Discutimos em posts anteriores o grande desafio para reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) no planeta de modo a limitar o aumento da temperatura média global.
Se o limite de 2ºC, definido em 2009 no for o parâmetro a ser perseguido, as emissões anuais médias de carbono não devem ultrapassar 11GtCO2 por ano até o final deste século. É um desafio e tanto já que, hoje, as emissões globais alcançam 52GtCO2eq.
O principal contribuinte para as emissões de gases de efeito estufa é o setor de energia que emite cerca de 31GtCO2/ano. Mesmo considerando que todos os outros setores reduzam a zero as suas emissões, o setor energético terá que reduzir suas emissões a menos de 1/3 das atuais para que possamos cumprir as 11GtCO2 médias do orçamento de carbono até o final do século.
É um tremendo desafio, especialmente se considerarmos que, antes de meados do século, a demanda por energia vai dobrar. Ou seja, temos que dobrar a capacidade de oferta de energia com zero de emissões e ainda reduzir 2/3 das emissões da capacidade já instalada.
Para enfrentar este dilema há cinco linhas clássicas de ação, possíveis e já em desenvolvimento:
1. Promover a racionalização/redução do consumo;
2. Reduzir perdas no processo de geração-distribuição-consumo;
3. Aumentar a eficiência energética dos equipamentos e sistemas;
4. Promover fontes renováveis de energia (com emissão baixa ou nula) e
5. Estabelecer tecnologias de sequestro/captura de carbono para as fontes fósseis.
Porém, uma das transformações mais importantes em escala, que podem mudar o jogo, é a progressiva eletrificação do planeta. A eficiência do processo de produção/geração, armazenamento, transporte/transmissão e consumo da energia é significativamente maior por meio de sistemas elétricos do que de motores a combustão.
Por exemplo, o motor a gasolina de um carro transforma em movimento cerca de 15% da energia contida no combustível. Se o mesmo combustível for queimado em uma usina térmica moderna e abastecer um carro elétrico, o aproveitamento mais do que dobra, dada a eficiência do motor elétrico.
Por outro lado, a multiplicação rede elétrica acoplada a sistemas de armazenamento (ex. baterias, células de hidrogênio, soluções salinas etc) permite que se utilize mais fontes de energia intermitentes como solar e eólica. Um grande sistema de bateria pode ser programado para funcionar como um sistema descentralizado de armazenamento de energia (que pode fazer o papel de reservatório de hidroelétricas).
Uma outra vantagem é que, neste caso, a eletricidade pode ser transmitida a grande distâncias com baixíssimas emissões. Sistemas interligados além fronteiras podem viabilizar a produção de energia onde houver as melhores oportunidades de geração renovável e sustentável estejam presentes.
Difícil prever o que acontecerá com a energia no futuro, mas é desejável e provável que qualquer que seja o caminho ele deve passar pela intensificação da eletrificação do planeta.