sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Meio bilhão

Segundo o IPCC — painel de cientistas da ONU para mudanças climáticas —, é necessário limitar as emissões globais de gases de efeito estufa em mil bilhões de toneladas de CO2 equivalente (CO2e) entre 2012 e 2100, para que possamos deter o aquecimento global em até dois graus até o fim do século.

Para se ter uma ideia do que isso representa, desde meados do século 19 até hoje foram emitidas cerca de 2.600 gigatoneladas de CO2 equivalente e deste total as últimas mil gigatoneladas foram emitidas entre 1990 e 2012. Se considerar o ritmo atual de emissão global anual, na casa de 52 gigatoneladas de CO2e, o limite proposto pelo IPCC seria esgotado em menos de 20 anos.

Os diversos cenários considerados pelo IPCC para alcançar o objetivo de dois graus indicam que as emissões devem ser reduzidas a menos de 20 gigatoneladas de CO2e em 2050. Considerando uma população atual de 7,2 bilhões de pessoas e, em 2050, em pouco mais de nove bilhões, a emissão per capita média global deveria cair das atuais sete toneladas de CO2e para cerca de duas toneladas de CO2e em 2050.

Segundo os dados do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima (SEEG/OC), o Brasil emitiu no acumulado de 1990 a 2012 um total de 46 gigatoneladas de CO2e, ou cerca de 4,5% das emissões globais no período. Em termos per capita, as emissões brasileiras chegaram a alcançar mais de 17 toneladas de CO2e na década de 90 e apenas a partir de 2005, com a expressiva queda do desmatamento, começou a regredir até que em 2012 convergiu para média global de sete toneladas de CO2e por habitante por ano.

No novo acordo global de clima em negociação até o fim de 2015, é esperado que todos os países assumam metas e compromissos para contribuir com a redução de emissões de forma a limitar o aquecimento global a dois graus.

Considerando o Brasil um país industrializado e de renda média, é razoável pensar que deveríamos chegar em 2050 com a emissão per capita pelo menos alinhada com a média global. O IBGE estima a população brasileira em 230 milhões de habitantes em 2050. Portanto, o compromisso brasileiro deveria ser orientado a limitar suas emissões a cerca de 500 milhões de toneladas de CO2e, ou cerca de um terço da 1,5 gigatonelada de CO2e emitida em 2012.

Com esta visão de longo prazo, é essencial orientar politicas de inovação e promoção do desenvolvimento do país que contemplem como diretrizes: zerar a perda de cobertura florestal, neutralizar as emissões do setor agrícola, reverter a tendência de queda na participação de fontes renováveis de energia na matriz energética, universalizar o tratamento biológico de resíduos sólidos e esgoto no Brasil com aproveitamento do biogás e dos materiais recicláveis e implantar iniciativas de captura e armazenamento biológico de carbono.


Publicado em O Globo em 29.08.2014

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Tendências e desafios das emissões brasileiras de Gases de Efeito Estufa (GEE)

No inicio da década passada, o Brasil chegou a ser o terceiro maior emissor de gases de efeito estufa, mas, com a queda do desmatamento, essas emissões tiveram redução expressiva, em especial no período de 2005 a 2010. Apesar deste decréscimo, o Brasil ainda está entre os dez países mais emissores, com emissão per capital muito similar à global: 7 toneladas de CO2e por habitante/ano.
Esta é uma das diversas constatações do conjunto de relatórios analíticos, sobre trajetórias e tendências das emissões brasileiras de bases de efeito estufa, lançado na última semana pelo Observatório do Clima (OC) a partir dos dados produzidos peloSistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG).
São seis volumes classificados por setor – energia, indústria, agropecuária, resíduos e mudança de uso da terra – e um relatório síntese. Nos primeiros, são analisadas as trajetórias das emissões brasileiras de 1990 a 2012 e das políticas públicas que influenciam esta trajetória. O relatório síntese também faz a projeção das emissões do Brasil em 2020 e propõe referências para metas de redução do Brasil no médio e longo prazos (2030 e 2050), além de uma série de recomendações para colocar o Brasil na trajetória de uma economia de baixo carbono.
O relatório aponta que, entre 2005 e 2012, houve grande transformação na composição das fontes de emissão dos gases de efeito estufa no Brasil. A participação das emissões por mudança de uso da terra (onde está incluído o desmatamento) caiu pela metade – de 65 para 32% – e a participação do setor de energia dobrou, crescendo de 14 para 30%.
Veja as figuras abaixo que indicam as emissões de GEE no Brasil, por setor e gás, no período de 2005 a 2012. Clique nelas para ver os detalhes:
Gases-por-Setores-e-Gases-em-CO2e-(2005)-menor

