No dia 12 de setembro será sancionada no Brasil a ratificação do Acordo
de Paris, o mais abrangente acordo sobre clima desde que a Convenção Quadro das
Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas foi aprovada, em 1992. EUA e China, os
dois maiores emissores de gases de efeito estufa, e mais duas dezenas de países
anunciaram a intenção de ratificar ou confirmar o acordo ainda em setembro.
Nesta toada, o Acordo de Paris poderá atingir o limite mínimo de 55 países,
representando pelo menos 55% das emissões globais, para entrar em vigor em
menos de um ano, após o encontro em dezembro de 2015 em Paris.
Em processos oficiais da diplomacia, é uma velocidade estonteante. Para
efeito de comparação, o Protocolo de Kyoto — o primeiro instrumento criado no
guarda-chuva da convenção de clima e que gerou a obrigação de redução das
emissões para os países desenvolvidos — demorou oito anos para entrar em vigor.
Foi aprovado em 1997 e entrou em vigor apenas em 2007, quando a Rússia
finalmente ratificou o protocolo, permitindo atingir o mínimo de 55% das
emissões.
Mesmo no caso do Brasil, que não tinha obrigações vinculadas ao
Protocolo, e sim potenciais benefícios com os créditos do Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo (MDL), a ratificação aconteceu apenas em abril de 2002,
cinco anos após a aprovação.
O Acordo de Paris é muito mais ambicioso que os instrumentos anteriores,
apontando como meta limitar o aumento de temperatura global bem abaixo de 2 º
C, de preferência próximo a 1,5º C. Mesmo assim, ou talvez justamente por isso,
no Brasil conta com amplo apoio em universidades, sociedade civil, empresas e
movimentos sociais, o que acabou dando o tom da tramitação do projeto de
ratificação tanto na Câmara quanto no Senado em tempo recorde em meio ao
turbulento processo de impeachment.
Neste contexto, nada mais adequado que a inclusão da agenda de clima e
floresta na abertura da Olimpíada no Rio, que alertou para os desafios das
mudanças climáticas, aliados à esperança nas ações práticas para enfrentá-los,
como reflorestar, usar fontes renováveis de energia e nos livrarmos da
dependência do petróleo e carvão.
A hora é de arregaçar as mangas e promover as revoluções necessárias
para zerar as emissões líquidas de gases e efeito estufa até meados do século.
Nesse sentido, as noticias das últimas semanas são alvissareiras: a FAO
anunciou que a perda de florestas desacelerou nos últimos cinco anos; a
primeira gigafábrica começou a produzir em Nevada, nos EUA, e vai derrubar em
30% o preço das baterias; a China instalou impressionantes 20.000 MW de
capacidade de geração solar apenas no primeiro semestre de 2016 (equivalente a
duas usinas de Belo Monte); e as vendas de carros elétricos dispararam, devendo
a frota mundial superar dois milhões de veículos este ano.
Que venham mais boas notícias! Temos que nos mover rápido. Muito rápido.
Publicado em O Globo, 31.08.2016
Publicado em O Globo, 31.08.2016