Se você sobrevoar a
Holanda vai ver campos e cidadezinhas que parecem de brinquedo entremeados por inúmeros
canais, portos e zonas industriais bem desenhados, e uma enorme quantidade de
galpões de todos os tamanhos com telhados brancos. Estes galpões são as estufas
holandesas.
Elas são parte de um
sistema de produção sustentável de alimentos que levou este país do tamanho do
estado do Espírito Santo a exportar 80 bilhões de dólares em produtos agrícolas
em 2015, sendo o segundo maior exportador mundial destes produtos (atrás
somente do Estados Unidos). A Holanda é hoje responsável por 24% do total
global de exportações de produtos hortifrúti e é o maior exportador (em valor) do
mundo de frutas e legumes frescos. Uma parte importante destes produtos vem das
estufas.
Por muito tempo se
imaginou que produzir alimentos em estufas em larga escala só poderia ser feito
utilizando muita energia e com o uso de aditivos petroquímicos (fertilizantes),
que gerariam resíduos poluentes. Isto é
uma imagem do passado remoto. Prepare-se para mudá-la radicalmente.
As estufas holandesas
cobrem 60 quilômetros quadrados. Empresas, institutos de pesquisa e governo
trabalham juntos para criar estufas ‘inteligentes’ que flutuam na água ou
operam em plataformas móveis, utilizam robôs e formas inovadoras de uso de
iluminação. Elas têm sistemas de reciclagem de água e resíduos e, além de tudo,
juntas geram mais energia do que consumem, chegando a contribuir com 10% da
necessidade de aquecimento e energia do país!
As empresas holandesas
estão utilizando o calor criado em outras fontes - por exemplo em um centro de
processamento de dados ou em uma fábrica de adubos - para alimentar as estufas.
As estufas, por sua vez, têm painéis solares para produzir energia elétrica
cujos excessos vão para escolas, asilos e piscinas públicas. Este tipo de
inovação inter-setorial e’ uma tendência crescente no país. Em algumas regiões
do país a economia de energia de combustíveis fósseis chega a 90%
No norte do país a
empresa de TI Parthenon construiu seu centro de processamento de dados no meio
de uma região de estufas. O calor gerado pelos processadores de dados é
canalizado para a produção de legumes, reduzindo 800 tons de emissões de carbono
por ano. Quando há excesso de energia
ele é repassado para lugares públicos.
Esta transformação tem
recebido suporte importante do governo Holandês que tem metas agressivas para
redução de emissão de gases de efeito estufa. Até 2030 as emissões do país
devem cair 40% em relação aos níveis de 1990. Para isso o país precisa investir
em fontes renováveis de energia ao mesmo tempo que aumenta a eficiência no uso
da energia e dos recursos naturais. Promover a sinergia entre diferentes
setores econômicos tem sido um excelente caminho para evoluir nesta direção.
O exemplo da Holanda
mostra que mesmo em lugares com restrições territoriais e condições climáticas
limitadas é possível, com inovação, atrair investimentos, produzir alimentos em
grande quantidade e com reduzido impacto ambiental e assim, gerar um grande
negócio.
Nelmara Arbex - física e especialista
internacional em Sustentabilidade e Negócios. Foi vice-presidente da Global
Reportig Initiative (GRI).
Publicado em Época Negócios - edição dezembro 2015