No início dos anos 90 os escritórios tinham dezenas de máquinas de escrever e alguns computadores até então ainda caros, de difícil acesso, e ainda pouco amigáveis. Apesar do cenário aparentemente vantajoso, alguém que investisse numa fábrica de máquina de escrever naquele momento teria visto seu negócio desaparecer uma década depois. Na virada do século sobreviviam apenas algumas poucas fábricas no mundo, e a última fechou as portas na Índia em 2011. Hoje um celular tem mais de 40 vezes a capacidade de processamento do melhor PC de 20 anos atrás.
No campo energético estamos vivendo uma revolução similar. A energia oriunda de combustíveis fósseis, muito poluente e não renovável, ainda é a principal fonte de energia da matriz global. Porém, a curva de aprendizado de uso desta energia apresenta pouquíssimos ganhos incrementais enquanto outras fontes, como eólica e solar que recém-começaram a ganhar escala, ainda estão no início da curva de aprendizagem, e os ganhos de eficiência e redução de custos ainda têm enormes espaços para serem desenvolvidos.
Apenas para ilustrar, em menos de 10 anos as placas fotovoltaicas (que utilizam apenas uma fração da energia do Sol que chega à Terra) dobraram sua eficiência, ou seja, produzem o dobro da energia por m². Em laboratório, pesquisadores da Universidade de Standford já desenvolveram novos métodos e compostos capazes de aumentar a eficiência dos painéis solares em mais de 100 vezes utilizando um maior espectro da luz solar.
Em 20 anos, as fontes de energia renovável de baixo impacto como solar serão dominantes nos novos projetos e na renovação do parque energético ao redor do planeta. Isso será essencial para reduzir 2/3 das atuais emissões globais de CO2 oriundas do setor de energia para mitigar as mudanças climáticas.
A visão antecipatória destes fenômenos de transformação é crucial para o planejamento de longo prazo como o Plano Nacional de Energia - PNE 2050, que se encontra em processo de desenvolvimento pela EPE e deve ser lançado em 2014. Os termos de referência publicados em maio apontam, ainda que de forma tímida, esta evolução de cenário e a possibilidade de considerar outros fatores além da modicidade tarifária para planejar a composição de nossa matriz energética em 2050.
Este trabalho é fundamental para garantir que deixemos de caminhar de olho no retrovisor, promovendo a construção de novas usinas térmicas a carvão mineral como se estivéssemos investindo em fabricar máquinas de escrever 20 anos atrás.
Publicado em O Globo, 12 de junho 2013