Gases-por-Setores-e-Gases-em-CO2e-(2012)menor
Os dados de 2012, quando agrupados por atividade econômica, mostram que o agronegócio responde por 62,5% das emissões brasileiras, o que inclui emissões diretas da atividade agropecuária, boa parte das emissões por desmatamento, emissões de energia consumida no setor e emissões por resíduos industriais do setor.
No setor de transportes, as emissões por transporte individual (carro e moto) são mais do que o triplo das emissões do transporte coletivo (68 x 20 milhões de tCO2e), apesar de este último transportar muito mais gente que o primeiro. A redução do consumo de álcool e o aumento do consumo de gasolina, entre 2009 e 2012, agrava este dado.
Veja a figura abaixo, que mostra a distribuição das emissões de GEE no Brasil em 2012, por atividade econômica. Clique nela para ver os detalhes:
Gases-por-Atividade-Economica-em-CO2e-(2012)-(2)-menor
O relatório síntese indica que a trajetória de quedas pode estar se encerrando e, em 2020, deve chegar a uma trajetória ascendente, apesar de estar ainda dentro da meta estabelecida na Politica Nacional de Mudanças Climáticas. Esta é uma fonte de preocupação, pois o desenho do novo acordo global de clima em construção indica a necessidade de todos os países assumirem compromissos de redução de emissões no período pós 2020.
O Observatório do Clima propõe que o Brasil estabeleça um conjunto de metas de médio e longo prazos para as emissões de GEE, que seja compatível com a trajetória global de emissões durante este século para limitar o aumento de temperatura em 2ºC. Em 2030, as emissões que, em 2012, estavam em 1,5 Gt CO2e deveriam ser reduzidas a um máximo de 1 Gt CO2e e, em 2050, não deveriam ultrapassar 0,5 Gt CO2e.

Trata-se da primeira proposta concreta de metas de redução de emissões para o Brasil no médio e longo prazos. Um bom subsídio para o debate do novo acordo climático global em 2015.

Publicado em Blog do Clima do Planeta Sustentável em 26.08.2014

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

A revolução em curso na meteorologia: mais precisa, antecipada e abrangente


blog-do-clima-metereologia-agosto2014A crescente ocorrência de eventos climáticos extremos tem provocado prejuízos econômicos, sociais e ambientais enormes como verificado no Atlas Global de Mortalidade e Perdas Econômicas por Extremos Climáticos. Na última década, na média, ocorreu um evento extremo de grande magnitude por dia no planeta: 40% a mais que na década anterior.
A mudança destes padrões climáticos fortemente influenciados pelas atividades antrópicas tornou urgente o salto no entendimento das forças operando o clima de forma a resultar em previsões mais precisas, antecipadas e abrangentes.
Esta semana, entre 16 e 21 de agosto acontece em Montreal, no Canadá, a primeiraConferência Mundial Open Science de Meteorologia (World Weather Open Science Conference – WWOSC) que reúne mais de mil especialistas com objetivo de elaborar uma plataforma de estudo e desenvolvimento científico que permita aprimorar de forma marcante o entendimento de como surgem, para onde podem caminhar e qual a intensidade de furacõestempestadesciclonestufõesondas de calor ou calor entre outros eventos extremos.
Apesar da longa existência de organizações como a Organização Meteorológica Mundial* (um dos promotores do evento) e dezenas de outras organizações que trabalham para melhorar a ciência meteorológica, a iniciativa do WWOSC incorpora algumas inovações que podem levar esta ciência a outro patamar.
INTEGRAÇÃO ENTRE CIÊNCIA DO CLIMA E METEOROLOGIA
A previsão meteorológica avançou muito nos últimos 20 anos. Hoje, uma previsão de cinco dias é tão precisa quanto a de dois dias de décadas atrás. Mas, antes, a ciência do clima e a meteorologia caminhavam em separado. Como se a primeira estivesse dedicada ao entendimento dos grandes processos globais de longo prazo e, a segunda, concentrada nos processos de abrangência regional de curto prazo. Esta fronteira está desaparecendo e no WWOSC os dois campos trabalham juntos.
A capacidade de processamento de dados tem permitido dar maior especificidade e abrangência para os modelos climáticos globais, permitindo torná-los mais úteis e próximos das necessidades da previsão meteorológica de curto prazo. Modelos que demorariam semanas para ser processados, uma década atrás, hoje podem rodar em minutos.
ALÉM DOS PROCESSOS ATMOSFÉRICOS E OCEÂNICOS
O enfrentamento dos riscos associados a eventos extremos como os ciclones tropicais exigem uma semana de antecedência, portanto mais que as previsões de poucos dias. Entender o caminho que estes ciclones podem tomar é tão crucial como compreender onde podem ser formar.
Para isso, os cientistas começam a associar, em larga escala, o entendimento dos processos atmosféricos e oceânicos com a informação sobre a dinâmica da superfície terrestre. Entender como a presença ou ausência de florestas, os espaços urbanos e a infraestrutura podem afetar o caminho dos ventos, da nuvem e da chuva passa a ser tão importante quando conhecer a dinâmica das correntes de ar na atmosfera.
SISTEMA DE PREVISÃO GLOBAL CONTINUADA
Ao rodar modelos globais para aprimorar as previsões locais, associado a uma enorme quantidade de novos sensores e satélites e à alta capacidade de processamento de grandes volumes de informação, é possível ir além das previsões diárias sobre o clima num determinado período à frente (5-10 dias). Será possível estabelecer um sistema de previsão contínuo do tempo em todo o planeta, com atualização em tempo real. A qualquer momento, poderemos perguntar a probabilidade de um determinado evento climático ocorrer em qualquer ponto do planeta a qualquer tempo.
Estes avanços serão potencializados pelo espirito da pesquisa aberta (Open Science)que promove a colaboração direta entre diferentes grupos de pesquisa em todo o mundo com troca de experiências e informação durante o próprio processo de pesquisa, muito antes das publicações, acelerando o desenvolvimento dos produtos e serviços mais úteis ao propósito comum.
Estes avanços devem influenciar a Conferência Mundial sobre Redução de Risco de Desastres a ser realizada em março de 2015, em Sendai, Japão e certamente será uma enorme contribuição para os esforços de mitigação e adaptação as mudanças climáticas.

