segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Clima e Floresta


Na ultima semana o IPCC – painel de cientistas da ONU sobre mudanças climáticas - publicou o resumo executivo do relatório sobre riscos de eventos extremos e desastres naturais que será lançado em sua versão completa em fevereiro próximo.  O resumo lançado agora é destinado a formuladores e executores de políticas públicas e em resumo dá o seguinte alerta: os eventos extremos como tempestades, enchentes e grandes secas vão aumentar em frequência, intensidade, duração e abrangência. Ou seja, acontecerão mais vezes, de forma mais intensa e dramática, por mais tempo e numa área maior do que atualmente.

O relatório também indica que o grau em que estas mudanças afetaram os países e seus povos depende essencialmente do grau de vulnerabilidade que, por sua vez, esta diretamente relacionado à sua localização e, em especial, a preparação para enfrentar estes eventos.

No Brasil os eventos extremos na ultima década adquiriram um padrão de crescimento jamais visto em qualquer outra época e os estudos recentes de cenários para alterações climáticas de acordo com diferentes graus de intensidade de aumento de temperatura apontam para uma alteração no regime de chuvas com maior intensidade de chuvas em menos dias e períodos mais prolongados de seca. As consequências destas alterações de padrões são muitas, além dos desastres com perdas de vida, vários aspectos são críticos para nossa economia: (i) redução do potencial hidroelétrico instalado em até 30% pois os reservatórios não foram planejados para esses extremos, (ii) queda do potencial de produção de 8 das 10 principais culturas agrícolas e (iii) necessidade de replanejamento de toda infraestrutura de coleta, tratamento e distribuição de água nos grandes centros urbanos.

Paradoxalmente, o Brasil é um dos países que mais pode se beneficiar de uma transição para uma economia de baixo carbono que segure o aumento da temperatura média global por efeito da concentração de gases de efeito estufa (GEE). Assim interessa ao Brasil lutar não só para reduzir as emissões de GEE no Brasil mas pressionar para que sejam estabelecidas metas para redução global de emissões.

Ainda que as emissões reduzam parte das mudanças climáticas, esta já é irreversível e se intensificará nos próximos anos. Neste cenário o Brasil tem que se preparar para reduzir a sua vulnerabilidade e enfrentar os seus efeitos da forma que traga menos prejuízos econômicos, sociais e ambientais para o país e a população.

Nos três aspectos mencionadas anteriormente, a função das florestas para reduzir nossa vulnerabilidade é crucial. A proteção das áreas de preservação permanente ao longo dos rios, nascentes, encostas e topos de morro é crucial para reduzir os deslizamentos em momentos de excesso de chuva, regular o fluxo da água contrapondo-se aos efeitos dos períodos de seca prolongada,  reduzir a percolação de sedimentos para os cursos d’água evitando assoreamento dos rios e nascentes e alteração da qualidade da água.

Existem no Brasil mais de 20 milhões de hectares de áreas sensíveis que precisam ser recuperadas para diminuir a nossa vulnerabilidade às mudanças climáticas além de promover uma enorme captação de carbono que ajuda a reduzir o balanço de emissões do planeta.

A votação do novo Código Florestal que acontece esta semana na Comissão de Meio Ambiente do Senado Federal precisa ter em conta esta realidade. O Projeto aprovado na Câmara opera contra esta realidade e, além abrir possiblidade de novos desmatamentos nestas áreas sensíveis, estabelece a consolidação quase irrestrita de todas ocupações em áreas de preservação permanente deixando de recuperar os mais de 20 milhões de hectares tão necessários a nossa adaptação aos eventos extremos.

O relatório apresentado nesta segunda-feira pelo Senador Jorge Viana avançou e corrigiu  várias distorções do projeto da câmara, mas ainda precisa de vários ajustes para garantir que o Brasil esteja pronto para  enfrentar os efeitos das mudanças climáticas.

Publicado no O GLOBO em 24-11-2011