"Ninguém embarca em um avião com 5% de chance de não chegar ao destino”. Escutei esse argumento outro dia, de um
comentarista cético, sobre o recente relatório sobre mudanças climáticas
globais, porque, segundo ele, teria apenas 95% de certeza sobre a relação entre
a emissão de gases de efeito estufa e o aquecimento global.
É uma analogia muito distorcida. Na verdade, o
postulado é outro: “Ninguém subiria em um avião que tem 95% de chance de cair”.
O debate sobre Mudanças Climáticas voltou à cena com o lançamento, pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), da primeira parte do 5º Relatório de Avaliação sobre as Mudanças Climáticas Globais. O relatório, um calhamaço de mais de mil páginas, trata da ciência do Clima, ou seja, do que está acontecendo, das causas das mudanças e dos cenários futuros.
A mensagem principal é direta: o Aquecimento Global sem precedentes (pelo menos nos últimos 800 mil anos) é um fato e as Emissões de gases de efeito estufa são a principal causa. As Mudanças Climáticas decorrentes afetam o nível do mar, a temperatura e a acidez dos oceanos, a extensão e a espessura do gelo nos polos e a disponibilidade de água na Terra. Para estancar esse processo, é preciso reduzir drasticamente as Emissões de gases de efeito estufa, sobre pena de chegarmos ao fim do século com aumento médio de temperatura do planeta em até 4,8°C.
Pode não parecer muito, mas, considerando que a temperatura média da superfície terrestre é de cerca de 14°C, um aumento de “apenas” 2°C é o equivalente a 15% mais. Proporcionalmente, corresponderia a um aumento de 5°C no corpo humano. Uma febre bem acima de 40 graus.
Nos oceanos, que absorvem mais calor, a temperatura média sobe menos; portanto, a média sobre os continentes será ainda maior e, com a variabilidade entre diferentes regiões, em alguns locais o aumento pode chegar ao dobro do aumento médio da temperatura do planeta.
O avanço dos modelos climáticos permitiu ao IPCC gerar mapas e análises específicas para as grandes regiões do planeta, e as notícias para o Brasil não são alentadoras, como já havia adiantado o relatório Avaliação Nacional sobre Mudanças Climáticas, publicado recentemente pelo Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas. Em algumas regiões do país, o aumento da temperatura em 2100 poderia chegar próximo de 7°C, no cenário mais crítico, e a redução da precipitação beirar os 30% entre o Norte e o Nordeste.
Os impactos desses cenários serão objeto da segunda parte do relatório, a ser lançado em março de 2014, e as ações necessárias para mitigar as Emissões e evitar os piores cenários entrarão na terceira parte, a ser publicada no mês seguinte. As conclusões dessa que é a mais extensa, completa e profunda revisão do estado da ciência do Clima já produzida deve ser peça fundamental para informar e dar subsídios para que os tomadores de decisão nos setores público e privado estabeleçam ações para mitigar as Emissões e adaptar as nossas atividades, negócios, infraestrutura e todos os aspectos de nossas vidas para as Mudanças Climáticas contratadas para as próximas décadas.
Avanços importantes começam a acontecer em vários cantos do mundo, e o Brasil, que deu importante contribuição para redução das Emissões globais, com a queda do Desmatamento na Amazônia na última década, precisa enfrentar as contradições atuais que aparecem em várias frentes e fazem com que as Emissões de gases de efeito estufa dos demais setores (como agropecuária, energia, processos industriais e resíduos) caminhem no sentido inverso e subam mais que a média global.
A política de subsídio à gasolina e a reintrodução do carvão mineral na matriz energética são exemplos de que o Brasil está reduzindo de forma acentuada a proporção de energias renováveis em sua matriz (caiu de 45% para 42% em três anos), quando a meta era aumentar essa participação para 48% até 2020.
O processo de atualização do Plano Nacional sobre Mudanças do Clima, atualmente em curso, é excelente oportunidade para realinhar nossas políticas públicas à necessidade clara de reduzir Emissões e nos adaptarmos o novo cenário. Infelizmente, a primeira versão dessa atualização, colocada em consulta pública recentemente pela Casa Civil, está muito longe de garantir esse realinhamento. Ainda há muito trabalho pela frente. É preciso colocar a mão na massa já.
