Depois de oito anos de sucessivas quedas
nas emissões de gases de efeito estufa no Brasil, em 2013 as emissões voltaram
a subir de forma expressiva (7,8%), principalmente pelo aumento do desmatamento
na Amazônia e no Cerrado, acompanhado do aumento do consumo de gasolina e
diesel e da expansão da geração de energia elétrica a partir de termelétricas
movidas a combustíveis fósseis, sobretudo carvão e gás.
O levantamento das emissões para o período
de 1970 a 2013 produzido pelo Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de
Efeito Estufa do Observatório do Clima mostra que o Brasil emitiu 1,57 bilhão
de toneladas equivalentes de carbono (Gt CO2e) no ano de 2013, bem abaixo das
2,5 Gt CO2e emitidas em 2005, mas com uma nova composição, em que a energia
dobrou sua participação nas emissões, alcançando 30% do total.
De fato, o período efetivo de queda de
emissões se deu entre 2005 e 2009; depois disso, as emissões praticamente se
estabilizaram ao redor de 1,5 Gt CO2e, mesmo com a queda do desmatamento ainda
tendo perdurado, ainda que de forma menos expressiva, entre 2010 e 2012.
Até 2012 o Brasil ainda caminhava
claramente para o cumprimento da meta de redução de 36% das suas emissões
projetadas para 2020 (o que equivale a 2 Gt CO2e). Porém, a mudança de
trajetória em 2013 e a manutenção do crescimento das emissões nas principais
áreas de pressão em 2014 tornam isto incerto, com as projeções podendo chegar a
2,2 Gt CO2e em 2020.
Em 2014, o uso das termelétricas foi
intensificado em relação a 2013, o consumo de gasolina e diesel cresceu e os
sinais dados pelos sistemas de alerta de desmatamento apontam crescimento na
Amazônia, no Cerrado e na Mata Atlântica. O único setor que pode mostrar
retração de emissões em 2014 é o da indústria, que vem tendo um ano particularmente
ruim.
Mais preocupante é constatar que a
reversão de tendência ocorre num período de baixíssimo crescimento econômico e,
portanto, estamos nos tornando menos eficientes, ou seja, emitimos mais para
produzir a mesma quantidade de produtos e serviços.
Não se trata de destino, uma fatalidade,
mas de uma situação que pode perfeitamente ser revertida com a retomada do
cumprimento das metas do Plano Nacional de Mudanças Climáticas (aumento de 10%
do consumo de álcool, aumento da proporção das fontes renováveis na matriz
energética — hoje em queda — e redução do desmatamento).
Que sirva de alerta para que, neste novo
mandato, o governo federal retome a agenda de desenvolvimento sustentável tão
desvalorizada nos últimos anos, e o Brasil possa voltar a liderar pelo exemplo
a agenda climática global.
Publicado em O Globo 26.11.2014