 13px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;">Pelo segundo ano consecutivo, o Relatório de Riscos Globais preparado pelo Fórum Econômico Mundial aponta temas ambientais como os maiores riscos à Humanidade. E os extremos climáticos e o insucesso com ações de combate às mudanças climáticas são destacados como riscos maiores inclusive que pandemias de doenças infecciosas, ataques cibernéticos ou terrorismo.</p><p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-size: 13px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 15px;"><br /></p><p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-size: 13px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;">É significativo que o relatório seja compilado a partir de uma extensa pesquisa com líderes empresariais e formadores de opinião em todo o mundo. Paulatinamente, entre 2015 e 2020 a agenda climática foi tomando espaço na análise de risco global, turbinada pelos movimentos da sociedade civil — em especial da juventude — em todo o mundo, pressionando por compromissos e ações imediatos.</p><p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-size: 13px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 15px;"><br /></p><p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-size: 13px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;">Parece que a ficha caiu sobre a gravidade da situação e a necessidade de nos movermos rapidamente enquanto ainda existem enormes oportunidades, em vez de se mover no futuro, quando será pura dor.</p><p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-size: 13px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 15px;"><br /></p><p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-size: 13px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;">Neste contexto, já não é mais suficiente se comprometer em monitorar e se tornar mais eficiente nas emissões por quantidade de produtos ou faturamento. Nem se comprometer em apenas reduzir as emissões absolutas.</p><p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-size: 13px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 15px;"><br /></p><p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-size: 13px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;">A conta é simples. Segundo o IPCC, o mundo pode emitir 770 GtCO2e (bilhões de toneladas de CO2 equivalente) até o fim do século para ter cerca de 50% de chance de limitar o aquecimento global a 1,5 grau, conforme previsto no Acordo de Paris. Hoje emitimos entre 55-60 Gt por ano e, neste ritmo, bem antes da metade do século teremos consumido o "orçamento de emissões". Por isso, todos os cenários de modelos climáticos compatíveis com 1,5 grau apontam a necessidade de termos emissões líquidas abaixo de zero na segunda metade do século.</p><p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-size: 13px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 15px;"><br /></p><p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-size: 13px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;">Dezenove das 20 maiores corporações globais — excluindo a Saudi Aramco (gigante estatal do petróleo) — possuem políticas e compromissos de emissões neutras nas próximas décadas. Varia o escopo (se são emissões diretas ou indiretas), o meio de neutralização (se zerando emissões ou compensando com ações ou compra de créditos de carbono) e os prazos. Mas todos no mesmo sentido — zerar sua contribuição para acúmulo de gases de efeito estufa na atmosfera.</p><p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-size: 13px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 15px;"><br /></p><p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-size: 13px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;">O mesmo se passa agora com os países ao proporem seus compromissos frente ao Acordo de Paris. Apenas anunciar um esforço de redução relativa não funciona mais. Especialmente dos países desenvolvidos, se espera nada menos que a definição de quanto antes de 2050 da neutralização das emissões na escala nacional.</p><p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-size: 13px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 15px;"><br /></p><p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-size: 13px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;">Como consequência, outros zeros estão se tornando normais, como zerar o consumo de combustíveis fósseis e seus derivados e zerar o desmatamento e a degradação do solo.</p><p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-size: 13px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 15px;"><br /></p><p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-size: 13px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;">Este novo normal é o maior direcionador de um movimento sem precedentes de investimento em todas as tecnologias, inovações, modelos de negócio e transformações necessárias para gerar uma sociedade próspera a partir de uma economia independente de emissões.</p><p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-size: 13px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 15px;"><br /></p><p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-size: 13px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;">Se você ainda não percebeu esse novo normal, corra para não ser atropelado pela história.</p><p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-size: 13px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><br /></p><p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-size: 13px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;">Publicado em O Globo em 03.02.2021</p>Tasso Azevedohttp://www.blogger.com/profile/16418323153756145254noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6945142763263252977.post-14776300778955466972020-11-25T07:07:00.001-08:002020-11-25T07:07:58.932-08:00País que mais preserva ou destrói?<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEht17eMJdjGzFevpHkbd_qqGKplIzngN-ihJM8yLvVnN6N8iUHiCh3OFr8X-q_NBnGjZRGBuZ3V9L-LUMB8z8ZdQa4TrXphlk62fLTJnax6xa6ap7rO0SnGlNeud_ouxsdnZucV-KW2ccM/" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="523" data-original-width="768" height="308" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEht17eMJdjGzFevpHkbd_qqGKplIzngN-ihJM8yLvVnN6N8iUHiCh3OFr8X-q_NBnGjZRGBuZ3V9L-LUMB8z8ZdQa4TrXphlk62fLTJnax6xa6ap7rO0SnGlNeud_ouxsdnZucV-KW2ccM/w453-h308/Imagem_preservacao_desmate.jpg" width="453" /></a></div><br /><p></p><p style="font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="font-family: inherit;">Dias atrás, discursando para o G20, o presidente Bolsonaro afirmou: "Utilizamos 8% de nossas terras para agricultura e 19% para pecuária; por isso, cerca de 66% de nosso território se encontram preservados com vegetação nativa (...) trabalharemos para manter este elevado nível de preservação. Somos responsáveis por menos de 3% das emissões de carbono mesmo sendo uma das dez maiores economias do mundo". E completou assim: "o que apresento aqui são fatos e não narrativas, são dados concretos e não frases demagógicas que rebaixam o debate publico".</span></p><p style="font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 14px;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></p><p style="font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="font-family: inherit;">Depois de tantas informações erradas propaladas pelo atual chefe do Executivo, chega a surpreender que os quatro dados apresentados na fala sejam muito próximos do real. Mas as conclusões derivadas deles contidas na fala não condizem com a realidade.</span></p><p style="font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 14px;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></p><p style="font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="font-family: inherit;">Segundo o MapBiomas, a mais completa base de dados sobre cobertura e uso da terra do país, em 2019 a área de uso agropecuário ocupava cerca de 30% do território. Quando se consideram as pastagens naturais e os plantios comerciais para produção de madeira, chega a 35%, o que está alinhado com a média global de ocupação da superfície terrestre para agropecuária. O Brasil não se distingue muito do mundo neste quesito.</span></p><p style="font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 14px;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></p><p style="font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="font-family: inherit;">Ainda segundo o MapBiomas, o país tem realmente 66% de vegetação nativa. Porém não se pode dizer que preserva este montante. Quase 10% da vegetação nativa brasileira já foram desmatados pelo menos uma vez, e estima-se que pelo menos outros 20% já foram degradados pelo fogo ou pela exploração ilegal de madeira. Ou seja, a área efetivamente preservada não alcança nem 50%.</span></p><p style="font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 14px;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></p><p style="font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="font-family: inherit;">Por outro, lado o Brasil é, de longe, o país que mais desmata no mundo. Lá atrás vêm a República Democrática do Congo e a Indonésia. E o desmatamento anda muito rápido. Em 1975 a Amazônia tinha 0,5% de suas florestas desmatada, atualmente se aproxima de 20%. Entre janeiro de 2019 e agosto de 2020 o desmatamento no Brasil alcançou uma área superior à metade do Estado do Rio de Janeiro. Definitivamente, o Brasil não é o país que mais preserva no mundo.</span></p><p style="font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 14px;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></p><p style="font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="font-family: inherit;">O Brasil é o quinto maior emissor de gases de efeito estufa. Em 2019 fomos responsáveis por cerca de 4% das emissões globais, enquanto nossa participação no PIB global é 2%, ou seja, emitimos mais que a média do mundo para cada dólar de geração de riqueza. Por outro lado, nossa emissão per capita é de 10 tCO2e/habitante/ano, enquanto a média do mundo é 7t. Novamente, estamos piorando a média do mundo.</span></p><p style="font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 14px;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></p><p style="font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="font-family: inherit;">Mas o Brasil, que tem alta participação de fontes renováveis na matriz energética, poderia se tornar rapidamente o exemplo para o mundo. Zerando o desmatamento, restaurando ecossistemas em áreas críticas, ampliando as áreas protegidas e a economia da floresta em pé junto com uma pujante agricultura regenerativa, seremos certamente o melhor exemplo para o mundo.</span></p><p style="font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 14px;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></p><p style="font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="font-family: inherit;">Para isso precisamos de menos demagogia e desvio de atenção do discurso e mais ação no dever de casa.</span></p><p style="font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="font-family: inherit;"><i><br /></i></span></p><p style="font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><i>Publicado em O Globo em 25.11.2020</i></p>Tasso Azevedohttp://www.blogger.com/profile/16418323153756145254noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6945142763263252977.post-91705948425515827182020-10-28T16:52:00.003-07:002020-10-28T16:52:23.501-07:00Do básico ao desruptivo<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgYgKNNOIt9MFmw1vIVONAx3PxuyV8eOrD1vYKmeBW6QvdWWoBkkuJe1Fmw23Lx0M3T5c9lbZUpyTLrTjVq3BJwIL2FerwCru9US2IG0C8kTjjv633eBymOB_x2oItzwGbfY8iyNvNmlck/s800/Desruptivo1.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="428" data-original-width="800" height="214" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgYgKNNOIt9MFmw1vIVONAx3PxuyV8eOrD1vYKmeBW6QvdWWoBkkuJe1Fmw23Lx0M3T5c9lbZUpyTLrTjVq3BJwIL2FerwCru9US2IG0C8kTjjv633eBymOB_x2oItzwGbfY8iyNvNmlck/w400-h214/Desruptivo1.png" width="400" /></a></div><br /><p></p><p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;">Setembro foi o mês mais quente no planeta desde que os registros começaram em escala global, em 1979. A temperatura média global já subiu 1oC acima da média do século passado, e o número de eventos climáticos extremos triplicou nas últimas quatro décadas.</p><p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 14px;"><br /></p><p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;">Para que o aquecimento global não ultrapasse os 1,5oC, os cientistas do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) estimam que o mundo precisa emitir no máximo 770 GtCO2e (bilhões de toneladas de CO2 equivalente) de gases de efeito estufa na atmosfera (GEE) até o fim do século. As emissões anuais se aproximaram em 2019 das 60 GtCO2e e, neste ritmo, teremos consumido todo o nosso orçamento de emissões antes de 2040.</p><p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;">Esta situação não nos deixa muitas saídas. Temos que reduzir drasticamente as emissões e aumentar muito as remoções para obter as chamadas emissões negativas na segunda metade do século. Ou seja, precisamos retirar mais carbono da atmosfera do que emitimos.</p><p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 14px;"><br /></p><p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;">Para uma parte importante do problema, como a geração de energia por fontes renováveis, o fim do desmatamento e a ampliação do reflorestamento e da restauração de solos são hoje menos uma dificuldade tecnológica e mais político-econômica. Mas existem fontes de emissão que precisam de muita inovação disruptiva, como a produção de aço e cimento.</p><p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 14px;"><br /></p><p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;">Veja o caso do cimento: para transformar o calcário (CaCO3) em cal (CaO) — matéria-prima do cimento —, é preciso retirar uma molécula de carbono e outras duas de oxigênio. Isso é feito aquecendo o calcário, e o resultado é a emissão de uma molécula de CO2 para cada uma de cal produzida. Os esforços para reduzir emissões se concentravam até recentemente na diminuição da quantidade de cal necessária para produzir o cimento ou o concreto, no uso de energia de fontes renováveis no processo e na tentativa de substituir a cal por outro material.</p><p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 14px;"><br /></p><p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;">Mas recentemente a Solidia, uma startup americana, desenvolveu uma tecnologia para curar o cimento com CO2, em vez de água. O resultado dos testes já realizados em escala mostra que o cimento cura 90% mais rápido e se torna mais resistente e durável, capturando o equivalente 70% do carbono emitido na produção do cimento. Com alguns avanços adicionais relacionados à formulação química do CO2 capturado para usar na cura do cimento (exemplo, ácido cítrico), será possível tornar as emissões do procedimento negativas.</p><p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 14px;"><br /></p><p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;">Nesta próxima década precisamos reverter a curva de emissões e temos que fazer de tudo, do básico ao mais disruptivo, para prosperar num mundo mais fresco e saudável. Não há tempo a perder.