quarta-feira, 30 de julho de 2014

Ambiente de Guerra

Em 2003, quatro meses após o início da Guerra do Iraque, uma equipe da Unidade de Desastres e Conflitos do Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas desembarcou no país para avaliar os impactos do conflito sobre o ambiente e as pessoas e propor ações para remediar esses impactos.

O relatório produzido é impressionante. Os bombardeios das primeiras semanas de guerra afetaram a infraestrutura de geração elétrica. Sem eletricidade, os sistemas de fornecimento de água e coleta e tratamento de esgoto entraram em colapso. O esgoto corria a céu aberto e atingia os principais cursos d’água, chegando aos rios Tigre e Eufrates. As doenças relacionadas à água se espalhavam, agravando a precária situação dos hospitais e postos de atendimento médico, que já eram insuficientes para lidar com feridos nos ataques.

Com objetivo de eliminar possíveis locais de produção de armas químicas (nunca encontradas), indústrias químicas, de fertilizantes e farmacêuticas foram atacadas. Milhares de toneladas de produtos químicos tóxicos e perigosos foram espalhados por extensas áreas, com contaminação do ar, da água e do solo. Tanques e poços de petróleo foram queimados — muitos por sabotagem — e o fogo que se estendeu por semanas produziu uma fumaça tóxica que atingiu a população, a produção animal e agrícola.

O bombardeio e o trânsito de milhares de equipamentos pesados de guerra sobre áreas do entorno das cidades destruíram e degradaram ecossistemas inteiros.

Diagnósticos semelhantes foram obtidos no Afeganistão, em Serra Leoa, Sudão, Kosovo, Congo e Líbano, entre tantos outros países.

A guerra não explica todos os problemas ambientais encontrados, mas o que se constata é que a tragédia humanitária das batalhas vai muito além das mortes durante os conflitos. Ela se perpetua através dos impactos sobre a infraestrutura, residências, fábricas, áreas agrícolas e ambientais naturais, com reflexos diretos na qualidade ambiental, saúde e segurança alimentar.

Desde 2003, a ONU trabalha em conjunto com o governo e a sociedade iraquianos para recuperar as mínimas condições ambientais no país. Dez anos depois do início da guerra, o país ainda está longe de conseguir a paz e muito mais longe de recuperar os danos à qualidade ambiental que a guerra provocou ou acentuou. Triste sina para o país que abriga a Mesopotâmia, o berço da civilização, onde nasceu a agricultura e foi o embrião das cidades.

Enquanto escrevo este artigo recebo a noticia de que a única central elétrica da Faixa de Gaza, que atende a 1,8 milhão de habitantes, foi destruída. Chocante.