Jose Luciano Penido e Tasso Azevedo
Plantando florestas em areas degradadas podemos eliminar o uso de termoelétricas movidas a combustíveis fósseis no Brasil
O Acordo de Paris caminha para se
tornar uma realidade nos próximos meses, com a ratificação por dezenas de países
incluindo, além do Brasil e as duas maiores economias do planeta, Estados
Unidos e China. O ritmo acelerado para entrada em vigor do acordo é tão fundamental
quanto urgente para limitar o aumento médio da temperatura global bem abaixo de
2oC e assim limitar as mudanças no clima em nível tolerável à sobrevivência
do ser humano na Terra.
O Brasil foi muito relevante nas
negociações que viabilizaram o Acordo de Paris, e apresentou uma meta ambiciosa
de redução de emissões de gases de efeito estufa até 2030 alicerçada em
compromissos específicos para os setores de uso da terra e energia.
Entre os compromissos
brasileiros estão a recuperação, até 2030, de 15 milhões de hectares de pastos
degradados e de 12 milhões de hectares de áreas de preservação permanente e
reserva legal e por outro lado garantir 45% de energia renovável na matriz
energética e 23% de fontes renováveis não hídricas na matriz elétrica.
Levantamento preliminar com
dados do Cadastro Ambiental Rural indicam a necessidade de reflorestar mais de
20 milhões de hectares (cerca de 2,3% do território nacional) para atender ao
déficit de áreas de preservação permanente e de reserva legal previstos no
Código Florestal.
Propomos que metade da área a
ser reflorestada possa ser florestas de produção (em diferentes formatos).
As cadeia produtiva florestais
tradicionais (como painéis de madeira e pepel e celulose) teria capacidade limitada
para absorver a produção adicional de madeira de 10 milhões de hectares, em
especial com a composição heterogênea das áreas de recuperação. Mas a geração e
energia elétrica com biomassa pode ser uma oportunidade econômica para que tal
reflorestamento aconteça de forma economicamente viável.
Os limites para expansão da
geração elétrica a partir de hidroelétrica de grandes reservatórios, associado
a períodos de estiagem provocado por alterações climáticas que restringem a
operação do atual parque hidroelétrico, tem levado o Brasil a investir em
termoelétricas á carvão, óleo e gás para garantir a chamada geração na base. São
fontes caras, poluidoras e de alta demanda de água. Esta escolha fez com que o
setor de geração elétrica seja o que mais aumenta emissão de gases de efeito
estufa no Brasil ao mesmo tempo que a tarifa de energia explodiu.
Termoelétricas movidas a
biomassa, especialmente quando associadas a base florestal, contém todas as
vantagens das termoelétricas de combustível fósseis como a geração continua e
flexível de energia e ao mesmo tempo que são neutras na emissão carbono (tudo
que emite foi capturado durante o crescimento da florestas antes) e sua cadeia
de produção ajuda a proteção dos mananciais.
As vezes não se percebe que é o
verde que produz o azul! São as florestas que protegem o solo, carregam as nuvens
de vapor, favorecem a recarga dos aquíferos e estabilizam os ciclos da água,
tão fundamentais ao consumo humano, à agricultura e à geração de energia.
Sugerimos que o Brasil
estabeleça como objetivo estratégico nacional substituir até 2050 toda a base
instalada de UTEs movida a combustíveis fosseis por outras movidas a biomassa,
em especial de florestas. Em anos de boa
chuva utilizaremos os reservatórios azuis e as florestas continuarão crescendo.
Em anos de pouca chuva economizaremos a água, produzindo energia com a biomassa
colhida das florestas plantadas. Esta
estratégia permitiria que o Brasil expandir a sua capacidade instalada de
geração de eletricidade exclusivamente com fontes renováveis, especialmente
eólica e solar, que teria sua intermitência
compensada e ajustada pelas termoelétricas a biomassa e hidroelétricas.
O Plano inicial elaborado pela
governo brasileiro para atender ao Acordo de Paris prevê 86 TWh por ano de
geração termoelétrica a gás e carvão em 2030, isso equivale a geração média de
10,6 GWh. Para garantir esta geração com
termoelétricas a biomassa são necessários 3 milhões de hectares de floresta de
produção, ou cerca de 25% da meta de reflorestamento do Brasil para o mesmo
período.
Com 10 milhões de hectares
plantados será possível gerar entre 30 e 40 GWh médio, o que permite ao Brasil
banir a construção de novas UTEs movidas a combustíveis fosseis, e planejar o
descomissionamento ou conversão de todas já instaladas nos próximos 30 anos.
Implantando as termoelétricas a
biomassa florestal de forma descentralizada (ex. unidade de 100MW com 30 mil
hectares de florestas) promoveriam produção, restauração, emprego e renda em
centenas de municípios. A disponibilidade de vapor como subproduto será
atrativo para se estabelecer novos polos industriais no interior do Brasil.
Este é um motor de
desenvolvimento. Toda tecnologia de floresta e de UTEs a biomassa é brasileira
e com custos em reais, o que fortalece a
nossa economia.
Uma série de instrumentos de
politicas publicas podem ser utilizados para viabilizar os reservatórios
verdes. Desde leilões específicos para UTEs a biomassa florestal dedicada, passando
pelo mercado brasileiro de reduções de emissões de gases de efeito estufa
(MBRE) ou os instrumentos de REDD+ (Redução das Emissões de Desmatamento,
Degradação e promoção do Manejo Sustentável e Conservação Florestal).
Os Reservatórios Verdes trocarão
as emissões de termoelétricas por remoções e captura de carbono em larga escala
promovida pelo crescimento das florestas. Cada hectare de floresta dos
reservatórios verdes constituídos em áreas hoje degradadas poderão armazenar em
média cerca de 150 tCO2, mesmo considerando a colheita para produção de
energia. Ou seja cada hectare de floresta captará o equivalente a emissão anual
de 150 carros.
O Brasil pode e deve se antecipar
ao mundo para mais uma vez demonstrar um caminho para as energias renováveis
que caracterizam a sua matriz energética como fez com os biocombustíveis e a hidroeletricidade
no passado.
José Penido é Presidente do Conselho da Fibria
Tasso Azevedo é coordenador do SEEG/OC
Publicado em jornal Valor Economico em 18.10.2016