</p><p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><i><br /></i></p><p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><i>Publicado em O Globo - 28.10.2020</i></p>Tasso Azevedohttp://www.blogger.com/profile/16418323153756145254noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6945142763263252977.post-47566708952969388752020-09-30T11:44:00.003-07:002020-09-30T11:44:38.530-07:00Eletrificar pra Valer<div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcYqBb8jZBI-wFm4loHjYA4E3d_ylcy5IFOdpTnd_e8uhs4fL1fUArI7r2ufJM0S_9PXPeR1G-DeMarwUSL0N_sVRxSm0VdMrRFRT3lUlstyG_9AY7AW2qWxQqHQSDvgKvUDkp6ehCRzQ/s1920/will-lithium-ion-batteries-fuel-the-automotive-future.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1920" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcYqBb8jZBI-wFm4loHjYA4E3d_ylcy5IFOdpTnd_e8uhs4fL1fUArI7r2ufJM0S_9PXPeR1G-DeMarwUSL0N_sVRxSm0VdMrRFRT3lUlstyG_9AY7AW2qWxQqHQSDvgKvUDkp6ehCRzQ/w400-h225/will-lithium-ion-batteries-fuel-the-automotive-future.jpg" width="400" /></a></div><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div><span style="font-family: arial;"><br />Para limitarmos o aumento da temperatura global em 1,5 grau, é preciso eliminar o desmatamento, multiplicar a agricultura de baixo carbono e, principalmente, reduzir ao mínimo a queima de combustíveis fósseis, que respondem por dois terços das emissões globais de gases de efeito estufa.<br /><br /></span></div><div><span style="font-family: arial;">Para conseguir eliminar a queima de combustíveis fósseis, é necessário eletrificar a economia. Este é o jeito mais fácil de gerar e transportar energia renovável e limpa. O sol e o vento, que são fontes quase inesgotáveis de energia, já são mais baratos que as fontes de energia fósseis em quase todos os países.<br /><br /></span></div><div><span style="font-family: arial;">Hoje, apenas 20% da demanda energética do mundo se dão por meio de eletricidade. Esse número precisaria duplicar ou triplicar em três décadas. Para atingir esta meta, será necessário converter quase toda a frota de transporte do mundo, hoje baseada em motores a combustão, para veículos elétricos (VEs). Os VEs já se provaram muito melhores em termos de segurança, performance, torque, conforto e custo de manutenção. Até mesmo a autonomia das baterias já se aproxima e, em alguns casos, supera aquela dos veículos tradicionais a combustão. O grande gargalo para sua produção é o alto custo das baterias.<br /><br /></span></div><div><span style="font-family: arial;">A frota em circulação de EV’s saltou de 17 mil em 2010 para 7,2 milhões em 2019, com vendas anuais chegando a 2,1 milhões (2,6% do mercado). Nesse período, o custo das baterias caiu de US$ 1.200 para US$ 150/KWh, e a densidade de energia subiu de 200 para 300 Wh/kg, o que aproximou o valor de EVs aos veículos similares a combustão em várias regiões.<br />As projeções mostram que se as baterias atingirem o valor de US$ 100/KWh, com densidade acima de 300 Wh/kg, praticamente qualquer EV seria tão vantajoso economicamente que decretaria a morte dos veículos a combustão.<br /><br /></span></div><div><span style="font-family: arial;">Para se atingir este limite, será necessário dar um ganho de escala da produção — saindo do nível de GW para TW de produção anual com transformações disruptivas em toda a cadeia.<br />Há poucos dias, Elon Musk — o excêntrico empreendor da SpaceX, Neuralink e Tesla — apresentou na reunião anual de acionistas da Tesla um roadmap de cinco anos para cortar pela metade os custos de produção de baterias, ao mesmo tempo em que permite multiplicar a capacidade de produção mundial mais de cem vezes até 2030.<br /><br /></span></div><div><span style="font-family: arial;">Isso permitiria ao mundo não só transformar toda a frota global de novos veículos (carros, motos, caminhões e ônibus) em EV, mas agregar sistemas de armazenamento ao grid do sistema elétrico para estabilizar as fontes intermitentes, como solar e eólico.<br /><br /></span></div><div><span style="font-family: arial;">Dado o passado de propostas ousadas feitas por Elon Musk ao longo dos últimos 15 anos (e executadas!), como a reutilização de foguetes de lançamento espacial e construção de gigafábricas operando 100% em energias renováveis, é o prenuncio de que, pelo menos nesta frente, temos uma chance real de virar o jogo em uma década.<br /><i><br /></i></span></div><div><span style="font-family: arial;"><i>Publicado em O Globo em 30.09.2020</i></span></div>Tasso Azevedohttp://www.blogger.com/profile/16418323153756145254noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6945142763263252977.post-1159147120441169972020-09-03T11:32:00.000-07:002020-09-30T11:32:59.378-07:00Não falta monitoramento, falta ação<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEid2K2wOL0qAs_9BvwVz2uZldukwWfAYrlRhF-Tcc0Q28YBvVMfyZw3PiLQmxyLdZ12A5x68uZGV27JzhLIq8TUBeM-rOG-8PvSFE2YCe6bfgMnJWJ_cizX-jOry_blOa6CF6fLlFe0KWE/s340/Desmtamento.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="148" data-original-width="340" height="174" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEid2K2wOL0qAs_9BvwVz2uZldukwWfAYrlRhF-Tcc0Q28YBvVMfyZw3PiLQmxyLdZ12A5x68uZGV27JzhLIq8TUBeM-rOG-8PvSFE2YCe6bfgMnJWJ_cizX-jOry_blOa6CF6fLlFe0KWE/w400-h174/Desmtamento.jpg" width="400" /></a></div><span style="font-family: "Helvetica Neue"; font-size: 12px;"><br /></span><p></p><p><span style="font-family: "Helvetica Neue";">Agosto terminou, e o ritmo dos incêndios na Amazônia não arrefeceu, continua nos mesmos níveis de 2019, os mais altos da última década. O desmatamento se mantém acelerado. Embora com pequena queda em julho em relação a 2019, continuou tendo um dos maiores valores desde o início da implantação do sistema de detecção mensal em 2004. Os números mostram que a estratégia do emprego das Forças Armadas para coordenar o combate ao desmatamento e aos incêndios na Amazônia não está funcionando.</span></p>
<p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;">Confrontadas com a realidade, as autoridades federais, como o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, na qualidade de presidente da Comissão da Amazônia, costumam argumentar que faltam informações estratégicas para agir e que não há como identificar e punir os infratores.</p>
<p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 14px;"><br /></p>
<p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;">Num cenário de completa falta de recursos, o Ministério da Defesa abriu um processo para aquisição – sem licitação – de um microssatélite para monitorar a Amazônia por R$ 145 milhões, mais do que o dobro do orçamento do Ibama para combate aos ilícitos ambientais e quase 20 vezes mais caro que o Prodes e o Deter, dois programas de monitoramento do desmatamento desenvolvidos pelo Inpe e que são benchmark no mundo.</p>
<p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 14px;"><br /></p>
<p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;">A ideia de que faltariam instrumentos de monitoramento do desmatamento e degradação na Amazônia simplesmente não faz sentido. A Amazônia Brasileira é de longe o bioma mais monitorado em toda a região tropical. São pelo menos cinco sistemas de detecção de desmatamento em operação. Além do Deter/Inpe, com dados semanais (e até diários, no caso do Ibama) de desmatamento e degradação, existe ainda o SAD, desenvolvido pelo Imazon com dados mensais; o GLAD, da Universidade de Maryland, que publica dados diariamente; o Sirad-X, do Instituto Socioambiental, que monitora com imagens de radar o desmatamento na Bacia do Rio Xingu; e o Sipamsar, desenvolvido pelo Ministério da Defesa com sistema de radar que opera em regiões específicas no período chuvoso. Todos, exceto justamente o sistema do Ministério da Defesa, produzem informações públicas e abertas.</p>
<p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 14px;"><br /></p>
<p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;">Além destes sistemas, existem ferramentas complementares para apoiar a priorização das áreas de fiscalização, como o Deter-Intenso do Inpe, e a identificação remota dos infratores, como o MapBiomas Alerta, que faz a validação e o refinamento de todos os alertas públicos de desmatamento gerados e os transforma em laudos customizados pelos usuários para verificar se um desmatamento é ilegal e identificar os responsáveis.</p><p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><br /></p>
<p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;">Claramente não nos falta monitoramento. Entre 2004 e 2012, quando o desmatamento caiu 80%, só existiam o Deter (lançado em 2004), com resolução mais baixa e menor frequência, e o SAD, lançado em 2005.</p>
<p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 14px;"><br /></p>
<p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;">Por que agora não conseguimos baixar o desmatamento? Porque o monitoramento não está se convertendo em ações no campo ou remotas. Enquanto o desmatamento cresce e aprendemos que 99% têm fortes indícios de ilegalidade, como apontou o MapBiomas, o ano de 2020 tem o menor número de multas aplicadas pelo Ibama em 21 anos. A operação Controle Remoto — que promove a autuação à distância utilizando os dados do Cadastro Ambiental Rural — foi paralisada por completo em 2019.</p>
<p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 14px;"><br /></p>
<p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;">General Mourão, faça o básico, retome a estratégia de sucesso do PPCDAM – Plano de Prevenção e Combate ao Desmatamento na Amazônia. O governo tem técnicos e expertise para reverter a curva do desmatamento. Use sua influência para garantir recursos financeiros, apoio logístico e a contratação de mais fiscais e dê autonomia para o Ibama e o ICMBio coordenarem as operações. Você colherá os resultados muito antes do que imagina.</p><p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><i><br /></i></p><p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><i>Publicado em O Globo em 02.09.2020</i></p>Tasso Azevedohttp://www.blogger.com/profile/16418323153756145254noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6945142763263252977.post-83130451479396434402020-08-05T04:59:00.002-07:002020-08-05T04:59:55.370-07:00Pandemia, fome e desmatamento<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhmnNcCjHLxsdAsOpgvvLwUyBnpc7HZrfhNmQicccYFiZ_t2pKVlu2b9N7T4SCx0n60gI0S5Jo2cr4WPpMrl4TpahDDIfzyua0bAsZgxmlMQkAfyCSnIB6C6SVVruHZEgJ_CQhP2OKqQUI/s768/Pandemia.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="512" data-original-width="768" height="342" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhmnNcCjHLxsdAsOpgvvLwUyBnpc7HZrfhNmQicccYFiZ_t2pKVlu2b9N7T4SCx0n60gI0S5Jo2cr4WPpMrl4TpahDDIfzyua0bAsZgxmlMQkAfyCSnIB6C6SVVruHZEgJ_CQhP2OKqQUI/w512-h342/Pandemia.jpg" width="512" /></a></div><div><br /></div><div><br /></div><div><font face="helvetica">Depois de anos em ascensão, o desmatamento da Amazônia caiu de 27 mil km2 para 4,5 mil km2 entre 2004 e 2012, queda de 84% em oito anos. A partir de 2015 entrou em alta e chegou a 10,1 mil km2 em 2019, alta de 100% em cinco anos. As projeções indicam que em 2020 será maior.</font></div><div><font face="helvetica"><br /></font></div><div><font face="helvetica">A taxa de 15% de brasileiros passando fome em 1990 teve pequena redução até o início dos anos 2000 e passou por uma abrupta queda até 2014, quando saímos do mapa mundial da fome. Reduzimos em 82% em pouco mais de dez anos, chegando a 1,7% da população. Como o desmatamento, a população com fome entrou em tendência de alta desde 2016.</font></div><div><font face="helvetica"><br /></font></div><div><font face="helvetica">As curvas da evolução da pobreza, da fome e do desmatamento no Brasil tem o mesmo padrão: grande queda até 2012-14 e ascensão nos anos seguintes. E fenômenos que pareciam isolados agora se conectam com a pandemia de Covid-19: fazem parte do sistema agroalimentar, onde natureza, agricultura, alimento e saúde se interligam.</font></div><div><font face="helvetica"><br /></font></div><div><font face="helvetica">Sabemos que o desmatamento acentua as mudanças climáticas, que ameaça a produção de alimentos. Que a perda da biodiversidade aumenta o risco de pandemias e que 25% das doenças infecciosas e 50% das zoonóticas que contaminaram os humanos estavam associadas à agricultura. Além disso, os alimentos industrializados causam a morte silenciosa de outros milhões por doenças crônicas. A fumaça do desmatamento provoca doenças respiratórias nas cidades.</font></div><div><font face="helvetica"><br /></font></div><div><font face="helvetica">Não faltam exemplos do nexo virtuoso ou predatório do sistema "floresta-agricultura-comida-saúde". As conquistas da redução da fome e do desmatamento foram resultado de um conjunto de políticas públicas articuladas. Destacam-se o Fome Zero, o Bolsa Família, o Programa de Aquisição de Alimentos e o Programa Nacional de Alimentação Escolar, discutidos com a sociedade no extinto Conselho Nacional de Segurança Alimentar. O Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal aumentou as áreas protegidas e a fiscalização, embargou áreas ilegais e liderou a queda do desmatamento.</font></div><div><font face="helvetica"><br /></font></div><div><font face="helvetica">Vale lembrar que neste período a economia cresceu e o Brasil se consolidou como um dos principais produtores de commodities agrícolas do mundo, enquanto fortaleceu a agricultura familiar. Não resolvemos os problemas da fome, do desmatamento e da desigualdade, mas pavimentamos o caminho.</font></div><div><font face="helvetica"><br /></font></div><div><font face="helvetica">Todo esse acúmulo foi jogado fora com o enfraquecimento dessas políticas. A Covid-19 apenas acentua a trajetória perversa em que entramos. E aponta a necessidade de políticas integradas para o sistema agroalimentar. Na pandemia chegamos ao paradoxo do aumento do desmatamento e da fome enquanto estamos perdendo alimentos no campo.</font></div><div><font face="helvetica"><br /></font></div><div><font face="helvetica">Estamos na rota de voltar ao mapa da fome (acelerado pela Covid-19), bater recordes de desmatamento e de emissões de gases de efeito estufa. Também estamos nos afastando de contribuir com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, com o Acordo de Paris e abrindo mão do desenvolvimento do nosso país.</font></div><div><font face="helvetica"><br /></font></div><div><font face="helvetica"><br /></font></div><div><font face="helvetica">Tasso Azevedo & Luis Fernando Guedes Pinto, publicado em Opinião, Jornal Folha de São Paulo, 05.08.2020</font></div>Tasso Azevedohttp://www.blogger.com/profile/16418323153756145254noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6945142763263252977.post-40167638121354277012020-07-29T19:34:00.000-07:002020-07-29T19:34:24.091-07:00O Capital acordou para Amazônia<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTWfIWchlofTIOwe37vLe9aACQIY1elbbR0ebphGNOj5n5N-2Ts0Oe9qhENmr5iim7B3xIErEq0mgOyq1R6sYRj6DtY2crNXfQA1SUxzfR9CiSKOu7xzDlo8LTc3_rYqT2bguK34JIyDw/s984/Amazonia+-+Boa+VIsta.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="655" data-original-width="984" height="333" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTWfIWchlofTIOwe37vLe9aACQIY1elbbR0ebphGNOj5n5N-2Ts0Oe9qhENmr5iim7B3xIErEq0mgOyq1R6sYRj6DtY2crNXfQA1SUxzfR9CiSKOu7xzDlo8LTc3_rYqT2bguK34JIyDw/w500-h333/Amazonia+-+Boa+VIsta.jpg" width="500" /></a></div><p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><br /></p><p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><br /></p><p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;">O descontrole e o descaso do governo federal com o desmatamento e a Amazônia resultaram num efeito inesperado no setor privado. Pressionados pela rápida deterioração da imagem do Brasil no cenário internacional, que tem se refletido em desconfiança em relação aos produtos e serviços brasileiros, empresas de diversos setores têm se mobilizado para colocar em prática uma agenda proativa para a região.</p>
