Na ultima semana o
IPCC – painel de cientistas da ONU sobre mudanças climáticas - publicou o
resumo executivo do relatório sobre riscos de eventos extremos e desastres
naturais que será lançado em sua versão completa em fevereiro próximo. O resumo lançado agora é destinado a
formuladores e executores de políticas públicas e em resumo dá o seguinte
alerta: os eventos extremos como tempestades, enchentes e grandes secas vão
aumentar em frequência, intensidade, duração e abrangência. Ou seja,
acontecerão mais vezes, de forma mais intensa e dramática, por mais tempo e
numa área maior do que atualmente.
O relatório também indica que o grau em que estas
mudanças afetaram os países e seus povos depende essencialmente do grau de
vulnerabilidade que, por sua vez, esta diretamente relacionado à sua
localização e, em especial, a preparação para enfrentar estes eventos.
No Brasil os eventos extremos na ultima década
adquiriram um padrão de crescimento jamais visto em qualquer outra época e os
estudos recentes de cenários para alterações climáticas de acordo com
diferentes graus de intensidade de aumento de temperatura apontam para uma
alteração no regime de chuvas com maior intensidade de chuvas em menos dias e
períodos mais prolongados de seca. As consequências destas alterações de
padrões são muitas, além dos desastres com perdas de vida, vários aspectos são
críticos para nossa economia: (i) redução do potencial hidroelétrico instalado
em até 30% pois os reservatórios não foram planejados para esses extremos, (ii)
queda do potencial de produção de 8 das 10 principais culturas agrícolas e
(iii) necessidade de replanejamento de toda infraestrutura de coleta,
tratamento e distribuição de água nos grandes centros urbanos.
Paradoxalmente, o Brasil é um dos países que mais
pode se beneficiar de uma transição para uma economia de baixo carbono que
segure o aumento da temperatura média global por efeito da concentração de
gases de efeito estufa (GEE). Assim interessa ao Brasil lutar não só para
reduzir as emissões de GEE no Brasil mas pressionar para que sejam
estabelecidas metas para redução global de emissões.
Ainda que as emissões reduzam parte das mudanças
climáticas, esta já é irreversível e se intensificará nos próximos anos. Neste
cenário o Brasil tem que se preparar para reduzir a sua vulnerabilidade e
enfrentar os seus efeitos da forma que traga menos prejuízos econômicos,
sociais e ambientais para o país e a população.
Nos três aspectos mencionadas anteriormente, a
função das florestas para reduzir nossa vulnerabilidade é crucial. A proteção
das áreas de preservação permanente ao longo dos rios, nascentes, encostas e
topos de morro é crucial para reduzir os deslizamentos em momentos de excesso
de chuva, regular o fluxo da água contrapondo-se aos efeitos dos períodos de
seca prolongada, reduzir a percolação de
sedimentos para os cursos d’água evitando assoreamento dos rios e nascentes e
alteração da qualidade da água.
Existem no Brasil mais de 20 milhões de hectares de
áreas sensíveis que precisam ser recuperadas para diminuir a nossa
vulnerabilidade às mudanças climáticas além de promover uma enorme captação de
carbono que ajuda a reduzir o balanço de emissões do planeta.
A votação do novo Código Florestal que acontece esta
semana na Comissão de Meio Ambiente do Senado Federal precisa ter em conta esta
realidade. O Projeto aprovado na Câmara opera contra esta realidade e, além
abrir possiblidade de novos desmatamentos nestas áreas sensíveis, estabelece a
consolidação quase irrestrita de todas ocupações em áreas de preservação
permanente deixando de recuperar os mais de 20 milhões de hectares tão
necessários a nossa adaptação aos eventos extremos.
O relatório apresentado nesta segunda-feira pelo Senador
Jorge Viana avançou e corrigiu várias
distorções do projeto da câmara, mas ainda precisa de vários ajustes para
garantir que o Brasil esteja pronto para enfrentar os efeitos das mudanças climáticas.
Publicado no O GLOBO em 24-11-2011