Desde 1972, quando foi lançado o Landsat, o primeiro satélite de imageamento, houve enorme avanço e aprimoramento dos sensores, aumento da resolução, ampliação da capacidade de processamento e redução do tempo entre imagens consecutivas.
Ainda assim, hoje o acesso a imagens de alta resolução, livres de nuvens e frequentes é caro e disponível para poucas regiões do planeta. Isso torna ainda bastante limitado o uso das imagens para tarefas como encontrar um avião desaparecido em pleno voo, monitorar incêndios e enchentes ou identificar áreas atingidas por desastres naturais.
Mas inovações recentes possibilitarão que, em poucos meses, tenhamos a capacidade de enxergar todo o planeta em alta resolução e quase em tempo real.
A Planet Labs, uma startup fundada por quatro jovens em 2010 na Califórnia, acaba de colocar em órbita a maior constelação de satélites da história. São 28 Doves (pombos em inglês), como foram batizados os microssatélites pouco maiores que uma garrafa PET de dois litros, que atuam em conjunto como uma espécie de scanner da superfície do planeta. Até o fim do ano, serão capazes de produzir e disponibilizar na internet diariamente imagens em alta resolução (3 a 5m) de todos os pontos do planeta. O investimento total para toda a constelação foi uma fração do custo de um satélite tradicional de alta resolução. Mais uma centena destes Doves deve ser lançada até o fim de 2015.
Outra startup do Vale do Silício, a Skybox, trabalha para colocar em órbita uma constelação de satélites capaz de produzir filmes em alta resolução e tempo real de qualquer ponto do planeta.
Já a Google criou um sistema com 20 mil computadores espalhados pelo planeta que processa diariamente milhares de imagens de satélite para construir imagens compostas livres de nuvens.
É certo que o vertiginoso barateamento e a miniaturização dos sensores de imagem, acompanhados do crescimento exponencial da capacidade de processamento, são fundamentais para que estas inovações estejam acontecendo agora, mas o fator mais importante é uma concepção disruptiva que está na base de boa parte das transformações em curso na sociedade global: a criação de conhecimento, produtos e serviços de forma distribuída.
Vários microssatélites operando de forma coordenada podem realizar de maneira mais ágil e simples o que nem o mais complexo dos grandes satélites consegue fazer. Esta é a lógica que impulsiona plataformas de financiamento coletivo, da geração de energia solar distribuída ou de aprendizado colaborativo.
Publicado em O Globo em 28.05.2014