quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

De consumidor a gerador de energia em 1 dia

Em outubro passado me tornei gerador de energia solar. Em apenas 1 dia o sistema foi instalado e de consumidor passei a gerador a energia.

O filminho abaixo mostra o processo. Rápido, limpo, seguro e super gratificante.

Impossible não imaginar que instalações como esta sejam algo trivial e padrão nos próximos anos.


quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Começou a Mudança

2015 foi o ano mais quente já registrado no planeta, com a temperatura media ultrapassando 1oC acima da media do período pré-industrial, coincidindo com o aumento da concentração de carbono na atmosfera ultrapassando pela primeira vez os 400 ppm (partes por milhão) e um forte fenômeno El Nino.

Sob esta forte pressão foi aprovado em Paris o novo Acordo Climático global com instrumentos suficientes para, nos próximos anos, colocar o mundo numa rota de desenvolvimento que permita limitarmos o aquecimento global – e as tragédias derivadas dele – bem abaixo de 2oC e se possível 1,5oC. Para que isso seja possível teremos promover um completo phase-out dos combustíveis fósseis até meados do século, além de outras ações como zerar o desmatamento.

Os compromissos voluntários assumidos pelos países durante a preparação do novo acordo são completamente insuficientes para atingir este objetivo, mas o sistema de revisão quinquenal das metas começando em 2020 abre a oportunidade de ampliar os compromissos na intensidade necessária.

Sem tempo para esperar, o mundo real se movimenta mais rápido. O preço do petróleo atingiu seu valor mais baixo em dez anos, o preço do barril caiu de mais de US$ 100 em meados de 2014 para para os atuais US$ 36 e ao invés de atrair investimentos e reduzir a atratividade de energias renováveis, aconteceu o inverso. Começou um processo de desinvestimento no setor. Vários fundos de investimento anunciaram em 2105 políticas de eliminação programada da industria de combustíveis fósseis.

O investimento em energia renováveis modernas (ex. solar, eólica) deve superar US$ 300 bi, quase o dobro de 5 anos atrás. O aumento de capacidade instalada de solar e eólica deve superar a marca de 100 GW instalados em um ano, ou quase a capacidade instalada de geração hidroelétrica no Brasil.  A energia solar deve superar em um ano todas as outras fontes em ampliação da capacidade instalada para geração de energia elétrica.

Baterias romperam a barreira dos US$ 300 por kWh, metade do valor de cinco anos atrás. A viabilidade dos veículos elétricos já é real em vários segmentos (na Inglaterra os carros elétricos representaram quase 5% da venda de veículos novos em 2015) e especialistas apontam que ao chegar em US$ 150 por kWh as baterias ficam competitivas para utilização em larga escala, não só para automóveis e ônibus, mas também para utilização em prédios e residências.

Lembraremos de 2015 como o ano em que a mudança começou a transbordar de vez.

Publicado em O GLOBO - 30.12.2015

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

O Acordo de Paris passou pelo WhatsApp

Eram quatro horas da tarde de sábado em Paris, horário marcado para começar a plenária que sacramentaria o Acordo de Paris, o mais significativo passo para sustentabilidade no planeta desde as convenções da Rio92. Com todos os ministros e chefes de delegação de mais de 180 países já no plenário o presidente da COP ainda não estava presente e o inicio sessão começa a atrasar.  Como todas as plenárias nas ultimas duas semanas haviam começado na hora marcada o atraso chamou a atenção.

Imediatamente todos em nosso entorno começam a operar seus celulares e mobilizam seus grupos no WhatApp e em menos de dois minutos estava formado o consenso, os EUA haviam encontrado um problema com o uso da expressão "shall" no lugar de "should" numa determinada passagem do texto e pedia a correção mas a Nicaragua não concordava com a correção. Mais alguns minutos e o texto onde havia o problema é circulado pelo aplicativo entre as diferentes delegações e para representantes de ONGs e empresas para medir a temperatura. Em pouco mais de cinco minutos de consultas o Presidente da COP entra no Plenário e da inicio a sessão e o Acordo de Paris é aprovado por aclamação.

Este episódio da bem a dimensão da importância que as mídias sociais tomaram em nossa sociedade com destaque mais recente para  o whatsApp. Se na COP15 em Copenhagen víamos surgir o Twitter como ferramenta que permitia o publico em geral se informar sobre o que acontecia nas negociações na COP21 vimos um aplicativo permitir que milhares de pessoas participassem ativamente da construção do novo acordo interagindo com negociadores, especialistas, imprensa e os diferentes grupos de interesse.

Aplicativos como o WhatsApp vão muito além da mera troca despretensiosa de mensagens e fotos entre amigos, eles são instrumentos importantes de trabalho e interação para milhões de pessoas. Por isso é tão difícil de entender como uma decisão monocrática de um juiz pode penalizar milhões de pessoas que usam o aplicativo por conta do interesse de uma parte em um processo. Se pretende penalizar a empresa que mantém o aplicativo que o faça com multa ou outra medida de impacto específico na empresa, e não em toda massa de usuários. Se esta medida tivesse sido tomada na semana passada teria colocado em risco o acordo em Paris dada a importância que os brasileiros tiveram na formatação do acordo.

