segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Momento decisivo na agenda de cooperação global

Há momentos críticos na história que apenas o esforço concentrado de toda comunidade global torna possível suplantar os desafios. No enfrentamento da gripe espanhola ou da peste negra, no controle de armas nucleares ou na reconstrução pós 2.a Guerra Mundial, foi preciso que do caos surgisse um esforço concentrado para tornar consenso um objetivo comum e superar o momento.

O que vimos em Paris ontem foi o mo- mento decisivo de construção de uma nova era na cooperação global. A partir dos compromissos voluntários de mais de 180 países em reduzir as emissões de gases de efeito estufa, alinhou-se um acordo para garantir que o aumento da temperatura global seja refreado abaixo de 2°C e se possível abaixo de 1,5°C.

Reconhecendo que os compromissos apresentados são amplamente insufi- cientes para garantir esse limite, os países se comprometeram a revisar a cada 5 anos os compromissos para torná-los mais ambiciosos. Todos tiveram de superar o interesse nacional para se unir num objetivo global. Esse era mais que objetivo no texto, era sentido em cada canto da sala, na voz embargada da tradutora, nos olhos marejados dos seguranças, na mão trêmula do presidente da Conferência.

Único também o alinhamento de governos, representantes do setor priva- do, da sociedade civil e de comunidades indígenas para apontar um novo caminhos para o desenvolvimento. A mensagem se unificou: o risco é de todos, o esforço deve ser de todos, os benefícios serão para todos.

Passamos os últimos anos tentando tirar leite de pedra com acordos incompletos, limitados e desalinhados, como o Protocolo de Kyoto. Agora temos na mesa quase uma vaca leiteira, e das boas. Mas é bom lembrar que o queijo não será produzido se não trabalharmos para isso.

Amanhã vamos começar a trabalhar para colocar o acordo em três dimensões. Agora é momento de celebrar. 

Publicado em O Estado de São Paulo em 13.12.2015