Um novo regime automotivo. A velha visão de transporte. O pais parou no tempo.
O Brasil discute o novo regime automotivo
para o pais que substituirá o Inovar-Auto iniciado em 2011 e que se encerra no
final de 2017. Apelidado de Rota 2030 tem oito eixos de debate que incluem
recuperação de fornecedores, nacionalização de tecnologia, eficiência
energética, pesquisa e desenvolvimento, segurança e tributação.
Para uma agenda de 2030, espanta que, tanto
no documento base oficial, como nas propostas da ANFAVEA sintetizadas na Agenda
Automotiva Brasil apresentada no final de junho, simplesmente não se faça
referencia as quatro principais tendências mundiais do setor de transporte e
mobilidade: veículos elétricos, conectados, autônomos e compartilhados (ver
artigo desta coluna de abril de 2016).
A nacionalização de tecnologia e a
recuperação de fornecedores do plano deveria estar focada no desenvolvimento de
motores elétricos e baterias. Já temos engenharia e tradição nestas duas áreas,
com dezenas de fabricantes de motores elétricos para diversos usos e o maior
fabricante de baterias de chumbo do hemisfério sul. É preciso nacionalizar as
tecnologias especificas para veículos elétricos.
O eixo de ciência, tecnologia e engenharia trata
quase exclusivamente debiocombustíveis. Deveria focar em tecnologias para
aumento de capacidade de armazenamento e rapidez de carga das baterias bem como
no desenvolvimento de tecnologias e regulamentação do transporte autônomo e
compartilhado.
No tema de segurança, os veículos elétricos
e autônomos representam um salto quântico em relação ao que há de mais avançado
em veículos tradicionais a combustão. Em vez de apenas listar novos
equipamentos obrigatórios para segurança, deveria prever a obrigatoriedade de
crash-test no Brasil (sim, não é obrigatório do Brasil ainda!). Nos testes de
colisão os carros elétricos têm padrões tão altos que já se pensa em criar uma
nova métrica para estes veículos. Até 2025 estima-se que veículos autônomos
deverão ser em média mil vezes mais seguros que um humano dirigindo.
Já, no tema de eficiência energética e
emissões de gases de efeito estufa e outros poluentes, temos outra diferença
brutal a favor dos veículos elétricos não contemplada no plano. Mesmo que todo
o combustível utilizado por um carro tradicional com motor a combustão fosse
utilizado para gerar eletricidade os carros elétricos ainda assim seriam mais
eficientes e gerariam menos emissões de poluentes.
As vendas de veículos elétricos, que era
praticamente zero em 2010, deve chegar a 1,1 milhão de veículos em 2017. Analistas
de mercado já apontam vendas de 10 milhões de veículos em 2025 e cerca de 30% do
mercado global de novos veículos até 2030. Veículos de carga pequenos, médios e
pesados elétricos e autônomos estão sendo lançados em 2017. Devem rapidamente
dominar a paisagem dada a enorme vantagem de custo operacional de poderem
operar 24h por dia com enorme segurança.
A não ser que o Brasil esteja numa ilha
desconectada do mercado global, a maioria dos veículos deverão seguir estas
tendências e o pais precisa se preparar para este novo mundo. Como é para
agosto, ainda há tempo para reverter ou ficaremos mais uma vez a reboque do que
acontece no restante do mundo industrializado.
Publicado em Época Negócios, Edição de Julho 2017