Entrei no táxi em S Paulo e o motorista que aguardava do lado de fora entra, segura o volante e solta: “Pô, tá pelando aqui! Imagina no verão”.
É,
e não é um fenômeno jabuticaba. A temperatura media do planeta foi de 16,6
graus no mês de julho, o que faz deste o mês mais quente já registrado desde
que as medições começaram em 1880. Segundo a Administração Nacional para
Oceanos e Atmosfera dos EUA (NOOA, na sigla em inglês), a temperatura média no
período janeiro-julho indica que este será o ano mais quente já registrado, com
quase 1 grau acima da média do século XX. Se confirmado, nada menos do que 15
dos 16 anos mais quentes desde 1880 terão acontecido neste início de século.
O
aumento da temperatura foi maior no oceano que na superfície terrestre, o que é
explicado pelo fenômeno do El Niño associado ao aumento do acúmulo de radiação
na atmosfera ocasionado pela crescente concentração de gases de efeito estufa
(GEE) na atmosfera.
Os
impactos estão por toda parte, como secas prolongadas nos EUA, Brasil e
Austrália, com perdas recordes para a agricultura e crise no abastecimento de
água e ondas de calor que vitimaram milhares de pessoas na Índia e no Paquistão
e pico de 40 graus na França, Alemanha e outros países na Europa.
E
os recordes devem continuar a ser batidos nos próximos anos. O acúmulo de
energia na atmosfera pode ser comparado a uma caixa-d’água na qual o acumulo de
água depende da altura do ladrão (ponto de escoamento).
Na
atmosfera, a quantidade de gases de efeito estufa determina o quanto de energia
pode se acumular. Quando o ladrão de uma caixa-d’água está mais alto, ela passa
algumas horas enchendo, antes de estabilizar o nível novamente. Assim funciona
com a atmosfera, mas com um processo que leva décadas. Ou seja, os efeitos do
acúmulo de GEE na atmosfera se acumulam e perduram por muitos anos.
Segundo
os cientistas do IPCC, para que o aumento da temperatura global não ultrapasse
dois graus até o fim do século (o dobro do que já aumentou — e com os efeitos
que já observamos), temos que reduzir drasticamente nossas emissões de GEE até
2050 e, posteriormente, zerá-las o mais cedo possível.
Este
é um esforço que não se faz sozinho. É global e exige a participação de todos e
a liderança decisiva dos países que mais emitem GEE como China, EUA, Rússia,
Comunidade Europeia e o Brasil (atualmente o sétimo emissor). Esta liderança
será percebida nos compromissos e metas que os países aportam no novo acordo
climático a ser fechado em Paris em dezembro.
Dos
dez maiores emissores, apenas Brasil e Índia ainda não apresentaram suas metas
de redução de emissões. O mundo aguarda ansioso por uma boa surpresa do Brasil.
Publicado em O Globo, 26.08.2015