quinta-feira, 28 de abril de 2016

Saída para frente

Em meio a uma das mais profundas crises política e econômica por que o Brasil já passou, as propostas para superá-la são baseadas em soluções do passado e pouco mobilizadoras.  

Seja governo ou oposição e mesmo boa parte dos analistas do "mercado", batem nas mesmas teclas com maior ou menor intensidade: reforma/ choque fiscal, previdenciária e política, revisão do pacto federativo, ampliação do crédito e consumo, recuperação da indústria e retomada dos investimentos (leia-se: obras).

São todos temas importantes, mas eles parecem almejam retomar as conquistas passadas.

As reformas e a revisão do pacto federativo são fonte de grande tensão e antagonismos que, dificilmente, terão solução sem que uma visão compartilhada e inspiradora de futuro coloque em perspectiva as perdas e ganhos de cada grupo de interesse.

O combate à inflação e a busca da estabilidade econômica foi a fonte de inspiração para as reformas dos anos 90, incluindo - talvez como um dos principais símbolos - a Lei de Responsabilidade Fiscal.  Na década passada, o combate à pobreza e à desigualdade foi o compromisso integrador que impulsionou a criação de um amplo conjunto de políticas de proteção e acensão social.  Ambos os períodos foram vitoriosos em mobilizar diversas forças da sociedade para dar amplo apoio às ações necessárias para evoluir rumo à visão de futuro maior.

O Brasil precisa sim recuperar as conquistas passadas, mas precisa ir além.  Afinal, estamos muito distantes do grau de desenvolvimento e qualidade de vida que desejamos e merecemos. Precisamos de uma visão compartilhada de futuro que converse com os desafios contemporâneos do mundo: a ampliação da democracia, o combate às mudanças climáticas e o desenvolvimento sustentável.

A Coalizão Brasil Clima Floresta e Agricultura é um bom exemplo de como a visão integradora pode facilitar avanços nas agendas mais espinhosas.  A Coalizão, criada no inicio de 2015, reúne mais de cem instituições entre entidades ruralistas, ambientalistas, industriais e organizações de consumidores que raramente se sentavam à mesa se não fosse para travar batalhas como a que configurou a aprovação do novo Código Florestal, a regulamentação de transgênicos ou o combate ao desmatamento.  Ainda que as organizações tenham pontos de vista muito diferentes sobre muitos temas, conseguiram articular uma visão comum de futuro: "a agricultura, pecuária e economia florestal impulsionando o Brasil para liderança global da economia sustentável e de baixo carbono, gerando prosperidade para todos."  Com base nesta visão, trabalham em uma intensa agenda propositiva para apoiar o fim do desmatamento, implementar o Código Florestal, promover metas ambiciosas para a agenda de mudanças climáticas e, ao mesmo tempo, promover a competitividade da agropecuária e indústria florestal brasileira.

É disso que precisamos agora.  Uma visão compartilhada de futuro que inspire o Brasil a dar um novo salto.

Publicado em O Globo em 27.04.2016