O sobrevoo
sobre as florestas boreais na província da costa oeste no Canadá é superlativo
em todos os sentidos, mas na ultima década o que mais impressiona é um
verdadeiro mar de árvores mortas que se estendem por milhares de quilômetros
quadrados.
Do tamanho
de um grão de arroz o Dendroctonus ponderosae, também conhecido como
Pine Beatle (besouro do pinho)
está literalmente comendo as florestas boreais no oeste do Canadá. A larva do
bicho se entranha pelo troco e come os pinheiros por dentro, matando-os em pé.
Inseto natural da região a sua população sempre viveu um ciclo de crescimento
nos períodos quentes e quando prestes a se tornar uma praga era naturalmente
controlado pelo intenso frio das semanas mais geladas do inverno Canadense. Ao
longo da ultima década os dias de frio intenso no inverno tem diminuído e com
isso a população do besouro tem crescido descontroladamente e se tornou uma
praga terrível que já afetou mais de 20 milhões de hectares no Canadá e norte
dos Estados Unidos (isso equivale a mais de quatro vezes o Estado do Rio de
Janeiro).
As árvores mortas são combustíveis para incêndios e a forma de
controlar a expansão da praga e o fogo descontrolado é cortar milhões de árvores
com consequências graves para economia (uso das árvores brocadas é de
baixíssimo valor), emprego, o
abastecimento de água (pela desproteção do solo e cursos d’água) entre outros
fatores.
Mas um outro efeito, talvez mais perverso, vem se consolidando. As
florestas do Canadá que em 2000 contribuíram com a captura de 68 milhões de
toneladas de carbono da atmosfera em 2010 foram uma fonte de emissão de 74
milhões de toneladas de CO2. As consequências podem ser vistas no inventário de
emissões do Canadá: quando se compara o ano de 2010 com 2000 as emissões totais
sem considerar as florestas (como é definida a regra do Protocolo de Kyoto)
caíram 4%. Porém quando se considera as emissões de floresta houve um
crescimento de 17%. Não é surpresa que o Canadá se recusou a participar do
segundo período de compromisso do Protocolo de Kyoto acordado na Conferencia de
Clima encerrada dias atrás em Doha.
Este fenômeno no Canadá é uma amostra da bola de neve que leva a intricados processos que podem retroalimentar
a mudança do clima. O mesmo risco existe com o aumento dos períodos secos na Amazônia associados ao
aumento de áreas degradadas pela exploração ilegal que aumentam a susceptibilidade
ao fogo que por sua vez aumentam as emissões num ciclo vicioso.
Em Doha foi definido um caminho para negociação até 2015 de um novo
acordo para entrar em vigor em 2020 com metas e compromissos para todos os
países. O nível de ambição deste novo acordo
deverá ser muitíssimo superior àquele expresso nas últimas Conferências de
Clima se realmente pretendemos evitar o desastre de um aumento global da
temperatura média acima de 2oC.
Publicado em O GLOBO em 12/12/2012