Em 1980, a maioria da América Latina vivia em
regime militar, a Rússia ocupava o Afeganistão, John Lennon era assassinado, o
walkman com fitas cassete era o lançamento do ano, Bill Gates ainda trabalhava
na criação do primeiro sistema operacional MS-DOS, o time de Martin Cooper na
Motorola desenvolvia o primeiro celular para uso comercial na forma de um
tijolo de mais de um quilo e a internet não existia para o público.
Os mesmos 35 anos que nos separam de 1980 nos
levarão a 2050. Este olhar para o mundo em 1980 nos permite ver o quão longe
podemos ambicionar de transformações nos próximos 35 anos.
Este ano, o mundo negocia o novo acordo global
sobre mudanças climáticas que possam limitar o aumento da temperatura média
global em dois graus. Para termos mais de dois terços de chances de atingir
este objetivo, precisamos promover uma descarbonização profunda da economia,
chegando a próximo de zero de emissões líquidas (emissões menos as remoções) em
meados do século.
Num mundo que emite mais 50 bilhões de tCO2e
(toneladas de dióxido de carbono equivalente) por ano e em que a produção e o
consumo de combustíveis fósseis são amplamente predominantes e o desmatamento
ainda avança sobre 13 milhões de hectares de floresta a cada ano, parece uma
meta inalcançável ou muito ambiciosa, mas não é.
Se em 1980 nos dissessem que em 30 anos seríamos
capazes de nos conectar com qualquer pessoa no mundo ou milhões delas de forma
instantânea e quase de graça por meio de um aparelho que carregaríamos no
bolso, pareceria altamente improvável. A adoção de inovações tecnológicas e
sociais se acelera em cada década, o tempo entre a descoberta e a sua adoção em
escala tem caído de décadas para anos e em alguns casos meses.
Nos últimos 15 anos, as geradoras de energia solar e a eólica
saíram de quase zero para mais de 300 GW de capacidade instalada do planeta
(mais de duas vezes a capacidade total instalada de geração elétrica no
Brasil). O desmatamento na Amazônia caiu de 27 mil para cinco mil quilômetros
quadrados por ano em uma década. É perfeitamente possível atingirmos metas
extremamente ambiciosas e necessárias até 2050, como 100% de energias
renováveis, eletrificação do transporte, zerar o desmatamento e tornar as
emissões agrícolas neutras.
Esta noção das possibilidades no tempo e espaço das
próximas décadas deve ser a base de conforto para que os tomadores de decisão
no setor público e privado assumam o compromisso de descarbonizar a economia
nas próximas três décadas, ao mesmo tempo que eliminemos a pobreza e
multipliquemos o progresso social.