As boas
novas são animadoras! A pequena ilha espanhola de El Hierro, que serviu de
parada para Cristovão Colombo no caminho da América, parece continuar a indicar o
caminho para o novo mundo: toda sua energia elétrica outrora originada de termoelétrica
a diesel, agora provém de fontes renováveis. Turbinas eólicas trabalham por dia
associadas e uma hidroelétrica em sistema fechado. Quando há sobra de energia dos ventos, a água
é bombeada de um reservatório na parte baixa da ilha para outro na parte alta e
quando falta vento, a água desce gerando energia necessária para manter os dez
mil habitantes da ilha.
No início
de maio, Portugal passou quatro dias seguidos sendo abastecido exclusivamente
por energias renováveis – solar, hidroétrica, biomassa e eólica. É a primeira
vez que um país europeu consegue se abastecer por mais de um dia exclusivamente
com energias renováveis. Com a chegada do verão no hemisfério norte, época em
que a energia solar bate recordes de produção ano após ano, este recorde deverá
ser pulverizado.
Mas estas
notícias estão fadadas a se tornar em coisa do passado ou simples lugar comum nos
próximos anos.
A poucos
anos atrás, a grande novidade era que no pico do verão Portugal tinha atingido
por alguns minutos, próximo ao meio dia, 100% de geração renovável, o que era
um marco, mas visto com desconfiança, pois o desafio seria conseguir manter
este perfil de geração por um período que incluísse a noite, sem a necessidade
de recorrer a termoelétricas fósseis ou nucleares.
Portugal é
um país pequeno, com pouco mais de 10 milhões de habitantes, mas representa um
sinal de uma tendência mais ampla que se alastra pela Europa. Ainda em maio, a
Alemanha, maior economia da região, atingiu pela primeira vez na história 100%
de eletricidade de fontes renováveis por alguns minutos. Como suas usinas
nucleares e termoelétricas a carvão não podem ser desligadas e religadas, está sobrando
energia no país que em certos momentos tem preço de energia negativo.
Ainda em
maio, a Inglaterra viveu seus primeiros momentos em 100% de geração elétrica
sem usinas a carvão, foram alguns minutos, mas prevê-se que durante o verão
poderá a chegar a horas e quem sabe dias. Na Dinamarca, a geração eólica –
iniciada nos anos 70 - cresceu tanto na última década, que alguns dias em 2015
as eólicas chegaram a gerar 140% da demanda de eletricidade do país que já
exporta o excedente para países como Suécia, Noruega e Alemanha. Como boa parte
da produção acontece off-shore (ou seja, no oceano) o potencial de geração pode
ser ampliado muitas vezes. As trocas de energia com a Noruega são
particularmente interessantes pois o país tem grandes hidroelétrica e devolve
energia para Dinamarca nos momentos de menos ventos.
O próximo grande desafio expansão das energias renováveis é a formação de um smart-grid continental e depois intercontinental. Então vamos a ele!
Publicado na Coluna Bússola de Época Negócios Edição de Julho 2016
Foto: Ilha El Hierro, Canárias