Na última sexta-feira, foi lançada a terceira parte do 5º Relatório do IPCC sobre Mudanças Climáticas (AR5). O relatório é resultado do Grupo de Trabalho III do IPCC que trata da mitigação das mudanças climáticas.
A primeira parte do relatório tratou da ciência do clima e definiu os limites de emissão de gases de efeito estufa até 2100 para que tenhamos chances reais de limitar o aumento de temperatura em 2ºC (leia
e ). A segunda parte do relatório lançada em março apontou os impactos, a vulnerabilidade e as demandas de adaptação para as mudanças climáticas em curso ou potenciais (leia e ). O relatório do terceiro grupo busca descrever a trajetória de emissões de gases de efeito estufa e avaliar as possibilidade de reduzir emissões, aumentar a captura de GHG e evitar os piores cenários de mudanças do clima (leia ).
A mensagem central do Grupo de Trabalho 3 (GT3) é: ainda dá tempo de reverter o crescimento das emissões de GEE e colocar o mundo em uma trajetória que permita limitar o aumento de temperatura em 2ºC. Existe tecnologia e conhecimento para fazer a mudança, mas é preciso decisão política para colocar em marcha o plano de mudanças.
A TRAJETÓRIA DAS EMISSÕES GLOBAIS DE GHG
A emissão de gases de efeito estufa vem crescendo continuamente desde os anos 70 quando começam as estimativas do IPCC. Eram 27 GtCO2e ( ) e desde então quase dobraram chegando a 49 GtCO2e em 2010 (estimativas do programa EDGAR indicam que as emissões chegaram as 51 GtCO2e em 2012). As emissões cresceram a um ritmo de 1,3% ao ano entre 1970 e 2000 e na ultima década aceleraram crescendo 2,2% ao ano em especial pelo crescimento das emissões naseconomias emergentes.
A emissão de gases de efeito estufa vem crescendo continuamente desde os anos 70 quando começam as estimativas do IPCC. Eram 27 GtCO2e ( ) e desde então quase dobraram chegando a 49 GtCO2e em 2010 (estimativas do programa EDGAR indicam que as emissões chegaram as 51 GtCO2e em 2012). As emissões cresceram a um ritmo de 1,3% ao ano entre 1970 e 2000 e na ultima década aceleraram crescendo 2,2% ao ano em especial pelo crescimento das emissões naseconomias emergentes.
As emissões de CO2 a partir da queima de combustíveis fósseis continua sendo a principal fonte de emissões e sua participação cresceu de 55 para 65% do total de emissões entre 1970 e 2010. Apenas as emissões referentes à mudança de uso da terra (incluindo desmatamento) reduziram em números absolutos entre 1970 e 2010, ainda que sejam os números com maior grau de incerteza (até ±50%). O setor – que em meados dos anos 90 chegou a responder por quase 20% das emissões globais – em 2010 respondeu por 10% das emissões. A redução do desmatamento na Amazônia e a ampliação de reflorestamentos na Ásia (ex. China) têm contribuído de forma importante para este resultado.
O IPCC estima que cerca de 40% das emissões acumuladas entre 1750 e 2010 (260 anos) aconteceu entre 1970 e 2010 – entre 2000 e 2010 as emissões aumentaram 10 GtCO2e (20% de aumento), com este aumento vindo dos setores de geração de energia (47%), industrias (30%), transportes (11%) e construção (3%).
A trajetória histórica de emissões ainda esta fortemente atrelada ao crescimento do PIB e da população do ponto de vista global. Porém, ao decompor os dados por região, tipologia de países e regiões, começam a aparecer descolamentos como o caso do Brasil e da Costa Rica e, mais recentemente, parte dos países europeus.
O relatório alerta que, sem esforços adicionais e consistentes para reduzir as emissões estas cresceram movidas pelo PIB e população e levam a cenários de aumento de temperatura média do planeta entre 3,7 e 4,9ºC, o que, de acordo com o 2º. relatório traria impactos gigantescos para humanidade e os recursos naturais.
CENÁRIOS DE MITIGAÇÃO DE EMISSÕES
Os pesquisadores do IPCC fizeram a mais extensa revisão sobre mitigação, analisando mais de 900 cenários publicados contemplando concentrações de GEE de 430 a 720 ppm CO2e em 2100. Os cenários que resultam em concentração, entre 430 a 480 ppm, são os únicos que apresentam probabilidade maior de 50% de limitar o aumento de temperatura em 2ºC, a meta acordada pelos países nos e Cancun (2009/2010).
Os pesquisadores do IPCC fizeram a mais extensa revisão sobre mitigação, analisando mais de 900 cenários publicados contemplando concentrações de GEE de 430 a 720 ppm CO2e em 2100. Os cenários que resultam em concentração, entre 430 a 480 ppm, são os únicos que apresentam probabilidade maior de 50% de limitar o aumento de temperatura em 2ºC, a meta acordada pelos países nos e Cancun (2009/2010).
No gráfico abaixo, produzido pelo IPCC é possível perceber para limitar a concentração entre 430 e 480 ppm (parte azul claro) as emissões devem ser reduzidas a cerca de 10-15 GtCO2e em 2050 (70-80% de redução em relação as emissões atuais) e serem negativas a partir de 2090 (emissões menores que aumento de estoques). Se somos sérios em relação ao compromisso com os 2ºC, as reduções de emissões precisam ser muito fortes e expressivas e o pico de emissões deve acontecer até 2020.
Muitos cenários compatíveis com 450 ppm consideram que possa haver um aumento da concentração até 500 ppm antes de haver uma redução até 450 no final do século. Nestes casos os cenários assumem que na segunda metade do século as atividades de captura e armazenamento de carbono suplantarão as emissões.
O IPCC enfatiza que os compromissos de redução de emissões assumidos pelos países no âmbito da convenção de mudanças climáticas (em especial o Acordo de Cancun) são inconsistentes com uma trajetória que limite o crescimento da temperatura em 2ºC, as reduções precisarão ser ampliadas substancialmente pós 2020.
Nos cenários de mitigação deste 5º relatório do IPCC foram consideradas, pela primeira vez, além de novas tecnologias e inovação, as mudanças de padrões de consumo como uma das variáveis que impactam as emissões.
Uma das conclusões importantes é que os cenários mais promissores para redução de emissões apresentam forte sinergia com os objetivos de aumento da qualidade do ar, garantia da segurança energética e alimentar e o aumento da resiliência dos ecossistemas. Por exemplo, a redução de uso de térmicas a carvão mineral reduz-se também a emissão de poluentes locais.
Os cenários de mitigação compatíveis com limite de 2ºC também mostram efeitos colaterais importantes para economias excessivamente dependentes de combustíveis fósseis. A receita derivada do comércio de petróleo deve cair de forma expressiva até 2050. A disponibilidade e viabilidade de das técnicas de CCS (captura e armazenamento de carbono) poderão reduzir este efeito.
O relatório explora os diferentes caminhos de mitigação para os diferentes setores da economia. Vamos explorar esses caminhos nos próximos posts do Blog do Clima.