segunda-feira, 18 de agosto de 2014

A revolução em curso na meteorologia: mais precisa, antecipada e abrangente


blog-do-clima-metereologia-agosto2014A crescente ocorrência de eventos climáticos extremos tem provocado prejuízos econômicos, sociais e ambientais enormes como verificado no Atlas Global de Mortalidade e Perdas Econômicas por Extremos Climáticos. Na última década, na média, ocorreu um evento extremo de grande magnitude por dia no planeta: 40% a mais que na década anterior.
A mudança destes padrões climáticos fortemente influenciados pelas atividades antrópicas tornou urgente o salto no entendimento das forças operando o clima de forma a resultar em previsões mais precisas, antecipadas e abrangentes.
Esta semana, entre 16 e 21 de agosto acontece em Montreal, no Canadá, a primeiraConferência Mundial Open Science de Meteorologia (World Weather Open Science Conference – WWOSC) que reúne mais de mil especialistas com objetivo de elaborar uma plataforma de estudo e desenvolvimento científico que permita aprimorar de forma marcante o entendimento de como surgem, para onde podem caminhar e qual a intensidade de furacõestempestadesciclonestufõesondas de calor ou calor entre outros eventos extremos.
Apesar da longa existência de organizações como a Organização Meteorológica Mundial* (um dos promotores do evento) e dezenas de outras organizações que trabalham para melhorar a ciência meteorológica, a iniciativa do WWOSC incorpora algumas inovações que podem levar esta ciência a outro patamar.
INTEGRAÇÃO ENTRE CIÊNCIA DO CLIMA E METEOROLOGIA
A previsão meteorológica avançou muito nos últimos 20 anos. Hoje, uma previsão de cinco dias é tão precisa quanto a de dois dias de décadas atrás. Mas, antes, a ciência do clima e a meteorologia caminhavam em separado. Como se a primeira estivesse dedicada ao entendimento dos grandes processos globais de longo prazo e, a segunda, concentrada nos processos de abrangência regional de curto prazo. Esta fronteira está desaparecendo e no WWOSC os dois campos trabalham juntos.
A capacidade de processamento de dados tem permitido dar maior especificidade e abrangência para os modelos climáticos globais, permitindo torná-los mais úteis e próximos das necessidades da previsão meteorológica de curto prazo. Modelos que demorariam semanas para ser processados, uma década atrás, hoje podem rodar em minutos.
ALÉM DOS PROCESSOS ATMOSFÉRICOS E OCEÂNICOS
O enfrentamento dos riscos associados a eventos extremos como os ciclones tropicais exigem uma semana de antecedência, portanto mais que as previsões de poucos dias. Entender o caminho que estes ciclones podem tomar é tão crucial como compreender onde podem ser formar.
Para isso, os cientistas começam a associar, em larga escala, o entendimento dos processos atmosféricos e oceânicos com a informação sobre a dinâmica da superfície terrestre. Entender como a presença ou ausência de florestas, os espaços urbanos e a infraestrutura podem afetar o caminho dos ventos, da nuvem e da chuva passa a ser tão importante quando conhecer a dinâmica das correntes de ar na atmosfera.
SISTEMA DE PREVISÃO GLOBAL CONTINUADA
Ao rodar modelos globais para aprimorar as previsões locais, associado a uma enorme quantidade de novos sensores e satélites e à alta capacidade de processamento de grandes volumes de informação, é possível ir além das previsões diárias sobre o clima num determinado período à frente (5-10 dias). Será possível estabelecer um sistema de previsão contínuo do tempo em todo o planeta, com atualização em tempo real. A qualquer momento, poderemos perguntar a probabilidade de um determinado evento climático ocorrer em qualquer ponto do planeta a qualquer tempo.
Estes avanços serão potencializados pelo espirito da pesquisa aberta (Open Science)que promove a colaboração direta entre diferentes grupos de pesquisa em todo o mundo com troca de experiências e informação durante o próprio processo de pesquisa, muito antes das publicações, acelerando o desenvolvimento dos produtos e serviços mais úteis ao propósito comum.
Estes avanços devem influenciar a Conferência Mundial sobre Redução de Risco de Desastres a ser realizada em março de 2015, em Sendai, Japão e certamente será uma enorme contribuição para os esforços de mitigação e adaptação as mudanças climáticas.

Publicado em Planeta Sustentável - 18.08.2014