Como em
toda apresentação ou palestra eu estava um pouco apreensivo, claro. Mas ao
entrar na sala vi que esta não seria apenas mais uma aula. Uma cadeira, sem
mesa ou qualquer artefato de anteparo e a frente, em formato de u, a audiência
atenta e olho no olho. Mal deu para dar boa tarde e lá veio a primeira tacada:
- Pai da Clara, quando a árvore para de crescer?
Enquanto eu
ainda elaborava a resposta da primeira pergunta, explicando que a maioria das
árvores cresce até morrer, já veio a segunda: mas então porque a árvore morre?
Como a árvore cresce? Como a árvore bebe água? Ao explicar como a árvore cresce
transformando ar, luz do sol, nutrientes do solo e água em raiz, tronco, galhos
e folhas fui interrompido assertivamente: Então, Pai da Clara, no deserto não
tem árvore porque não chove ou não chove porque não tem árvores?
Parece
trivial né? Mas tente responder sem gaguejar. Era como se me dissessem: - Cheque! Tudo assim, sem cerimônia, nada de rodada de
apresentação ou... - Só temos uma hora e muitas perguntas!
Semanas
antes, a professora me ligara dizendo que estavam num projeto de aprender
medidas para o qual escolheram árvores como objeto de estudo. Depois de testar
vários métodos para medir a altura das árvores da praça, a Clara sugeriu:
-Meu pai é engenheiro florestal e entende de
árvores, ele podia vir ensinar a gente.
Então lá
estava eu explicando grandezas sobre as árvores. Até preparei uns slides com
fotos das árvores mais altas, mais velhas, mais largas, com a maior folha e por
ai vai. Mas para aquelas crianças isto era só aperitivo, uma escada para
entender a fundo a natureza das coisas.
Crianças de
6 a 7 anos têm hoje um nível de cognição impensável há 30 anos atrás.
As sinapses que fazem são desconcertantes. Eu participo de TED talks, aulas em
universidades e palestras nos mais diversos tipos de eventos com centenas de
pessoas e poderia contar nos dedos os momentos em que a atenção tenha sido tão
concentrada e a interação tão assertiva e direta.
Isso é
muito poderoso quando converge para os temas da natureza e sustentabilidade e
seu rico universo de mistérios a serem desvendados, vividos e contemplados.
Esta
geração vai viver num mundo mais complexo e complicado e é nosso dever
deixar-lhes como legado as bases para que possam impulsionar um mundo mais
justo e sustentável.
Onde eu
estiver continuarei feliz em ser apenas o pai da Clara, aquela que com sua
geração deixou para os filhos um mundo melhor.
Publicado em O GLOBO, em 25.05.2016