<p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 14px;"><br /></p>
<p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;">Em 2019, o setor privado ainda aguardava uma reação do poder público que pudesse recolocar o Brasil no rumo do controle do desmatamento, mas os meses foram passando, e a luz amarela acendeu no início de 2020 em Davos, onde o Brasil passou um vexame, sem ter o que apresentar quando todas as atenções estavam voltadas para a agenda da sustentabilidade no Fórum Econômico Mundial.</p>
<p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 14px;"><br /></p>
<p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;">Já são 14 meses seguidos em que o desmatamento sobe sem trégua quando comparado com o mesmo período do ano anterior. Mesmo com a passagem do bastão da coordenação do combate ao desmatamento para o vice-presidente Mourão no Conselho da Amazônia, não há sinais de retração. Por outro lado, a Covid-19 avança sobre os povos indígenas de forma particularmente cruel, pois está associada às invasões do garimpo e à extração ilegal de madeira em seus territórios, e a inação do governo é amplificada pelos vetos do presidente a medidas importantes de proteção dessas populações vulneráveis que haviam sido aprovadas pelo Congresso.</p>
<p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 14px;"><br /></p>
<p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;">A luz amarela ficou vermelha quando os investidores começaram a externar de forma inequívoca que se afastarão do Brasil e das empresas que possam ter risco de se contaminar com desmatamento ou impactar as populações indígenas. Empresas no sul do Brasil, a 3 mil quilômetros de distância, agora têm que responder como garantem não estar vinculadas com a derrubada da floresta e o fogo na Amazônia.</p>
<p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 14px;"><br /></p>
<p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;">Primeiro vieram os CEOs de dezenas de empresas, várias líderes nos seus setores, cobrando ação do governo no combate ao desmatamento ilegal e se comprometendo com apoio a caminhos sustentáveis para a Amazônia. Depois, os três maiores bancos privados do país se unem de forma inédita para promover cadeias produtivas sustentáveis e investimentos em infraestrutura básica para o desenvolvimento social e ambiental, ao mesmo tempo que cobram combate intransigente ao desmatamento na região. Gigantes do agronegócio, como a Marfrig, se comprometem a eliminar o desmatamento de toda a sua cadeia de suprimentos (direta e indireta) e planejam rastreabilidade completa da produção.</p>
<p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 14px;"><br /></p>
<p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;">O que antes era um movimento isolado e pioneiro de empresas com longa trajetória na causa da sustentabilidade, como a Natura, agora se converte em um movimento mais amplo e abrange. Torcemos para seja o início de uma nova era que perdure e persevere nas próximas décadas.</p><p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><br /></p><p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;">Publicado em O Globo, 29 de Julho de 2020</p>Tasso Azevedohttp://www.blogger.com/profile/16418323153756145254noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6945142763263252977.post-5549420538866513342020-06-24T20:13:00.003-07:002020-06-24T20:15:31.349-07:00Esqueceram o elefante na sala<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKSPWvMJeMlAMrjVdrLSpQQIYOP1l2bYaJln4GBrsUe0LL2N9lIFR_5hvzyTwc2xftKIt3-_F85MlDd-wkuTW_wJuZe-qfpNblAnBH1uLebFodPK3mTBHNHyb233KGD2Fd2AaJGjqjd-Y/s337/elefante+na+sala.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="149" data-original-width="337" height="176" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKSPWvMJeMlAMrjVdrLSpQQIYOP1l2bYaJln4GBrsUe0LL2N9lIFR_5hvzyTwc2xftKIt3-_F85MlDd-wkuTW_wJuZe-qfpNblAnBH1uLebFodPK3mTBHNHyb233KGD2Fd2AaJGjqjd-Y/w400-h176/elefante+na+sala.jpg" width="400" /></a></div><p class="p1" style="color: #454545; font-family: "helvetica neue"; font-size: 12px; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><br /></p><p class="p2" style="color: #454545; font-family: "helvetica neue"; font-size: 12px; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 14px;"><br /></p><p class="p1" style="color: #454545; font-family: "helvetica neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;">O Ministério da Agricultura lançou recentemente o seu Plano Estratégico 2020-2027, com tudo a que um plano tem direito: missão, visão, objetivos estratégicos, programas e metas. Coisa rara no atual governo.</p><p class="p2" style="color: #454545; font-family: "helvetica neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 14px;"><br /></p><p class="p1" style="color: #454545; font-family: "helvetica neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;">Não tive dúvidas e mergulhei nas 40 páginas do documento. Decepcionante. Missão e visão vagos e bem tradicionais. Quase nada de inovação ou inspiração.</p><p class="p1" style="color: #454545; font-family: "helvetica neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><br /></p><p class="p1" style="color: #454545; font-family: "helvetica neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;">A análise de contexto desconsidera ou apenas tangencia os principais desafios e questões colocadas à mesa da produção agropecuária no mundo, como o enfrentamento das mudanças climáticas que afetam diretamente a produção agropecuária, a conservação do solo e da água, a substituição da proteína animal por vegetal e a sintetização dos alimentos (new food).</p><p class="p2" style="color: #454545; font-family: "helvetica neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 14px;"><br /></p><p class="p1" style="color: #454545; font-family: "helvetica neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;">Mas o mais incrível é a total ausência de qualquer referência ao elefante na sala da ministra da Agricultura: o desmatamento. Aliás, o elefante também já chegou aos gabinetes do Ministério da Economia e do Itamaraty.</p><p class="p2" style="color: #454545; font-family: "helvetica neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 14px;"><br /></p><p class="p1" style="color: #454545; font-family: "helvetica neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;">O desmatamento, especialmente na Amazônia, é o centro da preocupação global com o Brasil, como mostra a carta dos 29 dos maiores fundos globais ameaçando retirar investimentos do país caso não consigam garantias de que o problema não contaminará seus negócios.</p><p class="p2" style="color: #454545; font-family: "helvetica neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 14px;"><br /></p><p class="p1" style="color: #454545; font-family: "helvetica neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;">Mais de 95% das áreas desmatadas no Brasil são ocupados por atividades agropecuárias (e mais de 99% do desmatamento têm fortes indícios de ilegalidade). A agropecuária é, assim, o maior responsável ou beneficiário direto do desmatamento.</p><p class="p2" style="color: #454545; font-family: "helvetica neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 14px;"><br /></p><p class="p1" style="color: #454545; font-family: "helvetica neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;">Mas, como diz a ministra Tereza Cristina e todos os seus antecessores desde Roberto Rodrigues em 2003, o Brasil não precisa derrubar mais um hectare de floresta ou vegetação nativa para continuar sendo a potência agropecuária e se tornar o maior produtor de alimentos do planeta. O problema é que a retórica não encontra eco na prática e, como se vê agora, nem mesmo no planejamento.</p><p class="p2" style="color: #454545; font-family: "helvetica neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 14px;"><br /></p><p class="p1" style="color: #454545; font-family: "helvetica neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;">O plano do Ministério da Agricultura ignora a necessidade de desvincular o agronegócio brasileiro do desmatamento pela concreta redução das taxas de derrubada da mata e a implementação de um programa robusto de rastreabilidade da produção. Em vez disso, promete um programa de comunicação para conter as notícias negativas sobre o Brasil.</p><p class="p1" style="color: #454545; font-family: "helvetica neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><br /></p><p class="p1" style="color: #454545; font-family: "helvetica neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;">No plano, uma das poucas referencias à biodiversidade é como uma "oportunidade para agregação de valor, tais como explorar melhor o conceito de 'brasilidade' e fortalecer a marca do país”. Para a Amazônia, uma única referência, no Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar na Amazônia Legal, com a meta pífia de atender 13 mil produtores familiares até 2023 e só.</p><p class="p2" style="color: #454545; font-family: "helvetica neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 14px;"><br /></p><p class="p1" style="color: #454545; font-family: "helvetica neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;">É hora de tirar o elefante da sala, não com plano de comunicação, mas com o compromisso sério de zerar o desmatamento na expansão da agropecuária brasileira, massificar agricultura de baixo carbono e tornar rastreável toda a produção nacional.</p><p class="p2" style="color: #454545; font-family: "helvetica neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 14px;"><br /></p><p class="p1" style="color: #454545; font-family: "helvetica neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;">Com estes três pilares resolvidos, a agropecuária brasileira será certamente o maior cartão de visitas do Brasil para sua inserção global.</p><p class="p1" style="color: #454545; font-family: "helvetica neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><br /></p><p class="p1" style="color: #454545; font-family: "helvetica neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;">Publicado em O Globo em 25.06.2020</p>Tasso Azevedohttp://www.blogger.com/profile/16418323153756145254noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6945142763263252977.post-13952526851682263142020-06-02T19:54:00.001-07:002020-06-02T19:54:41.040-07:00No desmatamento a legalidade é exceção<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiXOpa-0t_DZKiPXKi9qsAl3B3QLGPU5j1Ir_pxy0QnFEOYlZrWOnnhu0nQhNpYdDVgri604uaQECJZghZZunk_x-VK0vKMbPFUhIuQ9gJRocELtGaNvzcN7yEbZMTvZZpOSh5ExcYHi-w/s1600/Mapa+Desmatamento.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="639" data-original-width="870" height="293" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiXOpa-0t_DZKiPXKi9qsAl3B3QLGPU5j1Ir_pxy0QnFEOYlZrWOnnhu0nQhNpYdDVgri604uaQECJZghZZunk_x-VK0vKMbPFUhIuQ9gJRocELtGaNvzcN7yEbZMTvZZpOSh5ExcYHi-w/s400/Mapa+Desmatamento.png" width="400" /></a></div>
<div style="color: #454545; font-family: "Helvetica Neue"; font-size: 12px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<br /></div>
<div style="color: #454545; font-family: "Helvetica Neue"; font-size: 12px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<br /></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Acaba de ser lançado o primeiro <a href="http://alerta.mapbiomas.org/" target="_blank">Relatório Anual de Desmatamento do Brasil</a> cobrindo todo o país. Ele indica que só em 2019 foram detectados e confirmados 56,8 mil alertas de desmatamento, que devastaram 12.187 quadrados de vegetação nativa no país, sendo 63% da Amazônia, 33,5% no Cerrado e 3,3% na Mata Atlântica, Caatinga, Pantanal e Pampa. O estudo constatou que mais de 99% dos desmatamentos não foram autorizados ou se sobrepõem com áreas protegidas; portanto, têm fortes indícios de serem ilegais.</span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 14px;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O relatório é produto do <a href="http://mapbiomas.org/" target="_blank">MapBiomas</a>, um consórcio mais de 20 instituições entre universidades, ONGs e empresas de tecnologia que monitoram as mudanças no território brasileiro através do uso de técnicas de aprendizado de máquina e inteligência artificial aplicadas ao sensoriamento remoto por satélite. Partindo dos alertas de desmatamento gerados pelo INPE e outras instituições, os pesquisadores avaliaram cada um dos 168 mil alertas emitidos pelos diferentes sistemas de detecção de desmatamento e consolidaram, validaram e refinaram os alertas com imagens de satélites diárias e de alta resolução. Assim, conseguiram determinar exatamente quando e onde aconteceu cada desmatamento no país.</span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 14px;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Cruzando estes alertas com as bases de dados oficiais do Cadastro Ambiental Rural e de autorizações de supressão da vegetação, descobriu-se que em mais de 75% da área desmatada é possível identificar um CPF ou CNPJ de um responsável pela área (que se autodeclarou!) e, portanto, responsabilizá-los pelo desmatamento ilegal remotamente, independentemente de fiscalização no campo. Dizer que é preciso dar título em terra pública para poder responsabilizar é não só ilógico, como imoral, ao premiar invasores de terras publicas que cometeram um ato ilegal.</span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 14px;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Por outro lado, um ponto positivo: menos de 1% dos mais de 5,6 milhões de imóveis rurais cadastrados no CAR teve desmatamento em 2019.</span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 14px;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">É a primeira vez no mundo que se consegue mostrar de forma tão detalhada, clara e objetiva o perfil do desmatamento de um país. Para cada alerta que cruza um imóvel rural foi preparado um laudo indicando sobreposição com áreas protegidas ou de uso restrito, a existência de autorização para o desmatamento ou de embargo por irregularidades anteriores.</span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 14px;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">É hora de dar um basta na ilegalidade. Aqui as tarefas de forma bem clara: órgão ambientais devem notificar, autuar, multar e embargar todos os imóveis com desmatamento ilegal constantes no CAR; bancos, bloquear crédito para toda propriedade com desmatamento ilegal; empresas do agronegócio devem oferecer controle de origem de todos os seus produtos para garantir que não se relacionam com produtos do desmatamento; e Ibama e demais órgãos de controle devem focar a fiscalização nas áreas protegidas e onde tenham maior chance de pegar os infratores em flagrante.</span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 14px;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Os dados e os instrumentos estão na mesa e disponíveis gratuitamente para que governos, Ministério Público e empresas atuem de forma decisiva para estrangular o desmatamento ilegal que mina nossos recursos naturais e destrói a reputação do país.</span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><i>Saiba mais sobre <a href="http://alerta.mapbiomas.org/" target="_blank">MapBiomas Alerta</a></i></span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><i><br /></i></span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><i>Publicado em O Globo em 30.05.2020</i></span></div>
