Passada uma das mais inusitadas e
disputadas eleições dos últimos tempos é hora e partir para ação. Na agenda de
sustentabilidade isso significa recuperar o tempo perdido. Os últimos quatro
anos não foram bons para esta agenda, com inúmeros retrocessos, paralisias e
caminhos em círculos. Não é hora de lamentar o passado, mas de apontar para
frente e acertar o rumo.
Ficamos muito tempo vivendo em berço
esplendido vangloriando-nos de um passado de conquistas. Paramos de inovar e os
retrocessos foram se consolidando. É preciso tirar o atraso de quase todas as
agendas socioambientais
Dois conceitos precisam nortear esta
retomada de rumo: constante inovação e a renovação das aspirações e nível de
ambição.
Assim como o montanhista que, ao
conquistar a alta montanha, contempla por alguns minutos, vive o momento e já
na descida almeja a escalada da próxima montanha, assim deve ser com o nível de
ambição com as metas em políticas publicas. É ótimo que tenhamos reduzido
fortemente o desmatamento desde 2004, mas ainda somos o país que mais desmata
no mundo e longe do segundo colocado. É preciso almejar zerar a perda de
cobertura florestal.
Para alcançar metas cada vez mais
ousadas, é fundamental inovar sempre. Os remédios e terapias aplicados para
tratar de um problema de saúde vão sendo alterados conforme os primeiros vão
dando resultado. Quando acertamos o instrumento de política pública e ele tem
efeito, altera a realidade e os mesmos instrumentos tendem a perder a eficácia
e precisam ser substituídos ou aprimorados por novas ideias. Inovar em política
pública é tão importante como em qualquer setor na nova economia.
Como a presidente foi reeleita sem um
plano de governo e com uma agenda enorme no campo da sustentabilidade a ser
desenvolvida, proponho três metas em áreas chaves para inspirar o novo mandato:
1) zerar a perda de cobertura florestal no Brasil; 2) retomar e ampliar a
proporção de energia renovável em nossa matriz energética; e 3) definir metas
de curto, médio e longo prazo para a redução efetiva de emissões de gases de
efeito estufa no Brasil e liderar um novo acordo climático global que assegure
limitar o aumento da temperatura global em 2 graus C.
Muitas outras metas são necessárias em
áreas como gestão de resíduos, recursos hídricos e conservação da
biodiversidade. Mas, a compreensão cada vez mais clara da relação dos grandes
maciços florestais e as mudanças climáticas com o regime de chuvas que
atualmente colocam em risco a geração de energia, a produção de alimentos e o
abastecimento de água possibilitam que a agenda de clima e florestas sirva de
ponto de convergência para um pacto pela sustentabilidade que nos recoloque no
rumo de um futuro mais próspero e justo para o Brasil.
Publicado em O Globo em 29.10.2014