A inteligência artificial (IA) é usualmente descrita como a
capacidade de máquinas resolverem problemas ou aprender a partir de algum grau
de cognição. Os mecanismos de busca como o Google, sistema de reservas de
passagem aéreas ou piloto automático de um avião são um exemplo de IA com que
convivemos no dia a dia e se espalham por diversas áreas. Sistemas como o
Watson da IBM já apresentam uma capacidade de resolução de problemas muitas
vezes maior que a de um ser humano gênio. Dentro de uma década qualquer novo
notebook ou smartphone conectado na rede poderá ter o mesmo grau de
inteligência de toda a humanidade junta.
Máquinas que já eram capazes de realizar inúmeros tarefas de
forma muito mais rápida, precisa e consistente que os serem humanos começaram a
aprender. Este aprendizado de máquina (machine
learning) já é bastante desenvolvido na busca de padrões a partir de
análise massiva de dados (big data) de diversas áreas como comércio eletrônico
(Amazon, Spotify, Netflix etc), diagnósticos médicos e interpretação de
imagens. Os algoritmos destes sistemas computacionais são treinados para
encontrar padrões a partir de chaves de classificação pré-programadas ou por
milhões de operações de tentativa e erro.
Agora uma nova fronteira está sendo explorada com a criação
de uma inteligência artificial genérica capaz de programar-se e se ajustar de
acordo com a interação com o ambiente. Recentemente uma nova fronteira foi
ultrapassada. A OpenAI, empresa de pesquisa sem fins lucrativos fundada por
Elon Musk e Sam Altman, desenvolveu um algoritmo que permite um robô aprender
uma tarefa como empilhar bloquinhos coloridos de madeira que estão
desorganizados numa mesa a partir da observação de um ser humano realizando a
tarefa. Depois de observar a operação uma única vez o robô é capaz de entender
a sequência e a forma como devem ser empilhados os blocos, mesmo que o ponto de
partida (forma como os blocos estejam dispostos inicialmente) seja
modificada.
Seremos dominados pelas máquinas que criamos? Talvez não se
os humanos tivessem a mesma capacidade das máquinas.
Por isso, empresas como a Neuralink (também fundada por Elon
Musk, sempre ele) e Facebook investem agora nas chamadas BMIs (Brain Machine Interface) para conectar o
cérebro diretamente com a inteligência artificial.
Na primeira fase a interação pode ser digitar uma mensagem
pelo pensamento, depois pode evoluir para fazer consultas diretas como se fosse
uma busca no Google sem precisar digitar. Esta fase poderá ser uma realidade
nos próximos 5 a 10 anos. Pessoas com sérias limitações motoras ou de sentido
poderão ser as primeiras beneficiárias destas interfaces, mas a ideia dos
desenvolvedores é tornar estas interfaces amplamente disponíveis e acessíveis para
o maior número de pessoas possível, assim como a internet ou celular.
Em algumas décadas podemos chegar ao ponto de ter memória
quase infinita (poderíamos guardar qualquer informação relevante tendo
experiência por apenas um instante), capacidade de acessar o conhecimento
coletivo de forma indistinguível do seu conhecimento próprio, compreender e
falar em qualquer idioma e colaborar virtualmente em diversas tarefas sem a
necessidade de uma interface externa como câmera, tela etc.
Publicado em Epoca Negócios, Junho 2017