</div>
Tasso Azevedohttp://www.blogger.com/profile/16418323153756145254noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6945142763263252977.post-21811159185689476222020-05-29T11:07:00.001-07:002020-05-29T12:10:51.588-07:00Ao Mestre e Amigo Rubens Gomes<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0in 0in 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqVGSftrozGbUeKAEEzl06TbRw9eEjVYo7-r1cKqA_HMbB0r1Udx9wBoCUEmg7YBfK81XTAtCg4AYLIVSqk470nlUTSTIPyDMbYC8QHF87AunlP1KXo10_kvn-y2qg3b5hJK560zgQp_8/s1600/WhatsApp+Image+2020-05-29+at+15.01.49.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="644" data-original-width="1024" height="201" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqVGSftrozGbUeKAEEzl06TbRw9eEjVYo7-r1cKqA_HMbB0r1Udx9wBoCUEmg7YBfK81XTAtCg4AYLIVSqk470nlUTSTIPyDMbYC8QHF87AunlP1KXo10_kvn-y2qg3b5hJK560zgQp_8/s320/WhatsApp+Image+2020-05-29+at+15.01.49.jpeg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0in 0in 0.0001pt;">
<span style="font-family: "arial"; font-size: 11pt; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0in 0in 0.0001pt;">
<span style="font-family: "arial"; font-size: 11pt; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0in 0in 0.0001pt;">
<span style="font-family: "arial"; font-size: 11pt; white-space: pre-wrap;">Estava em Itacoatiara no interior do Amazonas quando ouvi falar de um luthier que queria montar uma escola de luteria em Manaus usando espécies da Amazônia. Fiquei muito intrigado afinal é muito inesperado produzir violões numa cidade com 90% de umidade e ainda usando espécies desconhecidas da Lutheria. Arrumei um jeito de encontrá-lo no dia seguinte. Nos encontramos num pequeno restaurante de beira de estrada próximo de Rio Preto da Erva. </span><br />
<span style="font-family: "arial"; font-size: 11pt; white-space: pre-wrap;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial"; font-size: 11pt; white-space: pre-wrap;">Havia anos Rubens vinha pesquisando o uso de madeiras da Amazônia que coletava em pastos queimados e áreas abandonadas para fazer violões artesanais – a arte da Lutheria. Foi professor de música e Lutheria numa faculdade amazonense, mas queria lidar com os sem oportunidade, com a periferia e resolveu abrir uma escola para crianças e jovens aprenderem o ofício. Estava se instalando bairro do zumbi, na violenta zona leste de Manaus. Precisa de apoio para dar o pontapé inicial na escola, me contou. Sempre me interessei pela interface entre música, e florestas afinal não são poucas as espécies raras utilizada para criar os instrumentos como Ébano para os Clarinetes, Jacarandá da Bahia e Mogno para os violões e claro o Pau Brasil para os arcos de violino. Eu contei do trabalho que fazíamos para promover o manejo sustentável da floresta e ele imediatamente associou as duas ideias – “excelente, daqui pra frente vamos usar madeiras certificadas”.</span><br />
<span style="font-family: "arial"; font-size: 11pt; white-space: pre-wrap;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial"; font-size: 11pt; white-space: pre-wrap;">Eu perguntei se o instrumento era bom mesmo e sua resposta foi me entregar uma caixa com um de seus violões e emendar: “você está indo para São Paulo né? Leva este Rubens Gomes e teste. Se não for bom eu faço outro até ficar bom”.</span><br />
<span style="font-family: "arial"; font-size: 11pt; white-space: pre-wrap;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial"; font-size: 11pt; white-space: pre-wrap;">Uma semana depois fui a Rio encontrar o amigo Perfeito Fortuna. Levamos o violão para Turíbio Santos e o Paulinho da Viola avaliarem. Ficaram encantados com o fato de ter nas mãos um instrumento tão bom vindo de um luthier desconhecido da Amazônia e com madeiras que nunca tinham visto. Voltei a Manaus e meses depois nascia a Oficina Escola de Lutheria da Amazônia na sala da casa do Rubens e atendendo jovens da periferia de Manaus. </span><br />
<span style="font-family: "arial"; font-size: 11pt; white-space: pre-wrap;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial"; font-size: 11pt; white-space: pre-wrap;">Rubão era essa pessoa marcante que todos lembrar como e onde o conheceram. </span><br />
<span style="font-family: "arial"; font-size: 11pt; white-space: pre-wrap;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial"; font-size: 11pt; white-space: pre-wrap;">Via a Lutheria como uma arte e ciência capaz de transformar a vida de uma pessoa, uma família, uma comunidade e toda Amazônia. Era capaz de passar horas me explicando como o corte da madeira deveria ser feito para que o som fluísse harmônico ao mesmo tempo que cuidava para que quem aprendesse na escola enxergasse o mundo a sua volta.</span><br />
<span style="font-family: "arial"; font-size: 11pt; white-space: pre-wrap;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial"; font-size: 11pt; white-space: pre-wrap;">Se embrenhava pela floresta e as comunidades para promover o manejo florestal sustentável não só de madeira mas de açaí, castanha, peixe e o que mais houvesse.</span><br />
<span style="font-family: "arial"; font-size: 11pt; white-space: pre-wrap;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial"; font-size: 11pt; white-space: pre-wrap;">Cordial e com um jeito informal nos fazia ficar à vontade mesmo nas conversas mais difíceis. Transitava bem em qualquer situação, conversando com o CEOs das empresas, produtores extrativistas, celebridades, ministros, cientistas e indígenas.</span><br />
<span style="font-family: "arial"; font-size: 11pt; white-space: pre-wrap;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial"; font-size: 11pt; white-space: pre-wrap;">Teimoso, muito teimoso. E não tinha tempo ruim. Tudo tinha um jeito. Brigava com todo mundo quando se tratava de defender a Amazônia mas sempre terminava com um churrasco e alguma ideia para ir a frente.</span><br />
<span style="font-family: "arial"; font-size: 11pt; white-space: pre-wrap;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial"; font-size: 11pt; white-space: pre-wrap;">Em nossos encontros o Açaí está estava sempre presente. Nunca se conformou com minha mistura com mel – Açaí é com peixe e farinha! Dizia resignado.</span><br />
<span style="font-family: "arial"; font-size: 11pt; white-space: pre-wrap;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial"; font-size: 11pt; white-space: pre-wrap;">Músico, luthier, educador e ativista por onde passou Rubens deixou um legado de diálogo e construção para um mundo sustentável. Foi assim no FSC, no Grupo de Trabalho Amazônico (GTA), na Associação do Produtores Florestais de Boa Vista dos Ramos e na Cooperativa Amazonbai do seu Amapá entre tantas outras iniciativas que tiveram o privilégio de contar com o Rubão.</span><br />
<span style="font-family: "arial"; font-size: 11pt; white-space: pre-wrap;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial"; font-size: 11pt; white-space: pre-wrap;">Mesmo acometido de um enfisema que o levaria a um transplante de pulmão em 2018, nunca parou de trabalhar e pensar a Amazônia. </span><br />
<span style="font-family: "arial"; font-size: 11pt; white-space: pre-wrap;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial"; font-size: 11pt; white-space: pre-wrap;">Quando fui visita-lo em Porto Alegre após o transplante sentamos com a Jéssica – a inseparável esposa e companheira de todas as horas – e por horas enquanto comíamos um peixe com Açai (o meu com bastante mel) ele falou dos planos para os próximos 30 anos (afinal o pulmão é novinho, dizia). </span><br />
<span style="font-family: "arial"; font-size: 11pt; white-space: pre-wrap;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial"; font-size: 11pt; white-space: pre-wrap;">Rubão é pra mim e a outra forma de dizer mestre e amigo. </span><br />
<span style="font-family: "arial"; font-size: 11pt; white-space: pre-wrap;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial"; font-size: 11pt; white-space: pre-wrap;">A Amazônia perdeu um guerreiro, o socioambientalismo perdeu uma referência e eu perdi o chão.</span><br />
<span style="font-family: "arial"; font-size: 11pt; white-space: pre-wrap;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial"; font-size: 11pt; white-space: pre-wrap;">Rubão, vou comer um Açai do Bailique com farinha e peixe do jeito que vc sempre insistiu ser o certo.</span><br />
<span style="font-family: "arial"; font-size: 11pt; white-space: pre-wrap;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial"; font-size: 11pt; white-space: pre-wrap;">Vai em paz amigo.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0in 0in 0.0001pt;">
<span id="docs-internal-guid-ffcb8f7a-7fff-f9a5-abf0-76383eadb7c4"></span><br class="Apple-interchange-newline" /></div>
</div>
Tasso Azevedohttp://www.blogger.com/profile/16418323153756145254noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6945142763263252977.post-48590112156755817482020-04-29T09:55:00.000-07:002020-04-29T09:55:04.928-07:00A mistura explosiva: fogo e Covid-19<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQGrD6CoFSzXem5IvTBTm9C29bIiPByk_8Jj_kAhbsP3T8Z-m68POy_LmCEch6KvjbFN_hM_3kvxnP5QxgXM4ZMEVaQVWKAITfduxHBVuuyaQWxdY-aW3uOkhp-dSG4IIvc3_bn3lQJUk/s1600/fumaca-toxica-ap-2-1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="900" data-original-width="1600" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQGrD6CoFSzXem5IvTBTm9C29bIiPByk_8Jj_kAhbsP3T8Z-m68POy_LmCEch6KvjbFN_hM_3kvxnP5QxgXM4ZMEVaQVWKAITfduxHBVuuyaQWxdY-aW3uOkhp-dSG4IIvc3_bn3lQJUk/s400/fumaca-toxica-ap-2-1.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<br />
<div style="color: #454545; font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
Uma tempestade perfeita está se formando na Amazônia, com potencial devastador para a saúde: a mistura da pandemia de Covid-19 com as queimadas.</div>
<div style="color: #454545; font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 14px;">
<br /></div>
<div style="color: #454545; font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
Todos os anos, entre julho e novembro, acontece a temporada de queimadas em grande escala na Amazônia. A fumaça gerada pelas queimadas aumenta de forma crítica os casos de internação e óbitos relacionados a síndromes respiratórias, como mostram os estudos do Observatório de Clima e Saúde da Fundação Oswaldo Cruz. Em 2019, por exemplo, as regiões onde se concentraram as queimadas tiveram quase o dobro do índice de internação de crianças (0-10 anos) com insuficiência pulmonar em relação às regiões sem queimadas.</div>
<div style="color: #454545; font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 14px;">
<br /></div>
<div style="color: #454545; font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
Queimadas naturais são evento raríssimo na Amazônia. Elas são essencialmente resultado da ação humana, decorrente da atividade de desmatamento e limpeza de pasto. O processo de desmatamento tem basicamente três etapas na região: o corte das árvores maiores para serem aproveitadas (isso quando são aproveitadas), seguido do corte raso da vegetação remanescente, e depois de dois meses secando é colocado fogo para reduzir o volume de galhos e troncos.</div>
<div style="color: #454545; font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 14px;">
<br /></div>
<div style="color: #454545; font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
Desde abril de 2019, o desmatamento está acelerando na Amazônia. No primeiro trimestre de 2020, a área desmatada detectada aumentou mais de 50% em relação ao mesmo período de 2019. E, como mostram os dados do MapBiomas Alerta, mais de 95% do desmatamento são ilegais.</div>
<div style="color: #454545; font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 14px;">
<br /></div>
<div style="color: #454545; font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
Alem disso, o embargo e as ações de combate ao fogo na Amazônia entre agosto e outubro tiveram resultado em reduzir as queimadas, mas não tiveram efeito no desmatamento, que continuou crescendo. Com isso, como notou estudo recente em publicação do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, a quantidade de combustível para queima em 2020 está muito acima do que normalmente é esperado para esta época do ano.</div>
<div style="color: #454545; font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 14px;">
<br /></div>
<div style="color: #454545; font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
O período seco na Amazônia está começando e se estende até o final de outubro. Se não for desmontada a máquina de desmatamento e queimadas, o sistema de saúde, que já está saturado, entrará em completo colapso.</div>
<div style="color: #454545; font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 14px;">
<br /></div>
<div style="color: #454545; font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
É preciso agir já e rápido: o Congresso deve rejeitar a MP 910, que altera as regras de regularização fundiária no Brasil e provocou uma corrida a ocupação e desmatamento de terras publicas na Amazônia. O governo federal deve usar os seus poderes para decretar a moratória do desmatamento e do uso do fogo na Amazônia enquanto durar o estado de calamidade pública provocado pela pandemia da Covid-19 e alocar os recursos necessários para que os órgãos de controle fiscalizem o cumprimento da moratória.</div>
<div style="color: #454545; font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 14px;">
<br /></div>
<div style="color: #454545; font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
Se não agirmos rápido, nos restará torcer para a chegada da chuva e da vacina enquanto contamos os corpos da tragédia anunciada.</div>
<div style="color: #454545; font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<br /></div>
<div style="color: #454545; font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<i>Publicada em O Globo em 29.04.2020</i></div>
</div>
Tasso Azevedohttp://www.blogger.com/profile/16418323153756145254noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6945142763263252977.post-31884249194283683222020-03-25T20:57:00.001-07:002020-03-25T20:58:15.981-07:00COVID19 e o Meio Ambiente<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgp6ngbn6ZDXyN47-0CTwmLjVTkFm4TY1rF8uau3CXPac085SPPgUy7KID0lOY7WGFQdb6P62tw3M0BM2P6tOlp2TkNV5cIS-UZdP9DwC8yqDanwj7ydw7xCBpvhdLjBcyCTvx0G-qvzGY/s1600/Poluicao.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1068" data-original-width="1600" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgp6ngbn6ZDXyN47-0CTwmLjVTkFm4TY1rF8uau3CXPac085SPPgUy7KID0lOY7WGFQdb6P62tw3M0BM2P6tOlp2TkNV5cIS-UZdP9DwC8yqDanwj7ydw7xCBpvhdLjBcyCTvx0G-qvzGY/s400/Poluicao.png" width="400" /></a></div>
<br />
