A expectativa de vida dos humanos deu um
salto monumental nos últimos 150 anos passando de 30 para os atuais 68 anos. É
um feito extraordinário quando se considera a evolução anterior. Desde que o Homo Sapiens passou a dominar a paisagem
a cerca de 10 mil anos até meados do século do século XIX, a media de vida dos
humanos variou entre 20 e 30 anos.
O processo pelo qual demos este salto está
associado- a fatores bem conhecidos como significante melhoria na nutrição
(tanto em quantidade como diversidade), avanços na prevenção e tratamento de
doenças e infecções com a descoberta da vacina e a penicilina, a redução
drástica das guerras e a evolução da educação e infraestrutura que permitiram a
redução de riscos associados a acidentes, imprevistos e desastres naturais.
Hoje as principais causas de morte não acidental em
países desenvolvidos estão associadas às doenças típicas do envelhecimento como
câncer, Alzheimer e outros, enquanto nos
países menos desenvolvidos, ainda estão associadas a doenças infeciosas ou
subnutrição.
Na última década avanço do conhecimento da
biologia associado à capacidade de processamento da informação (inteligência
artificial) apontam para um futuro onde as principais causas de morte não
acidentais poderão ser evitadas ou consertadas.
Em 2012 foi descrito o CRISPR-CS9 uma
tecnologia desenvolvida a partir da observação da habilidade das bactérias de
resistir ao ataque de vírus, que permite a edição de genes de forma tão
simples, precisa e especifica como um editor de texto. Isso permite uma
infinidade de aplicações como corrigir defeitos no genoma que afetam o metabolismo
que causam patologias ou alterar células cancerígenas para que parem de se
multiplicar ou ainda gerar mosquitos que não transmitam dengue, malária ou
zika.
Mais recentemente em 2015 uma técnica
chamada GeneDrive (algo como gene dirigido) permitiu ir além do CRISPR,
permitindo que as alterações do gene se autoperpetuassem. Algo como você
corrigir um erro no editor de texto e este erro ser corrigido automaticamente
em qualquer documento que você abrisse posteriormente.
A evolução destas tecnologias e outras
tecnologias emergente nos próximos 15 anos vai transformar radicalmente nossa
perspectiva de saúde e nossa expectativa de vida. Terapias não invasivas
estenderão a expectativa de vida em décadas para pessoas com 50 anos, tempo
suficiente para que outras terapias possam corrigir novos defeitos e estender a
vida por mais 30-50 anos e assim por diante. Ou seja, quem nasceu hoje viverá
num mundo em que a idade terá pouca relação com a probabilidade de morrer no
próximo ano.
Quando os primeiros humanos completarem o
seu 200o aniversário, já terão nascido os primeiros humanos que
viverão mil anos.
Esta perspectiva tem várias consequências, uma
das mais relevantes é a mudança de perspectivas sobre o cuidado com o planeta
em que vivemos. A busca da sustentabilidade deixa de ser um ato de generosidade
com as gerações futuras, mas uma necessidade para a geração atual.
Publicado em Época Negócios, Edição de nov/2016