Durante incêndio em um edifício, ao mesmo tempo em que tentam apagar as chamas, resgatar as pessoas e proteger as edificações vizinhas, os bombeiros ficam atentos para qualquer sinal que possa indicar colapso da estrutura, que leve ao desabamento. Pode ser um som, fumaça ou uma movimentação na estrutura. É muito difícil acertar se e quando a construção vai colapsar, mas é possível se distanciar e se proteger dessa situação com antecipação à medida que se fica atento e se percebe os sinais.
O mesmo tipo de dilema vive a defesa civil quando tem de tomar decisões com base no risco de desabamento de uma encosta ou do rompimento de uma barragem, em meio a tempestades.
As mudanças climáticas elevam este dilema à escala global, com impactos em múltiplos locais e potencialmente com efeitos multiplicadores. A subida do nível dos oceanos pode levar ao rompimento de diques de contenção em regiões baixas. Até o rompimento, a situação está sob controle, mas pode se modificar radicalmente em poucos minutos. A mudança de temperatura pode provocar o abortamento de florações inteiras, de plantios de frutas, inviabilizando sua produção ou ainda romper o controle natural da população de insetos que se tornam pragas como no caso do pine bettle nas florestas temperadas (leia
).
O problema central é que, diferente do combate ao incêndio – onde o histórico de eventos permite compor um bom cardápio de indicadores empíricos sobre o risco de ruptura -, no caso das mudanças climáticas, ainda estamos começando a entender seus impactos e as relações de causa e efeito.
É preciso correr contra o tempo. O entendimento e antecipação na detecção de potenciais impactos abruptos das mudanças climáticas é um dos grandes desafios da ciência do clima e este será um dos temas fundamentais da 2ª. parte do Relatório do IPCC (AR5 – Parte 2 – Impactos, Adaptação e Vulnerabilidade), que será divulgado na última semana de março.
A Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos publicou, em dezembro de 2013, uma revisão do estado da arte do conhecimento sobre o potencial de
, identificando as principais demandas de pesquisa e monitoramento.
Tal relatório indica que os seres humanos e os animais verão as condições climáticas –às quais se adaptaram ao longo do tempo – se alterar rapidamente e precisarão também se mover ou se adaptar às novas condições, em geral mais inóspitas.
O mapa abaixo, baseado em um dos cenários do IPCC, mostra a velocidade em que as condições climáticas se distanciariam daquela originalmente tida como normal no final do século. A velocidade em Km/ano indica a distância que deveria ser percorrida a cada ano para encontrar as condições climáticas anteriores.
O referido relatório sugere, ainda, que sejam estabelecidos sistemas de alerta para antecipar os sinais de possível ruptura de forma a reduzir os seus impactos e os custos associados.
A 2ª parte do relatório do IPCC trará a mais extensa revisão sobre os impactos das mudanças climáticas, as nossas vulnerabilidades e as necessidades de adaptação. Atentar para suas recomendações será fundamental para preparar o planeta e minimizar os impactos que vêm por aí.