Chefes de estado de todo o mundo estiveram em Nova Iorque em abril para assinar o Acordo de Paris, que tem como objetivo limitar o aumento da temperatura média global abaixo de 2oC. Para cumprir esse compromisso será necessário zerar as emissões de gases de efeito estufa neste século - algo inviável sem uma drástica redução do uso de carvão mineral e petróleo.
O desafio de superar
essa dependência do petróleo vai muito além de encontrar alternativas
para o uso de combustíveis fósseis como querosene, gasolina e diesel.
Existem milhares de produtos baseados em derivados
do óleo, como fertilizantes nitrogenados, tecidos sintéticos,
plásticos, tintas, medicamentos, detergentes, ceras, entre outros. A
profusão de setores dependentes desses derivados é tamanha que alguns
especialistas sugerem que se hoje houvesse falta imediata
de petróleo, a agricultura e a indústria farmacêutica poderiam entrar
em colapso.
A busca por alternativas
para substituí-los avançaram significativamente nas últimas duas
décadas. Já produzimos álcool combustível e plásticos a partir da cana
de açúcar, fizemos biodiesel a partir de biomassa,
desenvolvemos ceras e tintas com base em resinas e pigmentos naturais e
mais uma enormidade de tecnologias e produtos.
Apesar de promissora, a
abordagem da substituição produto a produto não consegue gerar a escala
hoje existente nas refinarias e polos petroquímicos. Por outro lado,
mesmo que todos os produtos encontrassem substitutos,
criando rotas alternativas de produção, restaria o desafio de amortizar
o enorme capital empregado nas refinarias.
Porém, uma outra
abordagem começou a ganhar força na última década: a criação de
biorrefinarias. Em essência, trata-se de refinar biomassa para que gere
os derivados hoje produzidos com petróleo. Isso é possível
porque o petróleo e seus derivados são hidrocarbonetos, ou seja, em
essência são combinações diferentes de átomos de carbono e hidrogênio.
Assim, a partir de biomassa, especialmente a lenhosa, seria possível
gerar os mesmos derivados.
As primeiras
experiências nesse sentido foram feitas com o tratamento dos gases
oriundos da produção de carvão vegetal e com o licor negro proveniente
da fabricação de celulose. Num segundo momento, foram testadas
as biorrefinarias especializadas em fracionar a biomassa para obter os
subprodutos. Em síntese, entra madeira ou outra fonte de biomassa de um
lado e do outro saem os diversos produtos refinados.
Mas existem abordagens
mais arrojadas como a que é conduzida pela empresa americana Ensyn em
parceria com a brasileira Fibria. Através de uma tecnologia batizada de
RTP (Rapid Thermal Processing) a madeira é liquefeita
e transformada em um óleo cru com as mesmas propriedades do petróleo. A
similaridade é tanta que foi possível refinar o óleo em refinarias
feitas para operar com petróleo. Esta abordagem permitiria utilizar a
própria infraestrutura de refinarias atuais para
produzir os derivados, aproveitando o capital já investido e tornando
mais fácil a aposentadoria do petróleo.
A produção florestal do
planeta precisaria dobrar para dar conta de substituir o petróleo na
fabricação dos derivados não combustíveis. Uma base florestal maior
aumenta a captura de carbono, tornando o efeito
benéfico para o clima. Ai está o caminho para transformar a indústria
petroquímica na nova indústria bioquímica.
Publicado em Época Negócios na edição de Maio/2016