Planejamento não é previsão. O futuro a gente faz.
Em
1986, foi instalado na província de Shandog o primeiro projeto piloto de um
gerador eólico da China. Ele foi seguido por dezenas de outros pilotos. Isso
até que, em 1993, o país asiático estabeleceu o seu primeiro conjunto de políticas
de incentivo e desenvolvimento tecnológico para promover esse tipo de energia e
alguns anos depois, em 1997, foi definida a primeira meta. Até 2001, a
capacidade instalada eólica deveria ser de 1 mil megawatts (MW) – o que
representava uma das maiores do planeta para essa fonte (no inicio da década de
90, a capacidade total instalada no mundo era de 5 mil MW).
A
ambiciosa marca não foi atingida em 2001. Entre outros motivos, pesou o custo
pouco competitivo da tecnologia. No 10º Plano Quinquenal de Desenvolvimento
(2001 a 2005) a aposta chinesa foi dobrada, com objetivo de fomentar indústria
e reduzir à metade esses custos. Assim, em 2004, a meta de 1 mil MW foi
alcançada e, em 2007, já havia 40 fabricantes de turbinas eólicas operando no
país. Já em 2010, a China estabeleceu que atingiria 100 mil MW, em 2015, e 150
mil MW, em 2020.
Ocorre
que, ao final de 2015, o país já havia batido nos 145 mil MW. Ou seja, em 2016,
terá pulverizado a meta de 2020 (para dar uma ideia do que isso representa, basta
dizer que a capacidade instalada de todo o parque elétrico brasileiro –
incluindo todas as fontes de energia – é de 160 GW). Nessa trajetória, que é
muito similar no setor de energia solar e automação industrial, a China
tornou-se o maior provedor de equipamentos e tecnologia para geração eólica no
planeta.
A
China corre contra o tempo. Sabe que precisa ter alternativas viáveis e em
grande escala para o suprimento de energias limpas e renováveis que possam
substituir o intenso uso do carvão, fonte que polui de forma assustadora
cidades cada vez mais populosas e drena recursos naturais — a água, em
particular.
A
China, pela magnitude e pelo regime político único, é uma base complicada de
comparação. Mas, ali pertinho, a Coreia do Sul é outro exemplo interessante de
planejamento para o futuro. O país, que é uma democracia às vezes tão
turbulenta quanto a nossa, acaba de lançar seu plano de investimento
público-privado em ciência e tecnologia, voltado para o que eles acreditam ser
as chaves para o desenvolvimento e o bem-estar nas próximas décadas.
Anote
aí. São nove temas que equivalem a uma espécie de guia para o futuro: a
inteligência artificial, os veículos elétricos e autônomos, os materiais leves,
as cidades inteligentes, a realidade virtual, a gestão de poeira fina (controle
de poluição de materiais particulados), os produtos de carbono, a biomedicina e
a medicina de precisão.
Apenas
como exemplos da estratégia, até 2020 o país quer abrigar pelo menos
mil empresas de inteligência artificial, quase dez vezes mais do que tem hoje.
Já os veículos autônomos devem estar circulando pelas ruas da Coréia em 2024.
Ou seja, tanto a tecnologia quanto a regulamentação serão desenvolvidas e
implantadas em menos de uma década. Para os produtos de carbono, a meta também
é ambiciosa. A Coréia do Sul pretende liderar o desenvolvimento de sistemas de
remoção do carbono da atmosfera, uma fonte do aquecimento global, para
transformá-lo em algo útil e economicamente interessante para sociedade.
Esses
casos nos ensinam que, mais importante do que tentar prever o futuro, é
trabalhar para torná-lo uma realidade. Isso além de transformar essa busca em
um processo de desenvolvimento sustentável. Esse é o real motor da inovação
social, econômica e tecnológica.
Publicado na revista Época Negócios (Set/2016)