segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

‘CEASA’ do futuro

Se você sobrevoar a Holanda vai ver campos e cidadezinhas que parecem de brinquedo entremeados por inúmeros canais, portos e zonas industriais bem desenhados, e uma enorme quantidade de galpões de todos os tamanhos com telhados brancos. Estes galpões são as estufas holandesas.

Elas são parte de um sistema de produção sustentável de alimentos que levou este país do tamanho do estado do Espírito Santo a exportar 80 bilhões de dólares em produtos agrícolas em 2015, sendo o segundo maior exportador mundial destes produtos (atrás somente do Estados Unidos). A Holanda é hoje responsável por 24% do total global de exportações de produtos hortifrúti e é o maior exportador (em valor) do mundo de frutas e legumes frescos. Uma parte importante destes produtos vem das estufas.

Por muito tempo se imaginou que produzir alimentos em estufas em larga escala só poderia ser feito utilizando muita energia e com o uso de aditivos petroquímicos (fertilizantes), que gerariam resíduos poluentes.  Isto é uma imagem do passado remoto. Prepare-se para mudá-la radicalmente.

As estufas holandesas cobrem 60 quilômetros quadrados. Empresas, institutos de pesquisa e governo trabalham juntos para criar estufas ‘inteligentes’ que flutuam na água ou operam em plataformas móveis, utilizam robôs e formas inovadoras de uso de iluminação. Elas têm sistemas de reciclagem de água e resíduos e, além de tudo, juntas geram mais energia do que consumem, chegando a contribuir com 10% da necessidade de aquecimento e energia do país!

As empresas holandesas estão utilizando o calor criado em outras fontes - por exemplo em um centro de processamento de dados ou em uma fábrica de adubos - para alimentar as estufas. As estufas, por sua vez, têm painéis solares para produzir energia elétrica cujos excessos vão para escolas, asilos e piscinas públicas. Este tipo de inovação inter-setorial e’ uma tendência crescente no país. Em algumas regiões do país a economia de energia de combustíveis fósseis chega a 90%

No norte do país a empresa de TI Parthenon construiu seu centro de processamento de dados no meio de uma região de estufas. O calor gerado pelos processadores de dados é canalizado para a produção de legumes, reduzindo 800 tons de emissões de carbono por ano. Quando há  excesso de energia ele é repassado para lugares públicos.

Esta transformação tem recebido suporte importante do governo Holandês que tem metas agressivas para redução de emissão de gases de efeito estufa. Até 2030 as emissões do país devem cair 40% em relação aos níveis de 1990. Para isso o país precisa investir em fontes renováveis de energia ao mesmo tempo que aumenta a eficiência no uso da energia e dos recursos naturais. Promover a sinergia entre diferentes setores econômicos tem sido um excelente caminho para evoluir nesta direção.

O exemplo da Holanda mostra que mesmo em lugares com restrições territoriais e condições climáticas limitadas é possível, com inovação, atrair investimentos, produzir alimentos em grande quantidade e com reduzido impacto ambiental e assim, gerar um grande negócio.

Escrito em parceria com:
Nelmara Arbex - física e especialista internacional em Sustentabilidade e Negócios. Foi vice-presidente da Global Reportig Initiative (GRI).


Publicado em Época Negócios - edição dezembro 2015