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Um dos efeitos inesperados da quarentena imposta em várias regiões do mundo tem sido uma melhora das condições ambientais. Na China e na Europa, houve significativa redução da poluição das regiões industriais onde a quarentena se implantou, a ponto de serem percebidas claramente pelas imagens de satélite. Em Veneza, nos canais sempre opacos e poluídos com óleo dos motores dos barcos já é possível ver a água cristalina e os peixes e aves retornando em poucos dias de fechamento para o transito.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">O período crítico da Covid-19 deve derrubar as emissões globais de gases de efeito estufa, especialmente no setor energético, aos níveis mais baixos desde 2008. Por outro lado, o uso de materiais e embalagens descartáveis está aumentando rapidamente, e declinam os sistemas de coleta e reciclagem de resíduos.</span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 14px;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Alguns destes efeitos são efêmeros e serão revertidos assim que a economia começar a se recuperar. Outros poderão perdurar por mais tempo, como a redução das viagens aéreas de negócios, que serão substituídas em grande medida por videoconferências, que são muito mais econômicas e eficientes.</span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 14px;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Mas a relação de uma pandemia de doença infeciosa como a Covid-19 com o meio ambiente é bem mais intrincada e profunda. Nas últimas décadas, têm aumentando consideravelmente os surtos de doenças infeciosas originadas pela transmissão de animais, especialmente os selvagens. Contribuem para este aumento a rápida concentração da população em áreas urbanas:</span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">- a criação de animais domesticados em grande escala e de forma confinada;</span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">- a rápida degradação e redução dos ecossistemas, forçando animais selvagens a se aproximarem das aglomerações humanas;</span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> - as mudanças climáticas que provocam a migração de animais para novas regiões, carregando patógenos exógenos.</span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 14px;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">A poluição do ar e da água afeta diretamente a resiliência das pessoas em relação às doenças infeciosas. Estudos realizados com a Sars, por exemplo, mostram que pessoas expostas à poluição tinham duas vezes maior probabilidade de morrer do que aquelas vivendo em ambientes com ar limpo.</span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 14px;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">A degradação dos ambientes e mudanças climáticas estão intrinsecamente ligadas à fragilidade e a ao nível de resiliência humana em relação aos surtos de doenças infeciosas. Para enfrentar e reverter esses dois fenômenos existem duas ações objetivas a serem feitas: acabar com a queima de combustíveis fósseis, substituindo-a por fontes renováveis de energia, e acabar com o desmatamento, combinando com reflorestamento a regeneração dos ecossistemas.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Estas duas ações combinadas atacarão mais de 80% das emissões de gases de efeito estufa do planeta, ao mesmo tempo que aumentam o sequestro de carbono, reduzem a poluição dos centros urbanos e promovem a restauração dos ambientes naturais. De quebra, ainda ajudam a recuperar a economia e promover um ambiente mais saudável para todos. </span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Publicado em O Globo - 25.03.2020</span></div>
</div>
Tasso Azevedohttp://www.blogger.com/profile/16418323153756145254noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6945142763263252977.post-35339386158361387332020-03-01T23:10:00.001-08:002020-03-01T23:10:47.497-08:00Caiu a ficha?<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQjhbj4nkA633uoIC4f4RBZIUP8En7zPa4hGJjKqjv3rEuR8BRc7Xjsxu0PYvvymAUx_2htLIsFi9QzGsFISKb9RxOGEDFH7gD-MnoDknd_PBQYHBk4Djpd1vZ7xPvGWhSanZV5UwVoWQ/s1600/DAVOS.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="675" data-original-width="1200" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQjhbj4nkA633uoIC4f4RBZIUP8En7zPa4hGJjKqjv3rEuR8BRc7Xjsxu0PYvvymAUx_2htLIsFi9QzGsFISKb9RxOGEDFH7gD-MnoDknd_PBQYHBk4Djpd1vZ7xPvGWhSanZV5UwVoWQ/s400/DAVOS.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<span style="font-family: "Helvetica Neue";">Parece que a entrada na nova década deu o impulso que faltava para que caísse de vez a ficha dos agentes econômicos globais sobre a necessidade de ação urgente para o enfrentamento das mudanças climáticas globais e a proteção dos recursos naturais.</span><br />
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 14px;">
<br /></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
Em janeiro, Larry Fink, o fundador e principal executivo da BlackRock, a maior gestora de investimento do planeta, com US$ 7,4 trilhões em ativos (mais do que o PIB de toda a América Latina), publicou sua carta anual aos CEOs e investidores, na qual decreta de saída: “As alterações climáticas tornaram-se um fator decisivo nas perspectivas das empresas a longo prazo (...) Muitos enfatizaram o impacto significativo e duradouro que elas terão no crescimento econômico e na prosperidade – um risco que, até agora, os mercados têm sido lentos em refletir. Mas a consciência está mudando muito rapidamente, e acredito que estamos à beira de uma mudança estrutural nas finanças”. Larry aponta que o risco climático irá impactar tanto o nosso mundo tangível como o sistema global que financia o crescimento econômico, e isso fará com que “num futuro próximo – e mais cedo do que muitos preveem – haverá uma realocação significativa de capital”.</div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 14px;">
<br /></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
Pouco dias depois, a agenda de clima e ambiente foi o assunto principal do Fórum Econômico Mundial que acontece anualmente na pequena Davos, nos Alpes Suíços. O que parecia ser uma agenda do futuro aterrissou assustadoramente no presente diante da Austrália em chamas, a pior seca em um século na Índia, as ondas de calor que mataram milhares ao redor do mundo e a aceleração dos eventos climáticos extremos em escala regional, que duplicaram em frequência e intensidade nas últimas duas décadas.</div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 14px;">
<br /></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
Até 2009, temas de sustentabilidade sequer apareciam entre os cinco temas de maior risco para a economia global na pesquisa anualmente feita pelo Fórum Econômico Mundial com CEOs e líderes de todo o mundo. Em 2020, todos os cinco temas de risco eminente estavam relacionados com as mudanças climáticas e meio ambiente, como intensificação de eventos extremos, falha em reduzir emissões, falta de investimento em adaptação e perda de biodiversidade.</div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 14px;">
<br /></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
Em outro front, gigantes globais da economia digital como Google, Amazon e Microsoft anunciaram recentemente metas de descarbonizar toda a sua cadeia de valor, ou seja, tornarem carbono neutro ou negativo (captura mais do que emite) nas próximas duas décadas.</div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 14px;">
<br /></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
Infelizmente, o Brasil, que sempre liderou a agenda climática, tem sido o destaque negativo. Descuidou da agenda de combate ao desmatamento – nossa principal fonte de emissões – e tratou com descaso toda a agenda de sustentabilidade, desfigurando o aparto de controle ambiental e proteção dos recursos naturais do país. É o estranho no ninho, na contramão de onde caminha o mundo. </div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 14px;">
<br /></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
Felizmente, a ficha caiu para boa parte das lideranças do Congresso Nacional, e o governo não terá vida fácil para aprovar novas medidas de descalabro com destruição da maior fonte de riqueza e prosperidade do Brasil, que são seus recursos naturais e culturais.</div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<br /></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
Nunca é demais torcer para que a ficha algum dia caia para o presidente Bolsonaro e seu círculo de poder.</div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<br /></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<i>Publicado em O Globo em 26.02.2020</i></div>
</div>
Tasso Azevedohttp://www.blogger.com/profile/16418323153756145254noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6945142763263252977.post-11197656977091448932019-11-27T07:35:00.001-08:002019-11-27T07:35:16.307-08:00Prenderam o bombeiro<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgvxjQrjHBAHC0F7Lo4GqJV5eT41v6pRQ6YanyhnZks3UE9V4xGasjCh9OFEIBT__2iiEv7JpOzBwuEcndwbXCSzJjyvzfMxEv1Xm5sNdlPuMnW81auF1vJhYVQKNNuBcu3y7ab9rBEkEU/s1600/Brigada+incendio2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="450" data-original-width="800" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgvxjQrjHBAHC0F7Lo4GqJV5eT41v6pRQ6YanyhnZks3UE9V4xGasjCh9OFEIBT__2iiEv7JpOzBwuEcndwbXCSzJjyvzfMxEv1Xm5sNdlPuMnW81auF1vJhYVQKNNuBcu3y7ab9rBEkEU/s400/Brigada+incendio2.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="color: #454545; font-family: "Helvetica Neue"; font-size: 12px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<br /></div>
<div style="color: #454545; font-family: "Helvetica Neue"; font-size: 12px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<br /></div>
<div style="color: #454545; font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; text-align: left;">
Há 20 anos o Projeto Saúde & Alegria, em Santarém, leva saúde e apoio a comunidades no oeste do Pará. Fundada pelo médico Eugenio Scanavino e seu irmão Caetano, a ONG faz um trabalho de base que atende centenas de famílias ribeirinhas e extrativistas e inclui um barco-hospital — que foi pioneiro neste tipo de atendimento —, projetos de produção agroextrativista, estímulo e capacitação para o cooperativismo, educação e, nos últimos dez anos, a prevenção e controle das queimadas.</div>
<div style="color: #454545; font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 14px; text-align: left;">
<br /></div>
<div style="color: #454545; font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; text-align: left;">
Receberam inúmeros prêmios, como o das 100 melhores ONGs do Brasil, e são referência no mundo todo. São também muito combativos. Lutam intensamente pelo direito das populações tradicionais e a proteção da floresta. Este ano, com o aumento do desmatamento e do fogo na região, o Saúde & Alegria, juntamente com várias organizações da sociedade civil, denunciou os grileiros e os loteamentos que ameaçavam as áreas de proteção ambiental do balneário de Alter do Chão. Apoiou a formação de brigadistas com apoio do Corpo de Bombeiros. Um grupo de voluntários criou a Brigada de Alter do Chão, incluindo um técnico que trabalha no Saúde & Alegria.</div>
<div style="color: #454545; font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 14px; text-align: left;">
<br /></div>
<div style="color: #454545; font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; text-align: left;">
Os integrantes da Brigada fizeram denúncias, levaram informações para os investigadores — inclusive imagens das queimadas — e correram atrás de recursos para viabilizar o combate aos incêndios, enquanto o governo cortava orçamento dos programas de controle do fogo.</div>
<div style="color: #454545; font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 14px; text-align: left;">
<br /></div>
<div style="color: #454545; font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; text-align: left;">
Na manhã desta terça-feira, a Polícia Civil do Pará prendeu temporariamente quatro voluntários da Brigada de Alter do Chão, acusando-os de provocar os incêndios para obter vantagem financeira, e de quebra vasculharam a sede do projeto e apreenderam todos os seus equipamentos e documentos.</div>
<div style="color: #454545; font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 14px; text-align: left;">
<br /></div>
<div style="color: #454545; font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; text-align: left;">
O oeste do Pará — com uma área duas vezes maior que o Estado de São Paulo — é a região campeã de desmatamento no estado que mais desmata no país. Como bem mostrou uma reportagem do “Fantástico” no auge do fogo este ano, existiam apenas meia dúzia de funcionários do Ibama e ICMBio para cuidar da região, sem recursos para fiscalizar o desmatamento e as queimadas. Neste contexto, as brigadas de voluntários se tornam muitas vezes o único recurso disponível para fazer frente aos incêndios.</div>
<div style="color: #454545; font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 14px; text-align: left;">
<br /></div>
<div style="color: #454545; font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; text-align: left;">
É estarrecedor que, em vez de correr atrás dos criminosos que anunciaram em alto e bom som pelo WhatsApp o fogo proposital ao longo da BR-163, a polícia prenda os que atuam como bombeiros e amarre as mãos de uma organização líder na promoção da sustentabilidade na Amazônia. São tempos realmente sombrios.</div>
<div style="color: #454545; font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 14px; text-align: left;">
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
</div>
<div style="color: #454545; font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; text-align: left;">
Publicado em O Glogo em 27.11.2019</div>
</div>
Tasso Azevedohttp://www.blogger.com/profile/16418323153756145254noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6945142763263252977.post-50487388898794564622019-11-07T15:20:00.001-08:002019-11-07T15:20:39.653-08:00Fogo, lama, óleo e esperança<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4pq4MrkhUtXRh2dA7e6AAVLccVvnARYqlg1PYgTfp_JFJrAJnKIgC48oSPH51mK5dpa7nRyU5fO39SSIZlFdDZUBDvxjjMicoIHqOlxUVFhb3E3b3pzusa0ZtlwZJlOVWurheeHP9_3c/s1600/images.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="164" data-original-width="308" height="212" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4pq4MrkhUtXRh2dA7e6AAVLccVvnARYqlg1PYgTfp_JFJrAJnKIgC48oSPH51mK5dpa7nRyU5fO39SSIZlFdDZUBDvxjjMicoIHqOlxUVFhb3E3b3pzusa0ZtlwZJlOVWurheeHP9_3c/s400/images.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<br /></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<br /></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
O Brasil passa em 2019 por uma crise socioambiental inimaginável. Começamos o ano com a tragédia do rompimento da barragem de Brumadinho, com mais de 200 mortos, a aceleração vertiginosa do desmatamento, grilagem, violência e garimpo ilegal na Amazônia, o crescimento exponencial do fogo no Cerrado e Pantanal e o estarrecedor derramamento de óleo que atinge a costa do Nordeste.</div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<br /></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
Não da para colocar estes eventos todos na conta do governo federal. Mas o ambiente criado pelo atual governo não ajuda em nada. Nos últimos dez meses acontece um desmonte das políticas de conservação dos recursos naturais e proteção das comunidades tradicionais.</div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<br /></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
O orçamento dos programas ambientais foi ceifado, o PPCDAm, programa de combate ao desmatamento de maior sucesso e efetividade no mundo, foi descontinuado. O Fundo Amazônia foi enterrado vivo, e mais de US$ 500 milhões devem retornar para os doadores. O programa de conversão de multas ambientais em recuperação florestal com um investimento bilionário na recuperação do Rio São Francisco foi cancelado após todo o processo de chamada publica de projetos ter sido finalizado; e foram cortados drasticamente os espaços de participação social, os comitê de formulação, monitoramento e controle de políticas publicas. Para completar, agora querem taxar a geração distribuída de energia solar e criar incentivos para térmicas a carvão.</div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<br /></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
