segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Emissões Globais começam a desacelerar

Em 2012, aconteceu a primeira desaceleração das emissões globais não relacionada a uma crise econômica específica, mas em tomadas de decisão e evoluções das mesmas, em países-chave como Brasil, China, Estados Unidos e Canadá.
Segundo o Relatório 2013 de Tendências em Emissões Globais de CO2 publicado pelo Join Research Center da Comissão Européiaem parceria com o Ministério de Meio Ambiente da Holanda, as emissões globais de CO2 atingiram 34,5 bilhões de toneladas (Gt) em 2012, o que significa crescimento de 1,4% em relação a 2011, bem abaixo da média de 2,9% de crescimento anual da década passada. A economia global cresceu 3,2% em 2012 o que reforça a importância desta desaceleração.
grafico-emissoes-co2
Vários fatores têm contribuído para esta desaceleração dos quais vale destacar estes:
1. Declínio expressivo de emissões no Canadá e dos Estados Unidos devido a substituição de carvão mineral por gás de xisto nas termoelétricas a um preço extremamente competitivo;
2. Novas regulamentações de limites de emissão para usinas termoelétricas nos Estados Unidos, totalmente desestimulantes a novas termoelétricas a carvão mineral;
3. Expressivo crescimento do investimento em energias renováveis – desde 1992, foram necessários 15 anos para dobrar a participação das energias renováveis não convencionais (biocombustíveis, solar e eólica) de 05 para 1,1% da matriz global e apenas outros 6 anos para dobrar novamente para 2,4% em 2012. A geração de energia por hidroelétricas cresceu 4,3% apenas entre 2011 e 2012;
4. Segundo o REN 21 - Renewables 2013 - Global Status Report, em 2012, as fontes renováveis ultrapassaram as fontes fósseis em potencial de geração de energia elétrica adicional instalada. Na Europa já representa 70% dos novos projetos e na China pela primeira vez ultrapassou o carvão mineral;
5. A nova regulamentação chinesa para o setor siderúrgico e termoelétrico que define metas progressivas de desaceleração e redução do uso de carvão mineral especialmente próximo aos grandes centros urbanos por conta da poluição do ar e água esta mudando a tendência de conformação destes setores;
6. Na Austrália e na Nova Zelândia, novos sistemas de taxação e mercado de carbono começou a funcionar em escala, ao mesmo tempo que o sistema europeu volta a tomar fôlego; e
7. O Brasil reduziu drasticamente as emissões de CO2 por desmatamento, especialmente na Amazônia. Na década passada, a perda de cobertura florestal global diminuiu pela primeira vez, desde que as medidas começaram a ser tomadas pela FAO no inicio do século passado.
O que tem sido crucial para esta nova tendência é a confluência de ações de países e regiões que representam mais de 50% das emissões globais e que, adicionalmente, são os motores das decisões em política climática global. Foi justamente a resistência de países como EUA, Canadá e China em se comprometer com avanços nesta agenda que impediu um acordo climático ambicioso em Copenhague, em 2009.
Se persistir e aprofundar esta tendência de desaceleração, é possível que tenhamos o pico das emissões globais antes de 2020, renovando as esperanças de conseguirmos colocar o planeta em marcha para uma forte redução das emissões nas próximas décadas, que seja compatível com o cenário de limitar o aumento de temperatura média do planeta em 2oC.
Esta nova conformação é, sem dúvida, a maior contribuição para garantir que, em 2015, em Paris, possamos finalmente ter o novo acordo climático global com metas e compromissos de todos os países para o enfrentamento das mudanças climáticas globais a partir de 2020.

Publicado em Planeta Sustentável em 04-11-2013