Mas que algumas horas sem o pin do aplicativo é bom... ah.. isso é :)

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Momento decisivo na agenda de cooperação global

Há momentos críticos na história que apenas o esforço concentrado de toda comunidade global torna possível suplantar os desafios. No enfrentamento da gripe espanhola ou da peste negra, no controle de armas nucleares ou na reconstrução pós 2.a Guerra Mundial, foi preciso que do caos surgisse um esforço concentrado para tornar consenso um objetivo comum e superar o momento.

O que vimos em Paris ontem foi o mo- mento decisivo de construção de uma nova era na cooperação global. A partir dos compromissos voluntários de mais de 180 países em reduzir as emissões de gases de efeito estufa, alinhou-se um acordo para garantir que o aumento da temperatura global seja refreado abaixo de 2°C e se possível abaixo de 1,5°C.

Reconhecendo que os compromissos apresentados são amplamente insufi- cientes para garantir esse limite, os países se comprometeram a revisar a cada 5 anos os compromissos para torná-los mais ambiciosos. Todos tiveram de superar o interesse nacional para se unir num objetivo global. Esse era mais que objetivo no texto, era sentido em cada canto da sala, na voz embargada da tradutora, nos olhos marejados dos seguranças, na mão trêmula do presidente da Conferência.

Único também o alinhamento de governos, representantes do setor priva- do, da sociedade civil e de comunidades indígenas para apontar um novo caminhos para o desenvolvimento. A mensagem se unificou: o risco é de todos, o esforço deve ser de todos, os benefícios serão para todos.

Passamos os últimos anos tentando tirar leite de pedra com acordos incompletos, limitados e desalinhados, como o Protocolo de Kyoto. Agora temos na mesa quase uma vaca leiteira, e das boas. Mas é bom lembrar que o queijo não será produzido se não trabalharmos para isso.

Amanhã vamos começar a trabalhar para colocar o acordo em três dimensões. Agora é momento de celebrar. 

Publicado em O Estado de São Paulo em 13.12.2015

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

‘CEASA’ do futuro

Se você sobrevoar a Holanda vai ver campos e cidadezinhas que parecem de brinquedo entremeados por inúmeros canais, portos e zonas industriais bem desenhados, e uma enorme quantidade de galpões de todos os tamanhos com telhados brancos. Estes galpões são as estufas holandesas.

Elas são parte de um sistema de produção sustentável de alimentos que levou este país do tamanho do estado do Espírito Santo a exportar 80 bilhões de dólares em produtos agrícolas em 2015, sendo o segundo maior exportador mundial destes produtos (atrás somente do Estados Unidos). A Holanda é hoje responsável por 24% do total global de exportações de produtos hortifrúti e é o maior exportador (em valor) do mundo de frutas e legumes frescos. Uma parte importante destes produtos vem das estufas.

Por muito tempo se imaginou que produzir alimentos em estufas em larga escala só poderia ser feito utilizando muita energia e com o uso de aditivos petroquímicos (fertilizantes), que gerariam resíduos poluentes.  Isto é uma imagem do passado remoto. Prepare-se para mudá-la radicalmente.

As estufas holandesas cobrem 60 quilômetros quadrados. Empresas, institutos de pesquisa e governo trabalham juntos para criar estufas ‘inteligentes’ que flutuam na água ou operam em plataformas móveis, utilizam robôs e formas inovadoras de uso de iluminação. Elas têm sistemas de reciclagem de água e resíduos e, além de tudo, juntas geram mais energia do que consumem, chegando a contribuir com 10% da necessidade de aquecimento e energia do país!

As empresas holandesas estão utilizando o calor criado em outras fontes - por exemplo em um centro de processamento de dados ou em uma fábrica de adubos - para alimentar as estufas. As estufas, por sua vez, têm painéis solares para produzir energia elétrica cujos excessos vão para escolas, asilos e piscinas públicas. Este tipo de inovação inter-setorial e’ uma tendência crescente no país. Em algumas regiões do país a economia de energia de combustíveis fósseis chega a 90%

No norte do país a empresa de TI Parthenon construiu seu centro de processamento de dados no meio de uma região de estufas. O calor gerado pelos processadores de dados é canalizado para a produção de legumes, reduzindo 800 tons de emissões de carbono por ano. Quando há  excesso de energia ele é repassado para lugares públicos.

Esta transformação tem recebido suporte importante do governo Holandês que tem metas agressivas para redução de emissão de gases de efeito estufa. Até 2030 as emissões do país devem cair 40% em relação aos níveis de 1990. Para isso o país precisa investir em fontes renováveis de energia ao mesmo tempo que aumenta a eficiência no uso da energia e dos recursos naturais. Promover a sinergia entre diferentes setores econômicos tem sido um excelente caminho para evoluir nesta direção.

O exemplo da Holanda mostra que mesmo em lugares com restrições territoriais e condições climáticas limitadas é possível, com inovação, atrair investimentos, produzir alimentos em grande quantidade e com reduzido impacto ambiental e assim, gerar um grande negócio.

Escrito em parceria com:
Nelmara Arbex - física e especialista internacional em Sustentabilidade e Negócios. Foi vice-presidente da Global Reportig Initiative (GRI).


Publicado em Época Negócios - edição dezembro 2015