A receita tradicional de produção ciência, produtos e
serviços envolve uma ideia, um plano e definição de responsabilidades amarrada
em contratos e acordos sobre o que esta sendo demandado e o que será
entregue. Uma montadora de automóveis
desenha um veiculo, planeja sua montagem, contrata fornecedores de peças e
componentes e trabalhadores para montar os veículos e outros para
comercializá-los e assim por diante.
Esta receita vem sendo transformada radicalmente nas últimas
duas décadas conforme mergulhamos no mundo da colaboração em massa como motor
da inovação com ganhos de escala, rapidez e eficiência para atacar os mais
complexos problemas.
A Wikipédia, criada em 2001, é o exemplo mais conhecido de
produção colaborativa. A maior enciclopédia da história – um dos cinco sites
mais acessados do planeta – foi e continua sendo construído e financiado integralmente
por colaborações voluntárias de milhões de pessoas. A Wikipédia disseminou a
tecnologia Wiki criada por Ward Cunninghan em 1995 para facilitar a troca de
idéias entre programadores onde todos podem editar e não tem um controle
central de conteúdo e edição. Hoje são milhares de sites que utilizam esta
tecnologia em grupos fechados ou abertos.
Mas a colaboração em massa já saiu do mundo virtual para os
campos de pesquisa, produção e serviços. O Hyperloop, conceito de transporte
de altíssima velocidade (acima de 1000 km/h) em tubos de semi-vácuo que promete
ser o transporte do futuro para longa distância começou com um projeto
conceitual publicado em 2012 pela Tesla, sob liderança de Elon Musk, com a explicita
intensão de que fosse construído de forma aberta. Desde então dois consórcios
independentes iniciaram processos para desenvolver o Hyperloop, um deles envolve
milhares de colaboradores em rede. Universidades em todo o mundo participam de
competições para desenvolver os ‘Pod’ que andarão pelo tubo ou outras partes do
sistema e em 2020 já teremos as primeiras linhas do transporte futurista operacionais.
Em 2015 no Brasil foi criado o MapBiomas, uma iniciativa com
quinze instituições para produzir em três anos os mapas anuais de cobertura e
uso do solo de todo o país para as ultimas três décadas. Usando o método
tradicional levariam décadas para produzir os mapas, mas a combinação do
uso do conhecimento de diversos especialistas em sensoriamento remoto, uso da
terra e ciência da computação com processamento distribuído e processo
colaborativo de criação de algoritmos e classificadores automáticos permitiu
gerar em 18 meses os mapas para 17 anos (2000-2016) além de um conjunto amplo
de ferramentas para multiplicar a iniciativa para outros países.
Publicado em Época Negócios, edição de Maio/2017