E não para por ai. O governo federal propôs revisar os limites de todas unidades de conservação para poder excluir áreas ocupadas ilegalmente e entregá-las a uma falsa regularização fundiária, baseada em reconhecimento de posse de grileiros de terras públicas. O presidente afronta a Constituição, se recusando a dar prosseguimento à demarcação das terras indígenas, que é um direito destas populações e um dever do Estado.</div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<br /></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
Esperar uma ação afirmativa pelo meio ambiente e as populações tradicionais vinda do governo federal deixou de ser uma opção realista. O caminho agora é construir iniciativas que deem visibilidade e concretude para um caminho alternativo para superarmos esta fase desoladora.</div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<br /></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
Em outubro, representantes de várias etnias indígenas, comunidades quilombolas, extrativistas, ribeirinhos, ONGs de apoio e empresas privadas se reuniram em Alter do Chão para discutir os próximos passos da iniciativa Origens Brasil, que procura promover os produtos gerados pelas comunidades que produzem protegendo a floresta. Mais de 30 etnias e 40 cooperativas e grupos comunitários em quatro territórios na Amazônia (Xingu, Calha Norte, Solimões e Rio Negro) que constroem relações transparentes e duradouras com empresas para fazer prosperar não este Brasil da tragédia, mas o Brasil que produz conservando os recursos naturais e protegendo suas populações guardiãs da floresta.</div>
<br />
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<br /></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
Em tempos sombrios, é esse o tipo de iniciativa que mantém a chama da esperança acesa.</div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<br /></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
Publicado em O Globo em 06.11.2019</div>
</div>
Tasso Azevedohttp://www.blogger.com/profile/16418323153756145254noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6945142763263252977.post-54874169360134473182019-09-25T09:13:00.001-07:002019-09-25T09:13:58.139-07:00O cerco ambiental das crianças<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQpc9BLnfDDYQ_aeTs278hom9TA5L2XbHkKQ7G4cg7mbR9jipFSjwpfz_Mfw3HGg9J_QVxaYiWrT0nYU1WwCrOFcqqJZbTOhIPWud2BrNfw9iplNq4kb2izHNCT-qM3JzGyJUk4VCCNIY/s1600/23_09_Greta_thumberg.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="512" data-original-width="768" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQpc9BLnfDDYQ_aeTs278hom9TA5L2XbHkKQ7G4cg7mbR9jipFSjwpfz_Mfw3HGg9J_QVxaYiWrT0nYU1WwCrOFcqqJZbTOhIPWud2BrNfw9iplNq4kb2izHNCT-qM3JzGyJUk4VCCNIY/s400/23_09_Greta_thumberg.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal; margin-bottom: 2px;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal; margin-bottom: 2px;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal; margin-bottom: 2px;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Minha filha nasceu em 2009. Foi um ano de esperança. O desmatamento estava despencando no Brasil, e na preparação para a Cúpula do Clima em Copenhague, países e empresas assumiam compromissos para acabar com desmatamento e reflorestar o mundo.</span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal; margin-bottom: 2px; min-height: 17px;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal; margin-bottom: 2px;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Embora não tenhamos conseguido o acordo em Copenhague, continuamos nossa jornada construindo impulso para o Acordo de Paris em 2015. Minha filha tinha 6 anos e me perguntou sobre o meu trabalho. Expliquei solene que estávamos construindo um acordo para, juntos, todos os países e povos, deixar um planeta melhor para a geração dela.</span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 14px;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal; margin-bottom: 2px;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Clara completou 10 anos e me pergunta: “Por que você viaja tanto, trabalha tanto e, em vez de cair, o desmatamento está subindo? O que vocês, adultos, estão fazendo parece não estar funcionando. O que vão fazer para consertar?”</span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal; margin-bottom: 2px; min-height: 17px;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal; margin-bottom: 2px;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Na última década, mais de 200 grupos econômicos concordaram em trabalhar para reduzir pela metade o desmatamento tropical até 2020 e encerrá-lo em 2030. Centenas de empresas se comprometem a limpar sua cadeia de suprimentos do desmatamento até 2020. Países e empresas se comprometeram a colocar em restauração 150 milhões de hectares de florestas até 2020 e 350 milhões de hectares até 2030.</span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal; margin-bottom: 2px; min-height: 17px;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal; margin-bottom: 2px;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Dez anos depois, não temos muito a comemorar. O progresso nos objetivos de proteção e restauração das florestas são mínimos e, em alguns casos, inexistentes. Depois de cair imensamente entre 2004 e 2012, o desmatamento voltou a crescer no Brasil e explodiu em 2019.</span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal; margin-bottom: 2px; min-height: 17px;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal; margin-bottom: 2px;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Apesar de algumas boas notícias aqui e ali (como o declínio do desmatamento na Indonésia em 2017-2018), nos últimos cinco anos, a derrubada de florestas globalmente cresceu 44% em comparação com os cinco anos anteriores. A degradação das florestas e dos solos segue a mesma tendência.</span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal; margin-bottom: 2px; min-height: 17px;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal; margin-bottom: 2px;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">As promessas de restauração florestal ultrapassam os 170 milhões de hectares, excedendo os 150 milhões estabelecidos para uma meta em 2020, mas ainda a meio caminho da meta para 2030. Mas, quando olhamos para as estimativas do que está sendo efetivamente restaurado, é inferior a 20% do que nos comprometemos a alcançar em 2020.</span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal; margin-bottom: 2px; min-height: 17px;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal; margin-bottom: 2px;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Os dados lançados recentemente pelo MapBiomas mostram que o Brasil tem uma estimativa de mais de 40 milhões de hectares de vegetação natural em regeneração. O que parece ser uma excelente notícia é, na verdade, uma constatação desoladora.</span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal; margin-bottom: 2px;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Mais de 95% desta área não são resultado de um processo virtuoso de restauração. De fato, são áreas degradadas que foram abandonadas.</span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal; margin-bottom: 2px; min-height: 17px;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal; margin-bottom: 2px;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Uma análise dos últimos 30 anos mostra que a cada dez hectares de florestas primárias desmatadas, seis se tornaram pastagens de baixa produtividade, três são abandonadas e apenas um hectare se tornou terra agrícola produtiva ou infraestrutura urbana.</span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal; margin-bottom: 2px; min-height: 17px;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal; margin-bottom: 2px;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Isso não faz nenhum sentido.</span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal; margin-bottom: 2px; min-height: 17px;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal; margin-bottom: 2px;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Algumas iniciativas, como a moratória do desmatamento para soja na Amazônia, iniciada em 2008, provaram ser um sucesso. As plantações de soja em áreas que eram florestas até 2008 são realmente mínimas. Mas, infelizmente, as empresas relutam em expandir o mecanismo para outros biomas (o Cerrado e o Chaco, onde o desmatamento corre solto) ou outras commodities.</span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal; margin-bottom: 2px; min-height: 17px;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal; margin-bottom: 2px;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Estamos falhando em alcançar nossos objetivos para um manejo sustentável no planeta. Não por uma pequena margem. Na verdade, estamos muito longe de nossas metas.</span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal; margin-bottom: 2px; min-height: 17px;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal; margin-bottom: 2px;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">O ponto de ruptura dos ciclos de preservação da vida no planeta pode estar muito próximo e não podemos nos dar ao luxo de atravessá-lo. Não podemos esperar o próximo plano de dez anos para agir.</span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal; margin-bottom: 2px; min-height: 17px;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal; margin-bottom: 2px;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">É hora de limpar as cadeias de suprimentos de qualquer coisa relacionada ao desmatamento, seja legal ou ilegal. É preciso que empresas falem em alto e bom som contra qualquer movimento para minar as áreas protegidas e os direitos indígenas.</span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal; margin-bottom: 2px; min-height: 17px;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal; margin-bottom: 2px;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Para as empresas de hoje, não basta ser do bem. É preciso serem ativistas dos negócios.</span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal; margin-bottom: 2px; min-height: 17px;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<br />
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal; margin-bottom: 2px;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">É o que minha filha diria. É isso que a Greta Thunberg e as crianças do mundo estão gritando conosco. Esse é o legado para o qual vale a pena existir.</span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal; margin-bottom: 2px;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><i><br /></i></span></div>
<div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal; margin-bottom: 2px;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><i>Publicado em O Globo, 25.09.2019</i></span></div>
</div>
Tasso Azevedohttp://www.blogger.com/profile/16418323153756145254noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6945142763263252977.post-20422868624356457762019-09-18T19:24:00.002-07:002019-09-27T21:21:31.644-07:00Brazil has the skill to stop the Amazon first. It lacks the will<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9kUZcGs3HVhHahbHPzgqIajpy4_k1D_ycrI199XqBl8HdeCXLBUnKu1FJjfVyJTff1E-8TOGguVdp_J7jretrWwq2FK34uNlLMV4QnfNCw0-bmB2pT6KUXTRq9iUlKVWabs7oyju5wJg/s1600/11113333.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="579" data-original-width="840" height="275" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9kUZcGs3HVhHahbHPzgqIajpy4_k1D_ycrI199XqBl8HdeCXLBUnKu1FJjfVyJTff1E-8TOGguVdp_J7jretrWwq2FK34uNlLMV4QnfNCw0-bmB2pT6KUXTRq9iUlKVWabs7oyju5wJg/s400/11113333.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<span style="caret-color: rgb(34, 34, 34); color: #222222; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">As heads of state prepare to make bold statements about climate change and sustainable development at the upcoming UN General Assembly here in New York, the Amazon region continues to burn. Satellite imagery pinpoints thousands of new fire alerts each week. NASA and the Brazilian Space Agency have warned that the levels of clearing and burning is far higher than in recent years. Politicians are bickering over who is responsible and what needs to be done.</span><br />
<span style="caret-color: rgb(34, 34, 34); color: #222222; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="caret-color: rgb(34, 34, 34); color: #222222; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Last week, leaders of the nine countries that share responsibility for the Amazon territory, met in the town of Leticia, Colombia, and issued a statement reaffirming their sovereignty over the region and pledging to do a better job. It as a tepid declaration, but it represented a significant improvement on previous statements from some of those leaders—including the current presidents of Brazil and Bolivia, who had previously claimed that there is nothing to be concerned about. Days ago, a group of prominent U.S. Senators, including presidential hopefuls, called for a halt to trade talks with Brazil if its government doesn't improve its rainforest protection.</span><br />
<span style="caret-color: rgb(34, 34, 34); color: #222222; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="caret-color: rgb(34, 34, 34); color: #222222; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">For those of us who have worked in the region for decades, the most frustrating aspect of this political display is that Brazil already knows exactly how to protect the Amazon rainforest. In fact, Brazil is the only tropical country that successfully reduced loss of tropical forests on a huge scale, beginning in the mid-2000s.</span><br />
<span style="caret-color: rgb(34, 34, 34); color: #222222; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="caret-color: rgb(34, 34, 34); color: #222222; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">The most urgent need is for the Brazilian government to revive its successful program that had combined daily analysis with its own satellite network to spot illegal clearing (estimated by MapBiomas to be over 90 percent of all clearings) and fires with effective enforcement on the ground. In the years following 2005, Brazil managed to reduce forest clearing in the Amazon by an astounding 70 to 80 percent. In contrast, the current government has defunded this work and weakened enforcement. Now is the time to display renewed leadership in this critical area and even help its neighbors by sharing lessons, capacity, and technology.</span><br />
<span style="caret-color: rgb(34, 34, 34); color: #222222; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="caret-color: rgb(34, 34, 34); color: #222222; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Second, we know that protecting Indigenous peoples' territories and the lands of traditional communities, such as rubber tappers and Brazil nut harvesters, is a great way to conserve rainforests. It's also consistent with international human rights law and the wishes of these vulnerable communities. Some Amazonian Indigenous communities have intentionally chosen to completely avoid direct contact with non-Indigenous people. These communities are threatened by the expansion of road building, logging, and farming. In recent decades, Brazil, Colombia, Ecuador, and other countries in the region have made great strides in expanding recognition and protection of those who depend on the forest and this needs to continue. The reversal of this attitude by the current Brazilian government is nothing less than a direct attack on the lives and livelihoods of these communities. Some have likened this to incitement of genocide.</span><br />
