As emissões de carbono para geração de
energia, que representam quase dois terços das emissões globais, deram sinais
de parar de crescer e, quem sabe, até ter decrescido em 2014, segundo dados
preliminares divulgados pela Agência Nacional de Energia. Se confirmado, seria
a primeira queda não relacionada a uma grave crise econômica (por exemplo,
2008).
O mais significativo, entretanto, é o fato de
que a reversão da trajetória de crescimento se deu justamente no ano em que o
preço do petróleo caiu quase 50%. Contrariando a tendência histórica, a queda
do valor do petróleo foi acompanhada de forte crescimento dos investimentos em
energia renovável, que bateu a casa dos US$ 300 bilhões em 2014.
Na última década, os pesados investimentos na
indústria do petróleo foram lastreados em três premissas: a alta demanda dos
mercados emergentes, mantendo os preços acima de US$ 100 o barril; estoque de
reservas viáveis em contínua expansão; e manutenção de subsídios anuais na casa
das centenas de bilhões de dólares.
Estas premissas estão sendo corroídas e
muitos se perguntam se não estaríamos vivendo uma bolha de petróleo.
Considerando apenas o petróleo, se todas as
reservas registradas fossem utilizadas (queimadas), gerariam quase três vezes
mais que o limite de emissões que assegurem chances pelo menos razoáveis de
restringir o aumento da temperatura global em dois graus.
Os fortes investimentos na energia renovável
na última década (em parte impulsionados pelo alto preço do petróleo por um
período relativamente longo) provocaram o barateamento das fontes solar e
eólica, aumentando de forma exponencial sua penetração e gerando novos
investimentos para resolver limitações de grid, armazenamento e outros.
No mesmo compasso, os veículos elétricos se
tornaram uma realidade viável. A Tesla, a maior fabricante de carros elétricos,
produz 40 mil veículos por ano e já vale na bolsa o mesmo que gigantes como a
Renault, que produz quase três milhões de carros por ano.
Gestores de fundos de investimento começam a
juntar as peças e, por pressão dos investidores, aversão a risco ou senso de
oportunidade, ensaiam um movimento de desinvestimento na indústria do petróleo
Os recentes episódios de pressão dos
estudantes contra os gestores do fundo fiduciário de US$ 37 bilhões da Universidade
de Harvard e de uma coalização de ONGs sobre a Fundação Bill & Melinda
Gates (a maior do mundo) para retirar investimentos na indústria do petróleo e
carvão são as primeiras gotas de um grande dreno que pode se precipitar a
qualquer momento.