O debate sobre Mudanças Climáticas voltou à cena com o lançamento, pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), da primeira parte do 5º Relatório de Avaliação sobre as Mudanças Climáticas Globais. O relatório, um calhamaço de mais de mil páginas, trata da ciência do Clima, ou seja, do que está acontecendo, das causas das mudanças e dos cenários futuros.
A mensagem principal é direta: o Aquecimento Global sem precedentes (pelo menos nos últimos 800 mil anos) é um fato e as Emissões de gases de efeito estufa são a principal causa. As Mudanças Climáticas decorrentes afetam o nível do mar, a temperatura e a acidez dos oceanos, a extensão e a espessura do gelo nos polos e a disponibilidade de água na Terra. Para estancar esse processo, é preciso reduzir drasticamente as Emissões de gases de efeito estufa, sobre pena de chegarmos ao fim do século com aumento médio de temperatura do planeta em até 4,8°C.
Pode não parecer muito, mas, considerando que a temperatura média da superfície terrestre é de cerca de 14°C, um aumento de “apenas” 2°C é o equivalente a 15% mais. Proporcionalmente, corresponderia a um aumento de 5°C no corpo humano. Uma febre bem acima de 40 graus.
Nos oceanos, que absorvem mais calor, a temperatura média sobe menos; portanto, a média sobre os continentes será ainda maior e, com a variabilidade entre diferentes regiões, em alguns locais o aumento pode chegar ao dobro do aumento médio da temperatura do planeta.
O avanço dos modelos climáticos permitiu ao IPCC gerar mapas e análises específicas para as grandes regiões do planeta, e as notícias para o Brasil não são alentadoras, como já havia adiantado o relatório Avaliação Nacional sobre Mudanças Climáticas, publicado recentemente pelo Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas. Em algumas regiões do país, o aumento da temperatura em 2100 poderia chegar próximo de 7°C, no cenário mais crítico, e a redução da precipitação beirar os 30% entre o Norte e o Nordeste.
Os impactos desses cenários serão objeto da segunda parte do relatório, a ser lançado em março de 2014, e as ações necessárias para mitigar as Emissões e evitar os piores cenários entrarão na terceira parte, a ser publicada no mês seguinte. As conclusões dessa que é a mais extensa, completa e profunda revisão do estado da ciência do Clima já produzida deve ser peça fundamental para informar e dar subsídios para que os tomadores de decisão nos setores público e privado estabeleçam ações para mitigar as Emissões e adaptar as nossas atividades, negócios, infraestrutura e todos os aspectos de nossas vidas para as Mudanças Climáticas contratadas para as próximas décadas.
Avanços importantes começam a acontecer em vários cantos do mundo, e o Brasil, que deu importante contribuição para redução das Emissões globais, com a queda do Desmatamento na Amazônia na última década, precisa enfrentar as contradições atuais que aparecem em várias frentes e fazem com que as Emissões de gases de efeito estufa dos demais setores (como agropecuária, energia, processos industriais e resíduos) caminhem no sentido inverso e subam mais que a média global.
A política de subsídio à gasolina e a reintrodução do carvão mineral na matriz energética são exemplos de que o Brasil está reduzindo de forma acentuada a proporção de energias renováveis em sua matriz (caiu de 45% para 42% em três anos), quando a meta era aumentar essa participação para 48% até 2020.
O processo de atualização do Plano Nacional sobre Mudanças do Clima, atualmente em curso, é excelente oportunidade para realinhar nossas políticas públicas à necessidade clara de reduzir Emissões e nos adaptarmos o novo cenário. Infelizmente, a primeira versão dessa atualização, colocada em consulta pública recentemente pela Casa Civil, está muito longe de garantir esse realinhamento. Ainda há muito trabalho pela frente. É preciso colocar a mão na massa já.
Publicado no Correio Brasiliense em 10/10/2013