Em um livro recente, o engenheiro David Sedlak da Universidade
de Berkeley, descreve três revoluções pela qual passou o desenvolvimento de sistemas
de água em centros urbanos. O primeiro foi a inovação romana de captar água
potável e despejar esgoto fora dos centros mais populosos. Já a segunda
revolução foi o tratamento da água para consumo eliminando micro-organismos
patógenos e por fim a terceira foi a implantação dos sistemas de tratamento de
esgoto.
Sedlak completa indicando a necessidade de uma quarta
revolução da água necessária para enfrentar um conjunto de problemas bem
atuais: a escassez de água em diversas regiões afetadas pelas mudanças do clima e
consumo desproporcional, a capacidade de tratamento e a excessiva - e cada vez mais
complex - contaminação química da água. Ainda poderia acrescentar a desigualdade
de condições de oferta de água limpa em diferentes regiões do planeta
devido aos custos envolvidos.
A coleta e tratamento de esgoto é absolutamente fundamental
para a geração de um ambiente saudável no meio urbano. Porém, infelizmente, ainda é
uma realidade muito distante do mundo em
desenvolvimento. No Brasil, seguindo o Instituto Trata Brasil metade da
população não conta com sistema de coleta de esgoto e só 40% do esgoto é
tratado. Tratamento de esgoto exige infraestrutura cara de coleta, demanda
espaço grande muita energia (cerca de 2 KWh/m3).
Outro desafio grande é a dessalinização da água para viabilizar
o abastecimento em regiões de grande déficit hídrico. É um processo caro, em
geral realizado por osmose reversa, onde a água empurrada em pressão por vários
filtros com enorme consumo de energia (cerca 4 KWh/m3). Apenas como exemplo, em Fernando de Noronha
a unidade de dessalinização da água chega a representar 50% do demanda de
energia da ilha.
Existem várias inciativas no mundo que buscam soluções para
acelerar, baratear e simplificar o tratamento de água e esgoto. Nos EUA uma
startup chamada Janicki Bionergy desenvolveu o Omniprocessor, uma usina onde de
um lado entra esgoto e do outro saem energia, água potável e cinzas
fertilizantes e viralizou quando Bill Gates tomou um copo d’água que saia da usina.
No Brasil, outra startup - MoOmi (água limpa em Iorubá) - desenvolveu
um sistema ainda mais inovador que separa a água das demais partículas do
esgoto usando ultrassom, sem a utilização de produtos químicos ou decomposição
bacteriana. O sistema é continuo e rápido o que reduz em 75% a área ocupada
pelo sistema de tratamento. O consumo de energia é apenas 10% do que consome o
sistema tradicional e os custos de implementação e operação caem pela metade. A
primeira unidade operacional com capacidade de 240 m3/hora já funciona em
Ubatuba no litoral paulista. O mesmo sistema pode ser utilizado para
dessanilizar água com reduções no consumo de energia superiores a 95%. Por usar
área menor e poder ser feita em diferentes escalas pode viabilizar redes de
coleta de esgoto menos complexas e mais distribuídas facilitando a implementação da infraestrutura de saneamento
básico.
Mais um bom exemplo de inovações que podem acelerar o
alcance das metas globais de desenvolvimento sustentável.
Publicado na Coluna Bússola de Épocao Negócios, Fevereiro de 2017