quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Brasil (1990-2011)

Durante os últimos dois meses procurei fazer uma estimativa atualizada (até 2011) independente das emissões brasileiras de gases de efeito estufa.

A base do trabalho foi reproduzir a metodologia do 2o Inventário Brasileiro de Emissões e Remoções Antrópicas de Gases de Efeito Estufa - publicado em 2010 pelo MCT com dados de emissões até 2005.  Sem o rico material produzido por dezenas de profissionais de diferentes instituições e publicado pelo MCT, incluindo os detalhados relatórios de referencia, não teria sido possível gerar as estimativas.

Apesar de se basear na metodologia do 2o inventário, em nenhum aspecto esta estimativa de emissões pretende substituir ou ser percebido como o inventário de emissões, uma vez que o inventário envolver a revisão dos fatores de emissão um nível maior de precisão de dados.

Todas as informações utilizadas para estas estimativas são públicas e disponíveis na internet. Mais pra frente publicarei as planilhas com as referencias e fontes de todas as informações e uma explicação de como foram feitos os cálculos.

A versão preliminar das estimativas está neste link:
Estimativas de Emissões de GEE no Brasil 1990-2011

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Florestabilidade


Ceará tem pouco mais de um metro e meio de altura. De fala mansa, jeito simples e direto é um dos mais habilidosos motosserristas do Brasil. Chegou ao Pará no inicio dos anos 80 para trabalhar nas frentes de desmatamento e exploração madeireira. Ganhava por m3, descontadas as partes rachadas ou ocas, o que poderia resultar em uma perda de até 40% da produção.

Autodidata, Ceará inventou e aprimorou por uma década uma técnica de corte que praticamente eliminava estas perdas. Assim conseguia maior renda, pois não derrubava árvores ocadas (consegue com sua técnica medir o oco antes do corte); e realizando o corte quase ao nível do solo, com uma intrincada sequência de cortes e cunhas, consegue direcionar e deitar a árvore sem rachar.

Nos anos 90, pesquisadores que desenvolviam as técnicas de manejo sustentável da floresta perceberam que a técnica conhecida como “corte escadinha”, além de resultar em menores perdas, se aplicada a um planejamento prévio cuidadoso, permitiria direcionar o corte para reduzir substancialmente os danos à floresta.

Hoje a técnica inventada por Ceará é um padrão para o manejo sustentável no Brasil e em vários outros países.

Desde 1997 Ceará é instrutor de corte da escola de manejo florestal do Instituto Florestal Tropical. Treinou mais de mil profissionais na sua técnica.

Agora Ceará e outros quarenta profissionais (pesquisadores, técnicos e comunitários) que atuam no manejo sustentável da floresta na Amazônia são os professores do Florestabilidade, um ambicioso programa de estímulo e formação de jovens do ensino médio para aprender a gerar riqueza a partir do uso sustentável da floresta.

A iniciativa do Serviço Florestal Brasileiro, Fundo Vale e Fundação Roberto Marinho deve alcançar dezenas de milhares de jovens da região amazônica, que, apesar das origens, conectam-se cada vez menos com a riqueza da floresta e suas possibilidades em materiais, alimentos, essenciais, ativos farmacêuticos e todo o sofisticado conhecimento das comunidades amazônica associado a estes produtos e suas técnicas de manejo.

Este é um momento especial para o esforço de valorização da floresta. Depois de oito anos de queda no desmatamento da Amazônia os sistemas de detecção do Inpe e Imazon voltam a dar sinais de reversão de tendência, e apenas o reforço das ações de comando e controle não terá a eficácia de outros tempos pela mudança dos vetores que causam o corte da floresta, em especial em terras públicas.

O ser humano protege aquilo com que se importa, em que vê valor — econômico, cultural ou espiritual. Por isso é fundamental disseminar o conhecimento sobre a floresta, a sua sustentabilidade e habilidade de sua gente.

Dona Margarida, líder comunitária na Reserva Extrativista Verde para Sempre, no Pará, assim descreve o valor da floresta: “Quanto tenho fome não vou à feira, se preciso de remédio não vou à farmácia, quando quero lazer não vou viajar. Para tudo isso eu vou à floresta, que me dá o fruto, a caça, a erva e a sombra. Isso pra mim é florestabilidade.”

Publicado em O Globo, em 14/11/2012