Segundo
o IPCC — painel de cientistas da ONU para mudanças climáticas —, é
necessário limitar as emissões globais de gases de efeito estufa em mil
bilhões de toneladas de CO2 equivalente (CO2e) entre 2012 e 2100, para
que possamos deter o aquecimento global em até dois graus até o fim do
século.
Para
se ter uma ideia do que isso representa, desde meados do século 19 até
hoje foram emitidas cerca de 2.600 gigatoneladas de CO2 equivalente e
deste total as últimas mil gigatoneladas foram emitidas entre 1990 e
2012. Se considerar o ritmo atual de emissão global anual, na casa de 52
gigatoneladas de CO2e, o limite proposto pelo IPCC seria esgotado em
menos de 20 anos.
Os
diversos cenários considerados pelo IPCC para alcançar o objetivo de
dois graus indicam que as emissões devem ser reduzidas a menos de 20
gigatoneladas de CO2e em 2050. Considerando uma população atual de 7,2
bilhões de pessoas e, em 2050, em pouco mais de nove bilhões, a emissão
per capita média global deveria cair das atuais sete toneladas de CO2e
para cerca de duas toneladas de CO2e em 2050.
Segundo
os dados do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito
Estufa do Observatório do Clima (SEEG/OC), o Brasil emitiu no acumulado
de 1990 a 2012 um total de 46 gigatoneladas de CO2e, ou cerca de 4,5%
das emissões globais no período. Em termos per capita, as emissões
brasileiras chegaram a alcançar mais de 17 toneladas de CO2e na década
de 90 e apenas a partir de 2005, com a expressiva queda do desmatamento,
começou a regredir até que em 2012 convergiu para média global de sete
toneladas de CO2e por habitante por ano.
No
novo acordo global de clima em negociação até o fim de 2015, é esperado
que todos os países assumam metas e compromissos para contribuir com a
redução de emissões de forma a limitar o aquecimento global a dois
graus.
Considerando
o Brasil um país industrializado e de renda média, é razoável pensar
que deveríamos chegar em 2050 com a emissão per capita pelo menos
alinhada com a média global. O IBGE estima a população brasileira em 230
milhões de habitantes em 2050. Portanto, o compromisso brasileiro
deveria ser orientado a limitar suas emissões a cerca de 500 milhões de
toneladas de CO2e, ou cerca de um terço da 1,5 gigatonelada de CO2e
emitida em 2012.
Com
esta visão de longo prazo, é essencial orientar politicas de inovação e
promoção do desenvolvimento do país que contemplem como diretrizes:
zerar a perda de cobertura florestal, neutralizar as emissões do setor
agrícola, reverter a tendência de queda na participação de fontes
renováveis de energia na matriz energética, universalizar o tratamento
biológico de resíduos sólidos e esgoto no Brasil com aproveitamento do
biogás e dos materiais recicláveis e implantar iniciativas de captura e
armazenamento biológico de carbono.
Publicado em O Globo em 29.08.2014