Estava lá, na capa do site da NASA, em meio
a imagens de satélite indicando onde estão os focos de incêndios florestais que
devastam o mundo, a imagem chocante da Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros
(GO) ardendo em chamas. Cerda de 20% do parque já foi atingido, uma área
equivalente a 35 mil campos de futebol.
De janeiro a outubro o Monitoramento INPE
contabilizou mais de 200 mil focos de fogo e queimadas no Brasil, o maio numero
desde o inicio do monitoramento a vinte anos atrás. Metade dos focos estão na
Amazônia. A área afetada pode superar os 10 milhões de hectares, ou mais de
duas vezes o estado do Rio de Janeiro.
Na América do Sul, também caminha para
bater o recorde de queimadas de 2004 quando chegaram a 441 mil focos de calor
em um ano. Os incêndios florestais avançam sem trégua nos EUA, Rússia, Canadá, todo
o sul da Europa, África central, Austrália e Indonésia.
Nas ultimas décadas a incidência,
abrangência e intensidade dos incêndios florestais esta aumentando ao redor do
mundo e com ele a perda de vidas de pessoas cercadas pelo fogo, a destruição de
residências, prédios e infraestrutura a além do impacto na biodiversidade e os
problemas de saúde associados a fumaça. Os níveis de poluição do ar medidos na
Amazônia na época de incêndios são piores do que São Paulo.
Por mais que possam ser caraterizados como
desastres naturais (em inglês são chamados de wildfire), o aumento dos incêndios tem grande responsabilidade
humana
No Brasil, o desmatamento – muitas vezes
seguido de queimadas para preparar o solo para plantio – e a exploração
madeireira sem manejo causam a degradação da floresta reduzem a
evapotranspiração da floresta tornando o ambiente mais seco e mais propício ao
fogo. Por outro lado, o desmatamento e as queimadas emitem bilhões de toneladas
de carbono na atmosfera agravando o aquecimento global e por sua vez aumenta o
risco de incêndios.
Na indonésia a conversão de florestas em
solos turfosos com mais de 10 metros de material orgânico no solo para plantio
de dendê propicia incêndios que duram meses e fizeram com que o país emitisse
mais carbono que os EUA em 2016.
No Canadá a morte de milhares de árvores
acontece pela infestação do besouro do pinheiro (Pine Beatle) que se tornou uma
praga com a redução da temperatura no inverno devido as mudanças climáticas. As
arvores mortas são combustíveis para o fogo se alastrar turbinados pelas altas temperaturas.
O ano de 2017 tem dado uma amostra dos
impactos alarmantes que se espera das mudanças climáticas. É urgente nos
prepararmos para enfrentar esta realidade. No Brasil o primeiro passo é zerar
de uma vez por todas o desmatamento e a degradação florestal e promover a
restauração das áreas críticas. Assim reduziremos o combustível para o fogo
(tanto pela redução de emissões como pelo ambiente menos seco) e aumentaremos a
formação de nuvens e as chuvas tão fundamentais para nossa agricultura e nossa
saúde.
Publicado em O Globo, Edição de 25.10.2017