<span style="caret-color: rgb(34, 34, 34); color: #222222; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="caret-color: rgb(34, 34, 34); color: #222222; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">The third, scientifically proven solution for rainforest conservation is careful and profitable use of the forest by companies and communities alike. The Amazon boasts an incredible wealth of natural products—not surprisingly, since it is home to more species of animals and plants than anywhere else on Earth. The responsible harvest of fruits, oils, nuts, fish, medicines, fibers, and even wood from low intensity logging—along with ecotourism—are all compatible with forest protection and can support dignified livelihoods that provide additional incentives to protect the ecosystem.</span><br />
<span style="caret-color: rgb(34, 34, 34); color: #222222; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="caret-color: rgb(34, 34, 34); color: #222222; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Finally, there is a vital role for governments and businesses to play beyond Brazil. Last week H&M, the second largest fashion retailer globally, committed to cease buying leather altogether from Brazil, following other major brands, including North Face. Such boycotts are not ideal since they undermine those working legally and without deforestation both in the Amazon as well as other parts of the country. Any company that knows or suspects its supply chain may include products that may be contributing to forest loss and fires in the Amazon region should immediately engage suppliers to guarantee traceability that ensures this is not the case. If they cannot, then the boycott of those suppliers is justified and a powerful statement. Pension funds and investors should do the same, as some Swedish and Norwegian groups have already done.</span><br />
<span style="caret-color: rgb(34, 34, 34); color: #222222; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="caret-color: rgb(34, 34, 34); color: #222222; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Foreign governments have been longtime partners with Brazil, Colombia, Peru and other countries in the region, helping to finance efforts to better manage the Amazon. Wealthy nations must greatly increase their support for Amazon conservation, given the global importance of the region in regulating climate and weather patterns. The G7's offer of $22 million is beyond meager in comparison to the $945 million in donations to restore the Notre Dame cathedral after it burned. Brazil and other governments should welcome this partnership and well-intended offer of support, rather than tout conspiracy theories that there is a global plot to take control of the Amazon; besides, more than enough land has already been cleared to support massive expansion and intensification of its agricultural output for decades to come.</span><br />
<span style="caret-color: rgb(34, 34, 34); color: #222222; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="caret-color: rgb(34, 34, 34); color: #222222; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">While we welcome the UN's important deliberations later this month, the time for speechmaking is long gone. It's time for action. Governments and companies, and their expert advisors and investors, should heed the outcry over in Brazil and around the world over the destruction of the Amazon and lead the way to a boldly hopeful climate future.</span><br />
<br />
<em style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px none; box-sizing: border-box; caret-color: rgb(34, 34, 34); color: #222222; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; list-style: none outside none; margin: 0px; outline: none 0px; padding: 0px;">Tasso Azevedo is the former Chief of the Brazilian Forest Service and coordinator of MapBiomas. </em><br />
<em style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px none; box-sizing: border-box; caret-color: rgb(34, 34, 34); color: #222222; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; list-style: none outside none; margin: 0px; outline: none 0px; padding: 0px;"><br /></em>
<em style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px none; box-sizing: border-box; caret-color: rgb(34, 34, 34); color: #222222; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; list-style: none outside none; margin: 0px; outline: none 0px; padding: 0px;">Nigel Sizer is Chief Program Officer with Rainforest Alliance.</em><br />
<em style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px none; box-sizing: border-box; caret-color: rgb(34, 34, 34); color: #222222; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; list-style: none outside none; margin: 0px; outline: none 0px; padding: 0px;"><br /></em>
<em style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px none; box-sizing: border-box; caret-color: rgb(34, 34, 34); color: #222222; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; list-style: none outside none; margin: 0px; outline: none 0px; padding: 0px;">Published in Newsweek Magazine 18.09.2019</em></div>
Tasso Azevedohttp://www.blogger.com/profile/16418323153756145254noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6945142763263252977.post-54081786300004084332019-08-29T16:13:00.002-07:002019-09-27T21:22:19.729-07:00O pior do fogo pode ainda esta por vir<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhYG0y1PqrD5z6Gf3J7YwKYGWQKZqPLVaQuKh4yoQ91AX-ybCYYVPaKetnXxqDFWNGIUVTOJVecbr3h5-wDw7R_X5ligiX56mVwZeLPkaM1Y5rZceNbZBYcb6pDbhuinp2gZxE3zCGc8X4/s1600/14413870.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="423" data-original-width="750" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhYG0y1PqrD5z6Gf3J7YwKYGWQKZqPLVaQuKh4yoQ91AX-ybCYYVPaKetnXxqDFWNGIUVTOJVecbr3h5-wDw7R_X5ligiX56mVwZeLPkaM1Y5rZceNbZBYcb6pDbhuinp2gZxE3zCGc8X4/s400/14413870.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<br />
A quantidade de incêndios na Amazônia entre os meses de janeiro e agosto cresceu mais de 80% em 2019, quando comparada com 2018. Houve anos piores, mas ainda estamos no início da estação do fogo, e os próximos meses são de alto risco.<br />
<br />
Ao cruzar os dados, observa-se uma enorme sobreposição entre as áreas de alertas de desmatamento e as áreas de focos de calor (fogo) detectados por satélite. O fogo de fumaça densa e alta é típico de queima de floresta. Não se trata de uma simples limpeza de pasto, em geral caracterizada por uma fumaça mais rala e rasteira.<br />
<br />
Os incêndios florestais dependem essencialmente de dois fatores: combustível e ignição. A floresta derrubada quando seca é o combustível, e a ignição em estação seca é quase sempre uma ação antrópica. Não é acidente.<br />
<br />
É parte da dinâmica do desmatamento em regiões tropicais. Primeiro, se põem abaixo as grandes árvores; depois passa o correntão para derrubar a vegetação mais baixa; e depois de algumas semanas secando, ateia-se fogo a fim de terminar o serviço.<br />
<br />
A floresta que queima agora foi derrubada em abril, maio e junho. O que veio abaixo em julho e agosto vai queimar em setembro e outubro. Como a área detectada de desmatamento cresceu muito em julho (278%) e agosto (118% até o dia 23), o pior do fogo ainda está por vir.<br />
<br />
É fundamental reduzirmos o combustível e evitarmos a todo custo novas ignições. É preciso que se determine a moratória do uso do fogo na Amazônia, no Cerrado e no Pantanal até o final da estação seca, ou seja, pelo menos até o final de outubro. Junto com esta medida, é essencial uma campanha ostensiva de comunicação, nos moldes das campanhas para eliminar os focos de reprodução do mosquito da dengue, para restringir o uso do fogo como prática agrícola.<br />
<br />
Por outro lado, é urgente uma ação de força com o objetivo de estancar o desmatamento que está acelerando. Mais de 90% do desmatamento são ilegais, e muitas vezes estão ligados às máfias de roubo de madeira, ao garimpo e à grilagem de terras. Esses grupos criminosos são alimentados pela impunidade.<br />
<br />
São necessárias ações exemplares de fiscalização. Primeiro, nas áreas protegidas como Unidades de Conservação e Terras Indígenas, focando nos garimpos e nas áreas recentemente desmatadas, com apreensão de máquinas e equipamentos e, se necessário, sua inutilização.<br />
<br />
E em segundo lugar, é necessário promover o imediato embargo de todas as áreas do Cadastro Ambiental Rural com desmatamento ilegal — começando por aquelas identificadas nos alertas do Sistema de Detecção de Desmatamentos em Tempo Real (Deter) e com laudos completos já detalhados pelo MapBiomas Alerta.<br />
<br />
A fim de lidar com a pressão da grilagem, deve-se estabelecer a distinção para uso sustentável das Terras Públicas Não Destinadas na Amazônia. Para estimular atividades sustentáveis, é preciso restringir o crédito rural às atividades que não envolvam desmatamento, combater os madeireiros que atuam ilegalmente e ampliar significativamente as áreas de concessão florestal.<br />
<br />
O que vivemos é uma crise real, que pode se transformar numa tragédia anunciada com incêndios muito maiores que os atuais se não forem freados imediatamente. É hora de juntar forças, e não dividir.<br />
<br />
Nós temos que aprender com a história. Todos os momentos de sucesso em derrubar as taxas de desmatamento — como entre 2004 e 2012 — foram forjados em um ambiente de ações compartilhadas entre os governos federal e estaduais, organizações não governamentais, o setor empresarial, cientistas e a comunidade local. Falta-nos hoje liderança para agregar. Para desagregar, está sobrando.<br />
<br />
Publicado em O Globo, em 27.08.2019</div>
Tasso Azevedohttp://www.blogger.com/profile/16418323153756145254noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6945142763263252977.post-26662643632749271122019-07-31T11:41:00.001-07:002019-07-31T11:51:24.863-07:00A casa está em chamas<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgEHBAHarQKsJ3L-P1FpSpJLzDrg8hxJWmI75sR9puLJ0GUJwksAPUOtMqEnApVPTOYjTxQyiM0-pCBgioyFewirVzyCRvaHx5b2Q9-9VIP0lXPYvE9RFFpqMQao-xRWR857C0g7BpoSpA/s1600/290344+-+IMG-20150430-WA0003.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="682" data-original-width="1024" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgEHBAHarQKsJ3L-P1FpSpJLzDrg8hxJWmI75sR9puLJ0GUJwksAPUOtMqEnApVPTOYjTxQyiM0-pCBgioyFewirVzyCRvaHx5b2Q9-9VIP0lXPYvE9RFFpqMQao-xRWR857C0g7BpoSpA/s400/290344+-+IMG-20150430-WA0003.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<br />
O desmatamento na Amazônia disparou e saiu completamente do controle em julho. Os dados do Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter/Inpe) mostram 1.864 quilômetros quadrados desmatados até 26 de julho, mais de três vezes a área tombada em todo o mês de julho de 2018. É a maior área detectada em um mês desde a criação do Deter, em 2004. Comparando o primeiro semestre deste ano com o mesmo período em 2018, há uma tendência de crescimento de mais de 50% no desmatamento em 2019.<br />
<br />
A prática tem crescido especialmente em terras indígenas e Unidades de Conservação, que estão sendo invadidas por milhares de grileiros, garimpeiros e desmatadores em geral. Em uma única área em Altamira (PA), dentro da Área de Proteção Ambiental do Xingu, foi detectada uma derrubada de 32 quilômetros de floresta entre 5 de maio e 20 julho. Isso equivale a mais de dois milhões de árvores tombadas em 70 dias para virar pasto num espaço quase do tamanho do Parque Nacional da Tijuca (39 quilômetros quadrados). Nesse período, foram emitidos mais de 20 alertas do Inpe sobre o desmatamento em curso.<br />
<br />
O levantamento do MapBiomas — iniciativa multinstitucional de validação dos alertas de desmatamento — indica que mais de 90% do desmatamento acontecendo na Amazônia são ilegais.<br />
<br />
Era de se esperar que o governo estivesse agindo de forma decisiva para combater o desmatamento, mas, em vez disso, o presidente e ministros gastam seu tempo reclamando do destaque dado ao tema na imprensa internacional e desacreditam o portador da notícia. Colocam em dúvida, sem nenhuma base factual, o instituto que conduz desde os anos 80 o mais longo e completo programa de monitoramento do desmatamento do planeta.<br />
<br />
Lideranças do setor do setor rural assistem à tragédia reclamando do tratamento dado ao Brasil na imprensa internacional, com receio de que isso atrapalhe os negócios, feche mercados e dificulte a implementação do acordo comercial do Mercosul com a União Europeia.<br />
<br />
É preciso que estas lideranças saiam da zona de conforto, parem de assistir à cena passivelmente e deem um recado claro ao poder publico: é inaceitável a invasão de terras indígenas e unidades de conservação (assim como consideram inaceitável a invasão de propriedade privada) e toda forma de desmatamento e exploração ilegal da vegetação nativa. O poder público tem que fazer uso imediato de todos instrumentos e poderes conferidos pela Constituição para cessar imediatamente estas práticas e restaurar a ordem no Brasil.<br />
<br />
A casa está pegando fogo. Não é só a comida que queimou no fogão que a gente joga fora e faz outra. É o apartamento que está em chamas e colocando em risco todo o condomínio. Tem que que acionar o síndico, o zelador, ligar para o bombeiro e agir já! Daqui a pouco pode ser tarde demais.<br />
<br />
<i>Publicado em O Globo 31.07.2019</i></div>
Tasso Azevedohttp://www.blogger.com/profile/16418323153756145254noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6945142763263252977.post-32683017318701634952019-06-27T22:44:00.001-07:002019-06-27T22:45:59.630-07:00O Pior Inimigo do Agronegócio<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiUHxm54mx9mAVw_JS8WujD8C5ECJ-D-B4ZwtBESFHHXIKlXM5SJY8leNnojPGF01N7Vr5vk6D2jso97QdHF6pVo7YzmPwU7qta0EnT_9K3edEbZiMuiF3SymbGBiLMwU75lNn99BLGvbE/s1600/Maca.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="364" data-original-width="537" height="270" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiUHxm54mx9mAVw_JS8WujD8C5ECJ-D-B4ZwtBESFHHXIKlXM5SJY8leNnojPGF01N7Vr5vk6D2jso97QdHF6pVo7YzmPwU7qta0EnT_9K3edEbZiMuiF3SymbGBiLMwU75lNn99BLGvbE/s400/Maca.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="font-stretch: normal; line-height: normal;">
<br /></div>
<div style="font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Nada menos do que 95% dos alertas de desmatamentos nos primeiros três meses de 2019 no Brasil aconteceram em áreas onde não havia autorização, e 40% aconteceram em áreas que deveriam estar protegidas de qualquer tipo de desmatamento ou degradação.</span></div>
<div style="font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 14px;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Estes são os dados do projeto MapBiomas Alerta, que valida com imagens de alta resolução e gera laudos completos para cada desmatamento detectado em todo o Brasil pelos sistemas de alertas em operação como Deter/Inpe, SAD/Imazon ou Glad. Foram validados 4.755 alertas cobrindo mais de 89 mil hectares que se espalham por todos os biomas e todos os estados brasileiros. Mais de 3.500 propriedades rurais foram afetadas com desmatamento.</span></div>
<div style="font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 14px;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">O Brasil tem mais de cinco milhões de propriedades registradas no Cadastro Ambiental Rural (CAR), e a fração que está desmatando em pleno 2019 representa menos de 0,2% do total de propriedades. Ou seja, o desmatamento é coisa da minoria, mas o estrago é para todos.</span></div>
