quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Meia-Volta, Volver!



- Esta e a natureza da democracia, ela é dura, as vezes conturbada e conflituosa e nem sempre inspiradora. Quem perde uma eleição deve refletir sobre os erros se refazer e voltar o jogo mais preparado da próxima vez. Devemos assumir a presunção de boa fé dos eleitores. Pois esta presunção é essencial para uma democracia vibrante e funcional. Farei o possível para que o próximo presidente tenha sucesso.  A presidência é como uma corrida de revezamento em que você recebe o bastão e corre a sua melhor prova na esperança de entregar o bastão ao próximo corredor numa posição melhor do que recebeu. Enfim estamos no mesmo time. 

Estas foram palavras que Barack Obama em discurso logo após a vitória de Donald Trump nos EUA. A esperança daquele momento é que ao receber a presidência pudesse baixar o tom beligerante e rever algumas das propostas de campanha mais esdruxulas. Infelizmente isso não aconteceu. Tirou os EUA do Acordo de Paris (é o único entre todos os países do mundo que saiu do Acordo), nomeou um inimigo da agenda ambiental para comandar a principal agência ambiental do país, rasgou acordos comerciais, atacou diariamente a imprensa e muito mais.  Felizmente a força instituições e dos estados Americanos tem contrabalançado o estrago das políticas anti-socioambientais de Trump.

A eleição de Jair Bolsonaro provoca sentimentos semelhantes no país, com agravante de que nossas instituições e estados são muito menos consolidadas. Durante a campanha Bolsonaro anunciou diversas propostas ou medidas preocupantes como tirar o Brasil do Acordo de Paris, incorporar o Ministério do Meio Ambiente (MMA) no Ministério da Agricultura (MAPA), exonerar de investigação mortes causadas por policiais e criminalizar o trabalho das ONGs. 

Nos últimos dias de campanha amenizou o tom sugeriu que não faria a fusão dos ministérios e permaneceria no Acordo de Paris. Ambas medidas que tinham recebido enorme resistência dos diversos setores empresariais e da sociedade civil. Mas, menos de 48 hs depois de eleito já dá sinais de que não pretende mesmo ser um governo de união. Anunciou que vai mesmo fundir o MMA com o MAPA. No congresso seus aliados planejam votar ainda esta semana um artigo que torna praticamente todo tipo de ato publico de protesto passível qualificação como terrorismo.

O presidente eleito precisa entender que não é mais candidato favorito de um terço da população que lhe confiou o voto, mas presidente de Brasil e, portanto, deve atender aos anseios de toda sociedade em especial aos mais vulneráveis e aos bens de interesse coletivo como o meio ambiente saudável para todos. Para ter sucesso como presidente Bolsonaro terá de dar meia volta nas propostas mais radicais sob pena de, ao não fazê-lo, dividir e isolar o país em vez de uni-lo conectado ao mundo.


Publicado em O Globo em 31.10.2018