Depois de muito hesitar, a presidente Dilma
resolveu participar da Cúpula do Clima convocada pelo secretário- geral do ONU
para elevar o grau de ambição politica dos compromissos para o período
pós-2020, que formarão o novo acordo climático a ser firmado em 2015.
Os sete minutos de fala da presidente Dilma
seguiram o script burocrático e pouco inspirado com que o tema mudanças
climáticas (e sustentabilidade em geral) tem sido tratado no seu governo. Ela ficou
presa ao passado e não articulou uma visão de futuro que se espera de um chefe
de Estado.
É óbvio que devemos nos orgulhar de termos reduzido
o desmatamento da Amazônia em 70% na última década, mas é preciso projetar ir
além, sabendo que ainda somos o país que mais desmata em todo o mundo. A cúpula
era o momento para afirmar novos compromissos substantivos do país, como o fim
da perda de cobertura florestal e/ou a retomada da participação das energias
renováveis na matriz energética.
Mas nossa agenda interna não permite. O
desmatamento parou de cair e nos dois últimos anos voltou a crescer na
Amazônia, Mata Atlântica e Cerrado. A participação das fontes renováveis na
matriz energética caiu de 45% para 41% nos últimos cinco anos e o governo
hipoteca o futuro do país aos investimentos em petróleo.
Embora tenha citado a Marcha do Clima que reuniu
centenas de milhares de pessoas em todo o mundo no ultimo domingo, a presidente
não conseguiu se sintonizar com a demanda das ruas por compromissos claros e
substantivos para o período pós- 2020.
A diferença que faz uma liderança é gritante. Em
2009, quando o mundo se preparava para a Conferência de Clima em Copenhagen, o
presidente Lula assumiu compromisso de reduzir o desmatamento na Amazônia em
80% até 2020, e as metas para redução de emissões totais do Brasil em 36% em
relação à tendência histórica até 2020. Nas semanas seguintes ao anúncio
brasileiro, países- chave como China, Índia, Indonésia e México anunciaram
também metas de redução de
emissões.
Durante a Conferencia de Copenhagen, o presidente
emocionou o mundo ao pedir a palavra para fazer uma apelo para que China e
Estados Unidos destravassem as negociações, inclusive oferecendo colocar
recursos no Fundo Global para o Clima ( proposta de Marina Silva que havia sido
menos prezada por Dilma, então ministra da Casa Civil e pré-candidata a
presidente).
Para além da competência da diplomacia brasileira e
de um ministro de Relações Exteriores que conhece com profundidade o tema, o
Brasil precisa recuperar o protagonismo na agenda climática com a liderança da
Presidência da Republica.
Publicado em O Globo 24/09/2014