quarta-feira, 30 de março de 2016

Política a celebrar



Passou quase desapercebido, mas, no dia 2 de março, a Lei 11.284, que estabeleceu a Política Nacional de Gestão das Florestas Públicas do Brasil, completou dez anos.

Em 2004, o Brasil vivia um pico de desmatamento na Amazônia que chegou a 27 mil quilômetros quadrados em um ano ( o equivalente a pouco mais da metade do Estado do Rio de Janeiro), impulsionado pela atividade madeireira ilegal e a conversão de floresta em pastagem e agricultura. Mais de 90% das atividades ilegais aconteciam em áreas públicas, muitas vezes com intuito de tomar posse para posteriormente requerer título de propriedade. As florestas públicas ( áreas florestadas em terras públicas) somam mais de um terço do território nacional.

Naquele ano, foi formada a Comissão Nacional de Florestas, com representantes da academia, trabalhadores, ONGs, movimentos sociais, organizações empresariais, governos federal, estaduais e municipais, que trabalharam um ano analisando as melhores práticas no Brasil e no mundo, além de inúmeras rodadas de consulta pública para gerar uma proposta de consenso sobre como gerir as florestas públicas brasileiras. Foi esta a proposta enviada para o Congresso Nacional e aprovada em 11 meses ( um tempo mínimo em não se tratando de MP), contando com apoio tão diverso como do Greenpeace, Confederação dos Povos Indígenas e Associação das Indústrias Madeireiras.

A mensagem da lei é simples: áreas de florestas públicas devem permanecer sendo florestas e continuar sendo públicas, ou seja, não devem ser desmatadas nem privatizadas, como vinha acontecendo até então. Elas devem ser destinadas para proteção e preservação em unidades de conservação e o uso e benefício das comunidades tradicionais como indígenas, quilombolas e extrativistas. Uma vez estes dois objetivos cumpridos, parte das áreas pode também ser destinada ao manejo florestal sustentável para produção de madeira e produtos florestais não madeireiros ( castanhas, frutos, fibras, ervas etc.) através de concessões florestais ou gestão direta.

Como principal órgão implementador da política, foi criado o Serviço Florestal Brasileiro, que implantou o Cadastro Nacional de Florestas Públicas, o Fundo Nacional de Desenvolvimento Florestal, o Inventário Florestal Nacional e o sistema de concessões florestais, que já conta com mais de um milhão de hectares de florestas sob contratos de concessão de 40 anos, obtidos em licitações inovadoras por premiar as propostas de menor impacto ambiental e maior benefício social e econômico.

Ao regulamentar o uso das florestas públicas e fomentar o desenvolvimento de atividades econômicas sustentáveis como alternativas ao desmatamento, a Política Nacional de Gestão de Florestas Públicas foi parte fundamental do esforço do país que resultou na queda de mais de 80% do desmatamento desde 2004.

É a lição de que políticas bem formuladas e implementadas dão os seus frutos mesmo em tempos de grande turbulência.

Publicado em O Globo em 30.03.2016

segunda-feira, 14 de março de 2016

O Hyperloop vem aí

O quinto modal de transporte será mais rápido, barato, seguro e sustentável do que os modais atuais.


Que tal ir de São Paulo ao Rio de Janeiro em metade do tempo e um terço do preço da ponte aérea? E se além disso a viagem fosse neutra em emissões de carbono e a infraestrutura pudesse ser montada em alguns meses?

Avião, barco, trem ou ônibus, nenhum dos atuais modais de transporte é capaz desta proeza, mas um novo tipo de transporte batizado de Hyperloop é o principal candidato a promover esta revolução. O loop refere-se ao modo de conexão, sempre em voltas e o hyper refere-se a possibilidade de andar a velocidades hipersônicas.

O conceito é aparentemente simples: capsulas de transporte de passageiros são aceleradas magneticamente até 1200 km/h num tubo despressurizado (quase vácuo).  A ideia foi concebida originalmente por Elon Musk e um time de engenheiros da SpaceX e Tesla que publicaram em 2013 um documento de 70 páginas explicando como o hyperloop poderia funcionar. Ao anunciar o conceito, declararam o projeto aberto para quem quisesse desenvolver.

A motivação era propor uma alternativa ao projeto do trem bala que se pretendia instalar entre São Francisco e Los Angeles (620km) a um custo de US$ 60 bilhões, com quase uma década para construção e que faria a viagem mais lenta que um avião. Quando anunciou a idéia, Elon Musk disse que era possível implementar na metade do tempo e a um décimo do custo um meio de transporte pelo menos duas vezes mais rápido e ainda fazê-lo utilizando apenas energia renovável.

Logo após o lançamento da ideia diversos grupos começaram a se organizar experimentar os conceitos e viabilizar os primeiros protótipos. Duas startups concorrem para ver quem coloca o conceito em prática mais rápido – Hyperloop TransportationTecnhnologies (HTT) uma iniciativa colaborativa envolvendo centenas de pesquisadores e engenheiros especialmente dos EUA e  Hyperloop Tech (HTech) com sede e fábrica em Los Angeles. A HTT já constrói uma pista (ou seria tubo) de teste em Quay Valley na Califórnia e a HTech faz o mesmo no deserto de Nevada, ambas devem estar em funcionamento este ano.

Uma competição promovida pela SpaceX para produzir alternativas de capsulas (ou pods como são chamadas) lançada em meados de 2015 atraiu mais de 700 propostas de diferentes universidades e 20 delas foram selecionadas para testá-las no campo de teste da HTT ainda em 2016.

No ritmo atual, não será surpresa se as primeiras aplicações comerciais do Hyperloop entrem em operação antes de 2020.

Mas o transporte de passageiros é só uma das aplicações. Talvez a maior revolução seja a aplicação desta tecnologia para o transporte de carga. Um container poderia ser enviado da China para os EUA no mesmo dia por tubos submarinos com custos substancialmente menores que o transporte marítimo. Como é um tubo fechado não sobre com intemperes ou mau tempo.


Para avançarmos no objetivo de zerar as emissões de gases de efeito estufa em meados do século é fundamental nos livrarmos da dependência de combustíveis fósseis no transporte de carga e passageiros. A eletrificação do transporte rodoviário de passageiros é uma realidade em implementação, mas o transporte aéreo e o transporte de carga que representam mais de 5% das emissões globais permanecem como um enorme desafio a ser vencido. O Hyperloop pode ser a chave para alavancar a revolução necessária no setor de transportes.

Publicado em Época Negócios na edição de março/2016

terça-feira, 1 de março de 2016

Serviço Florestal Brasileiro completa 10 anos

Em 2 de março de 2006 foi promulgada a Lei de Gestão de Florestas Públicas e com ela nascia o Serviço Florestal Brasileiro. Parece que foi ontem que ocupamos uma pequena salinha nos fundos do sexto andar do prédio do MMA na esplanada para começar a colocar em três dimensões os vários instrumentos inovadores da política florestal criados pela nova lei como o Cadastro Nacional de Florestas Publicas, as concessões florestais, o Fundo Nacional de Desenvolvimento Florestal, o Inventário Florestal Nacional e muito mais.

Hora de celebrar! mas só um pouquinho...  ainda são inúmeros os desafios pela frente!


A primeira foto com toda equipe do Serviço Florestal, incluindo LPF e CENAFLOR (2008)