Era madrugada do dia
21 de dezembro de 2015 quando a contagem regressiva anunciava na Flórida a partida
eminente do foguete Falcon 9 da empresa SpaceX para mais uma missão: lançar 11
satélites na órbita terrestre.
O feito por si só já era digno de registro: uma
jovem empresa privada realizar uma missão para lançamento de tantos satélites. Seria apenas mais um lançamento de satélites se não
fosse o que se passou 9 minutos e 45 segundos após a partida: enquanto o
foguete impulsionado pelo estágio 2 lançava os satélites, o estágio 1 (a maior
parte do foguete) pousava na vertical no Cabo Canaveral na Flórida bem no alvo
desenhado na forma de x no chão.
Menos de 30 dias antes
o foguete New Shepard de outra empresa - a Blue Origen - também havia feito um pouso vertical,
mas esse era muito menor e não fazia uma missão, apenas um teste tendo subindo
a 100km e depois retornado à Terra. Ainda sim, um feito inédito e fantástico.
As duas empresas, SpaceX
e Blue Origen, têm em comum a juventude
– menos de uma década de vida – e o fato de serem fundadas por empreendedores
do Vale do Silício sem nenhuma experiência anterior em indústria espacial: Elon
Musk, sul-africano que ficou milionário com a criação do PayPall, o primeiro
sistema global de pagamentos pela internet, e que investiu na criação da SpaceX;
e Jeff Bezzos, fundador da Amazon e que criou a Blue Origin.
Interessados em
realmente ampliar os horizontes da exploração espacial chegando, quem sabe, até
Marte, Elon e Jeff por caminhos distintos concluíram que era necessário
reinventar o modo tradicional de se lançar ao espaço, no qual o veículo é
utilizado apenas uma vez. Viabilizando a reutilização dos foguetes, os custos
da viagem espacial cairão a centésimos dos custos atuais. Isso permite, por exemplo, que
grandes constelações de satélites com rápida atualização (ou upgrade) passem a
ser viáveis.
Mas a ideia de pousar
um foguete na vertical parecia absurda e utópica. O astronauta Neil Armstrong,
primeiro homem a pisar na lua, afirmou poucos anos atrás, em testemunho no
Congresso Americano, não ser possível tal manobra. Realmente com o olhar da
tecnologia reinante do século passado, pousar um foguete com
controles manuais seria muito pouco provável. O pouso do Falcon 9 e do New Shepard foram realizados
integralmente de forma autônoma ou, se preferir, usando o piloto automático.
A aterrisagem dos
foguetes na vertical é o feito mais importante da indústria espacial das últimas
4 décadas. Ela mostra como as novas tecnologias estão transformando com
profundidade não só a indústria e os produtos, mas a própria forma de
organização. A SpaceX não é uma montadora de foguetes, de fato, fabrica
praticamente todos os componentes para ampla aplicação em modelagem e em impressão
3D. Os engenheiros desenham, modelam, fabricam os foguetes no mesmo local, num
processo de aprendizagem contínua de ciclos muito rápidos.
A exploração espacial
é um dos campos que mais gera inovações em larga escala. Por envolver enormes
riscos e custos elevadíssimos, esse tipo de atividade estava restrito aos
governos e era de longuíssimo prazo de maturação. Mas, esse modelo está mudando
rapidamente.
Publicado em Época Negócios em Fev2016