Em meio a uma das mais
profundas crises política e econômica por que o Brasil já passou, as propostas
para superá-la são baseadas em soluções do passado e pouco mobilizadoras.
Seja governo ou oposição e
mesmo boa parte dos analistas do "mercado", batem nas mesmas teclas
com maior ou menor intensidade: reforma/ choque fiscal, previdenciária e
política, revisão do pacto federativo, ampliação do crédito e consumo,
recuperação da indústria e retomada dos investimentos (leia-se: obras).
São todos temas
importantes, mas eles parecem almejam retomar as conquistas passadas.
As reformas e a revisão do
pacto federativo são fonte de grande tensão e antagonismos que, dificilmente,
terão solução sem que uma visão compartilhada e inspiradora de futuro coloque
em perspectiva as perdas e ganhos de cada grupo de interesse.
O combate à inflação e a
busca da estabilidade econômica foi a fonte de inspiração para as reformas dos
anos 90, incluindo - talvez como um dos principais símbolos - a Lei de
Responsabilidade Fiscal. Na década passada, o combate à pobreza e à
desigualdade foi o compromisso integrador que impulsionou a criação de um amplo
conjunto de políticas de proteção e acensão social. Ambos os períodos
foram vitoriosos em mobilizar diversas forças da sociedade para dar amplo apoio
às ações necessárias para evoluir rumo à visão de futuro maior.
O Brasil precisa sim
recuperar as conquistas passadas, mas precisa ir além. Afinal, estamos
muito distantes do grau de desenvolvimento e qualidade de vida que desejamos e
merecemos. Precisamos de uma visão compartilhada de futuro que converse com os
desafios contemporâneos do mundo: a ampliação da democracia, o combate às
mudanças climáticas e o desenvolvimento sustentável.
A Coalizão Brasil Clima
Floresta e Agricultura é um bom exemplo de como a visão integradora pode
facilitar avanços nas agendas mais espinhosas. A Coalizão, criada no
inicio de 2015, reúne mais de cem instituições entre entidades ruralistas,
ambientalistas, industriais e organizações de consumidores que raramente se
sentavam à mesa se não fosse para travar batalhas como a que configurou a
aprovação do novo Código Florestal, a regulamentação de transgênicos ou o
combate ao desmatamento. Ainda que as organizações tenham pontos de vista
muito diferentes sobre muitos temas, conseguiram articular uma visão comum de
futuro: "a agricultura, pecuária e economia florestal impulsionando o
Brasil para liderança global da economia sustentável e de baixo carbono,
gerando prosperidade para todos." Com base nesta visão, trabalham em
uma intensa agenda propositiva para apoiar o fim do desmatamento, implementar o
Código Florestal, promover metas ambiciosas para a agenda de mudanças
climáticas e, ao mesmo tempo, promover a competitividade da agropecuária e
indústria florestal brasileira.
É disso que precisamos
agora. Uma visão compartilhada de futuro que inspire o Brasil a dar um
novo salto.
Publicado em O Globo em 27.04.2016