quinta-feira, 17 de março de 2011

Um Longo Caminho


O Brasil ainda está longe de ser um país com economia de baixo carbono, apesar dos grandes avanços nos últimos anos.

Hoje o mundo emite anualmente cerca de 50 GtCO2eq na atmosfera o que resulta em uma emissão média de 7 tCO2eq por habitante e em uma geração de US$ 1200 de PIB global por cada tonelada de CO2eq emitido. O Brasil, segundo dados do inventário nacional de emissões, emitiu em 2005 cerca de 2,2 GtCO2eq. Isto corresponde a uma emissão per capta é de 11,6 tCOeq e geração de PIB de pouco mais de US$ 680 por tonelada de CO2eq emitido. Ou seja, nos dois aspectos estamos pior que a média global.
Mas o que seria então uma economia de baixo carbono?

Para que o planeta tenha chance de manter o aumento de temperatura média global abaixo de 2ºC será necessário reduzir as emissões globais em 80% até 2050, ou seja menos de 10 GtCOeq por ano. Isso quer dizer, considerando as projeções de PIB global e população global em 2050, que a emissão per capta anual deverá ser de 1 tCO2eq e a geração de riqueza de US$ 20.000 por tonelada emitida.

Com as atuais metas de redução de emissões o Brasil deverá baixar as emissões para 2 GtCOeq até 2020. Considerando as projeções de população, se mantivermos o crescimento da economia no ritmo de 4-5% ao ano, chegaremos em 2020 com uma redução de emissão per capta para 10 tCO2eq e a geração de PIB por tCO2eq dobrará, atingindo pouco menos de US$ 1400. É um avanço, mas para chegar ao nível de uma economia de baixo carbono que se espera em 2050 o Brasil deverá reduzir suas emissões a cerca de 0,3 GtCO2eq.

Parece uma revolução. E é mesmo. Teremos que ser criativos e inovadores e utilizar plenamente nossas possibilidades como potencial ambiental. Em 2005, o desmatamento e a atividade agropecuária representavam 80% das emissões brasileiras. O desmatamento em queda nos últimos anos precisa ser zerado. As emissões devidas à agropecuária são neutralizáveis com aplicação de práticas agrícolas já desenvolvidas ou em pleno desenvolvimento pela Embrapa e outras instituições como: fixação biológica de nitrogênio, integração lavoura e pecuária, agrossilvicultura entre outras.

As emissões de resíduos (lixões) somam hoje 2% das emissões e poderão ser dramaticamente reduzidas se a Politica Nacional de Resíduos Sólidos, regulamentada recentemente, for plenamente implantada.

Apesar de representar em 2005 apenas 18% do total de emissões, os setores de energia e indústria apresentam os maiores desafios futuros de redução de emissões. As emissões de energia e indústria no Brasil já eram em 2005 de 400 milhões de tCO2eq. Se zerarmos as emissões líquidas de desmatamento, agropecuária e resíduos, ainda assim teremos que reduzir em cerca de 20% as emissões de energia e indústria para alcançarmos o padrão global de uma economia de baixo carbono.

Estes setores têm emissões crescentes relacionadas a investimentos de longo prazo no Brasil. Uma nova siderúrgica ou termoelétrica instalada hoje com base em carvão mineral está comprometendo emissões por 30-40 anos. Estes setores só darão sua contribuição plena para o Brasil avançar numa economia de baixo carbono se as decisões certas forem tomadas agora.
Em 2010, o governo excluiu as energias fósseis dos leilões de energia. Foi um passo importantíssimo, mas que precisa ser efetivado como política de longo prazo. Por outro lado, dezenas de grandes empreendimentos privados estão sendo construídas ou planejadas no Brasil para consumir combustíveis fósseis, muitos plenamente substituíveis por fontes renováveis.

Alguns setores terão desafios enormes, como o siderúrgico. Parte da produção, como ferro-gusa e aços longos, pode ser feita com carvão vegetal de plantio florestal, mas outra parte, como aços planos, ainda não possui tecnologia para substituição. Este é o exemplo de um setor que demandará muito investimento em inovação para reduzir e compensar as emissões.
O Brasil tem enorme potencial para se tornar a primeira grande economia de baixo carbono, mas ainda existe um longo caminho pela frente. E tem que começar a ser percorrido já.

Artigo publicado no O GLOBO em 16/03/2011