<div style="font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 14px;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">É estarrecedor o grau de ilegalidade verificado no desmatamento no Brasil. O caminho para acabar com essa praga passa necessariamente por garantir que aquele desmata ilegalmente seja exemplarmente punido e repare – em campo – o dano causado. Esta posição tem sido defendida não só por ambientalistas, mas também por coletivos multissetoriais como a Coalizão Clima, Floresta e Agricultura e associações de classe empresariais como Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) e Industria Brasileira de Árvores (IBA).</span></div>
<div style="font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 14px;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Mas tem gente querendo cortar o caminho aplicando uma verdadeira pelada florestal. Em vez de se adequar à lei, querem mudar o Código Florestal para acabar com a Reserva Legal (área mínima a ser protegida nas propriedades rurais) e com o licenciamento ambiental para autorização de desmatamento e rever e reduzir as Unidades de Conservação e Terras Indígenas.</span></div>
<div style="font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 14px;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Com uma canetada, querem jogar o Brasil no centro do atraso civilizatório, com consequências não só para a disponibilidade de serviços ambientais (exemplo, disponibilidade de água, polinização e patrimônio genético) mas também para o acesso ao mercado internacional cada vez mais comprometido para o fim do desmatamento das cadeias de produção globais.</span></div>
<div style="font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 14px;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Esta gente que propõe tais desfigurações da legislação ambiental representa as forças mais atrasadas do agronegócio brasileiro – aquele meno de 1% que quer ver anistiado o seu desmatamento ilegal. Durante anos, uma boa parte do restante do agronegócio se deixou representar por estas forças retrógradas e parecem agora estar despertando. Essa minoria retrógrada não pode destruir a imagem e a base dos recursos naturais fundamentais para manter e fomentar uma agropecuária pujante e sustentável. Se o fizerem, se tornarão os piores inimigos do agronegócio e do meio ambiente no Brasil.</span></div>
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Publicado em O Globo em 27.06.2019</span></div>
Tasso Azevedohttp://www.blogger.com/profile/16418323153756145254noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6945142763263252977.post-10969696964535371892019-05-29T04:45:00.001-07:002019-05-29T04:45:13.518-07:00Fundo Amazonia: time que esta ganhando<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCAMcOQxGLfCUGVFMzNOUs9Q2jmdRwzmX06gJnOzUgRY66swcZhXiLJq2yW6n8KD7nr7JwiX63ZeLezyKT7pqgmwZXsLjhyphenhyphengBJmceEfxYMsPVtL6T6lu-P4Ggztj58brGvRPsbODurfSI/s1600/Fundo+Amazonia.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="414" data-original-width="700" height="236" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCAMcOQxGLfCUGVFMzNOUs9Q2jmdRwzmX06gJnOzUgRY66swcZhXiLJq2yW6n8KD7nr7JwiX63ZeLezyKT7pqgmwZXsLjhyphenhyphengBJmceEfxYMsPVtL6T6lu-P4Ggztj58brGvRPsbODurfSI/s400/Fundo+Amazonia.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-size: 12px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<br /></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
O ciclo de preparação e aprovação de projetos de cooperação internacional leva anos até que os recursos cheguem, e o projeto possa ser implementado e dar resultados.</div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<br /></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
Foi observando uma gôndola de tomates orgânicos no supermercado em meados de 2007 que tive o estalo. Pagamos um preço mais alto por aquele tomate porque ele já era certificado como orgânico, e não porque havia uma promessa de sê-lo no futuro. O valor que pago a mais poderá ser usado como o produtor decidir, mas este saberá que se da próxima vez não tiver produto certificado, não receberá o prêmio.</div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<br /></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
Desenhamos então em algumas semanas a proposta de um fundo que receberia recursos proporcionais à redução de emissões de carbono pelo desmatamento na Amazônia Brasileira. Assim foi criado o Fundo Amazônia. O mecanismo é simples, mas robusto. O Inpe mede o desmatamento anual, e os dados são submetidos a um comitê científico que avalia quanto houve de redução de emissões comparado com a média dos dez anos anteriores e autoriza a captação doações na proporção de US$ 5 por tonelada de emissões carbono efetivamente reduzida.</div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<br /></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
A redução do desmatamento é resultado de ações de inúmeros atores na esfera pública, privada e do terceiro setor. Por isso, o Amazônia foi criado como um fundo privado de interesse público gerido pelo BNDES. Os recursos não pertencem ao governo.</div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<br /></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
Para definir as regras e prioridades de destinação dos recursos, foi estabelecido o Comitê Orientador do Fundo Amazônia (Cofa), com 23 membros, incluindo representantes de oito ministérios, dos nove governos dos estados da Amazônia, dois do setor privado, um da academia, um dos trabalhadores rurais, um das populações indígenas e um do Fórum Brasileiro de ONGs.</div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<br /></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
O Cofa não avalia ou aprova projetos para evitar qualquer conflito de interesses. Para acessar os recursos, qualquer organização — seja de governo, academia, empresas e ONGs — tem que apresentar projeto. O ciclo de aprovação e gestão é feito pelo BNDES e auditado de forma independente tanto pelo conteúdo e impacto quanto nos aspetos financeiros e contábeis.</div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<br /></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
As regras do Fundo Amazônia foram propostas integralmente pelo Brasil, e foi com base nelas que foram assinados os contratos de doação da Noruega e Alemanha. Os doadores aportam os recursos e não dão palpite sobre os projetos e iniciativas a serem apoiadas desde que as regras e a governança acordada sejam preservadas.</div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
Em dez anos, o Fundo recebeu mais de R$ 3 bilhões e viabilizou projetos de governo (dois terços dos recursos) e sociedade civil que tornaram possíveis verdadeiras revoluções, como a implementação do Cadastro Ambiental Rural e o Programa Origens Brasil — só para citar dois.</div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<br /></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
O Amazônia se tornou o maior fundo de proteção de florestas e a maior iniciativa de Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação do planeta, tendo inspirado a criação de mecanismos similares em países como Indonésia, Guiana, Colômbia e Peru.</div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<br /></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
É um time que está ganhando, de goleada, e não tem qualquer motivo para ser desfeito. Mas este não parece ser o entendimento do governo federal. Num movimento despropositado, o Ministério do Meio Ambiente levantou suspeitas sobre a gestão do fundo que se mostraram infundadas. E agora tenta mudar as regras do jogo, desfigurando o Cofa e querendo desviar os recursos para aplicar em indenizações, o que não é permitido nem pelas regras do Fundo nem do BNDES.</div>
<br />
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<br /></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
Ao fazer este movimento brusco, o governo federal pode fazer a sociedade brasileira perder quase R$ 2 bilhões. Não merecemos isso com tamanha crise que vivemos. Alô, Paulo Guedes! Pode isso?</div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<br /></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<i>Publicado em O Globo em 29.05.2019</i></div>
</div>
Tasso Azevedohttp://www.blogger.com/profile/16418323153756145254noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6945142763263252977.post-26917612324324716672019-05-01T19:58:00.003-07:002019-05-01T19:58:59.898-07:00Ameaça ao Ambiente e ao Agronegócio<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9JMQ0R19QjA8HSrfNw3aa9ICBrXdtx60fVXk8uWX3a2IYl6BEJGkhmZRKAjnotll3SRWzu1XWAUiD9KhM36MlUVx0k234amGvE8zore1uO0FL1wthynP3sVsu_Uw_XtzBvZ7BPDApTZ0/s1600/Soja+e+floresta.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="447" data-original-width="1140" height="155" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9JMQ0R19QjA8HSrfNw3aa9ICBrXdtx60fVXk8uWX3a2IYl6BEJGkhmZRKAjnotll3SRWzu1XWAUiD9KhM36MlUVx0k234amGvE8zore1uO0FL1wthynP3sVsu_Uw_XtzBvZ7BPDApTZ0/s400/Soja+e+floresta.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<div style="text-align: right;">
<i style="background-color: white; caret-color: rgb(65, 65, 66); color: #414142; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif;"><span style="font-size: x-small;"><b>Um país que tem ao mesmo tempo a maior biodiversidade e as maiores taxas de desmatamento do planeta não pode se dar ao luxo de desmantelar e enfraquecer seus órgãos de controle</b></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span lang="PT"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
A recente cruzada do governo federal e sua base parlamentar contra toda a estrutura de regulação, fiscalização e conservação ambiental tem potencial de trazer provocar enormes impactos sobre os recursos naturais e as comunidades tradicionais como pode afetar de forma profunda a imagens do agronegócio brasileiro no mercado internacional e até em setores do mercado nacional.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span lang="PT">Num país que tem ao mesmo tempo a maior biodiversidade e a maior reserva de água doce do planeta, e a maior taxa de desmatamento do planeta de homicídios de ativistas ambientais e lideranças de comunidades tradicionais, não pode ser dar ao luxo de desmantelar e enfraquecer seus órgãos de controle como tem sido feito com IBAMA e ICMBio e propor medidas que estimulam o uso da violência como forma de resolver conflitos no campo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span lang="PT">Nas ultimas duas décadas a estrutura ambiental e de direitos humanos brasileira veio sendo fortalecida com o combate ao trabalho escravo, a estruturação de um programa de reforma agrária, a demarcação de terras indígenas, a criação de unidades e o monitoramento e combate ao desmatamento. Como resultado o pais viu os índices de desmatamento reduzirem, o fluxo migratório para os grandes centros urbanos ser revertido e ao mesmo tempo a produção e as exportações do agronegócio tiveram o seu período de maior expansão. Missões brasileiras no exterior podiam dizer com orgulho que estávamos progredindo na agenda socioambiental, produzindo com eficiência e qualidade e abrindo com força os mercados internacionais aos produtos brasileiros.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span lang="PT">A agenda anti-socioambiental da chamada bancada ruralista iniciada ainda no governo Dilma, acelerada no governo Temer chegou ao ápice com o governo de Jair Bolsonaro. Nos primeiros quatro meses de governo além de promover o desmonte das estruturas de proteção social e ambiental no meio rural, investiu para cortas as pontes de alianças com a sociedade civil organizada que ao longo de décadas foram fonte criativa de um sem número de iniciativas de políticas publicas como o próprio Cadastro Ambiental Rural – principal ferramenta do novo Código Florestal.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span lang="PT">Grilagem, invasão de unidades de conservação e terras indígenas, desmatamento e exploração ilegal de madeira estão entre as principais mazelas que atrasam o nosso desenvolvimento rural sustentável. Mas, nem de longe representam o grosso da produção rural brasileira. São uma fração pequena, mas muito barulhenta, que esta empurrando todo o setor para uma o abismo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span lang="PT">É preciso o setor moderno e competitivo do agronegócio brasileiro reagir e tomar as rédeas cobrando do governo menos ideologia e mais racionalidade, menos discurso vazio e mais dialogo e por fim uma agenda comprometida com a sustentabilidade e a implementação do código florestal como esta. Salvar a agenda a socioambiental é essencial para a sobrevivencia do agronegócio competitivo no Brasil.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span lang="PT"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span lang="PT"><i>Publicado em O Globo em 01.05.2019</i></span></div>
<span style="background-color: white; caret-color: rgb(65, 65, 66); color: #414142; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif;"><i><br /></i></span></div>
Tasso Azevedohttp://www.blogger.com/profile/16418323153756145254noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6945142763263252977.post-47404421486782639632019-05-01T14:33:00.000-07:002019-05-01T14:33:17.040-07:00Fatos Florestais: caem mitos que opõem produção à conservação no Brasil<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="344" src="https://www.youtube.com/embed/rM4SktDid2Q" width="459"></iframe><br />
<br />
<br />
<span style="background-color: white; color: #0a0a0a; font-family: "roboto" , "arial" , sans-serif; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">Em formato de conversa entre o engenheiro florestal Tasso Azevedo, do Observatório do Clima, e a atriz Camila Pitanga, o filme Fatos Florestais é uma parceria entre o Observatório do Clima, a Produtora Imaginária e o cineasta Fernando Meirelles, da O2 Filmes. <br />
Em 13 minutos, o vídeo Fatos Florestais expõe dados sobre uso da terra e conservação no Brasil a partir do cruzamento de duas grandes bases públicas de informações: o projeto MapBiomas, que mapeou todas as alterações da cobertura vegetal no país nos últimos 35 anos, e o Atlas da Agropecuária Brasileira, criado pela Esalq-USP e pelo Imaflora, que mapeou a situação fundiária do país inteiro. <br />
Fatos Florestais também recorre a dados da FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação), da Embrapa e do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).<br />
FICHA TÉCNICA<br />
Produção: Fernando Meirelles, Observatório do Clima e Produtora Imaginária<br />
Com: Tasso Azevedo e participação de Camila Pitanga<br />
Direção: Gisela Moreau<br />
Roteiro: Oswaldo Braga de Souza, Claudio Angelo, Tasso Azevedo e Fernando Meirelles<br />
Assistentes de direção: Fred Rahal Mauro e Danila Bustamante<br />
Animação: Marina Quintanilha<br />
Ilustrações: Marina Quintanilha e Gisela Moreau<br />
Câmera: Tiago Laires<br />
Edição: Fred Rahal Mauro e Danila Bustamente<br />
Musica, sound design e finalização de áudio: Quincas Moreira<br />
Assistentes de estúdio: Lucca Carvalho e Heitor Peres<br />
Agradecimentos: O2 Filmes, ISA, Luiz Bolognese, Carlos Rittl e Raul Telles do Vall</span></div>
Tasso Azevedohttp://www.blogger.com/profile/16418323153756145254noreply@blogger.com