Organofosforado,
piretroide, benzimidazol, metilicarbamato de oxima, dicarboximida,
ditiocarbamato, clorociclodieno e pirimidinil carbinol. Estes são alguns dos
agrotóxicos de uso proibido no Brasil cujos resíduos foram encontrados em 1 de
cada 4 amostras de frutas, legumes e verduras realizada em todos estados brasileiros
em 2010 em estudo publicado pela ANVISA como parte do Programa de Análise de
Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos conduzido pela agência desde 2001.
Se se
somarem a estes dados os residuos de agrotóxicos autorizados, mas em quantidade
superior aos limites de tolerância, quase 30% amostras apresentava
irregularidades e representam uma ameaça a saúde dos consumidores.
Observado
os dados para diferentes culturas, é ainda mais chocante. Se você, assim como
eu, adora pimentão (hábito que herdei de meu pai), a chance de estar comendo um
produto contaminado com estes agroquímicos é de mais de 90%.
Os
agrotóxicos são um dos principais responsáveis por doenças crônicas não
transmissíveis (DCNT) que segundo Nota Técnica da ANVISA podem gerar sintomas como
dores de cabeça, alergia e coceiras até distúrbios do sistema nervoso central
ou câncer.
Segundo
o Ministério da Agricultura entre 2002 e 2011 a produção agrícola cresceu cerca
de 46%. No mesmo período o consumo de fertilizantes nitrogenados cresceu 89% e
de agrotóxicos cerca de 60%. O Brasil é
desde 2008 o maior usuário de agrotóxicos do planeta, quase 20% do mercado
mundial.
O uso
excessivo de agroquímicos não impacta apenas a qualidade dos alimentos, mas tem
consequêcias na contamição dos cursos dágua, do solo e dos trabalhadores
expostos a estes produtos.
Curiosamente,
apesar da gravidade dos resultados da pesquisa anual – com pouca ou nenhuma
evolução ao longo dos anos – a ANVISA limita-se a fazer recomendações sobre
ações que poderiam reduzir a contaminação. Ninguém é responsabilizado por
vender produtos contaminados com agroquímicos proibidos, não licenciados ou
fora dos limites de tolerancia de resíduos. Esta situação seria equivalente a
encontrar 1 em cada 4 produtos de um
comércio com data de validade vencida e não tomar qualquer atitude de
responsabilização. Não faz sentido.
Segundo
o estudo da ANVISA, em apenas 30% das amostras foi possível identificar o
produtor ou associação de produtores responsável pelo produto. Ou seja, a
cadeia de valor não tem sistemas que permitam saber a origem dos alimentos que
eles vendem e tão pouco tem sistemas para aferir a presença de residuso
químicos irregulares destes mesmos alimentos.
É
fundamental que os orgãos de controle, como a ANVISA, exijam dos varejistas a garantia
de que 100% dos produtos estejam livres de contaminação. E, em tempos de responsabilidade
social corporativa em alta, é imperativo que os varejistas se antecipem e
comecem a trabalhar imediatamente na cadeia de fornecimento para garantir que
somente alimentos seguros e saudáveis cheguem as suas prateleiras.
Quero
voltar a olhar para o pimentão como um alimento saudável que faz lembrar os hábitos
de infância e não o risco de contaminação.
Publicado em O Globo em 13/03/2013