Publicado em Planeta Sustentável - 18.08.2014

domingo, 17 de agosto de 2014

Salto de Eficiência

IPCCPainel Intergovernamental para Mudanças Climáticas da ONU, gerou uma série de cenários de desenvolvimento em que as emissões de gases de efeito estufa (GEE) seriam restritas a um montante compatível com o limite do aquecimento global em até 2oC ao longo deste século. Entre as várias características comuns destes cenários está a necessidade de provermos para todos, com muito menos emissões (ampliar e universalizar o acesso a energia e reduzir pela metade as emissões), até meados do século.
Para se ter ideia do salto necessário, tomemos as emissões por unidade de PIB: atualmente o planeta gera cerca de US$ 1200 de PIB por tonelada de CO2e emitida. Em 2050, será preciso gerar o equivalente a US$ 20 mil para a mesma tonelada emitida.
Em nenhum setor este desafio é mais crítico que no setor de energia que representa 2/3 das emissões globais de GEE. Com a necessidade de garantir acesso regular de energia a 9 bilhões de pessoas em 2050, será necessário aumentar a oferta de energia por fontes renováveis ou de baixíssimas emissões, mas a conta não fecha se não houver um salto de eficiência, ou seja, se não fizermos mais demandando menos energia.
Em 2013, o Conselho Americano para Eficiência Energética (American Council for Energy Efficiency Economy) criou um ranking de eficiência energética das 16 maiores economias do mundo que, juntas, representam cerca de 80% do PIB global e 70% do consumo de energia. O trabalho se baseia em 31 indicadores divididos em performance quantitativa e análise de políticas públicas em três áreas: indústria, transporte e construções.
Clique no mapa abaixo para ver os detalhes.
mapa-blog-do-clima-menor
Dos 100 pontos possíveis, a Alemanha é o país que tem a melhor performance com 61 pontos, seguida pela Itália. A China aparece em 4º lugar, bem à frente dos Estados Unidos que está em 13º. O Brasil aparece em 15º – ou penúltimo lugar – com 30 pontos, apenas à frente do México. Nossa performance é pior na indústria e no setor de construção e é melhor nos transportes por conta do programa de biocombustíveis.
Mas mesmo no setor de transporte nossa eficiência ainda é muito baixa. Estudo recente, realizado em parceria pela COPPE/UFRJ e o Greenpeace, indica que, se o Brasil adotasse, para os veículos, o padrão de eficiência utilizado atualmente na Europa, poderia economizar R$ 230 bilhões em combustíveis e dezenas de milhões de toneladas de CO2 em emissões até 2030.
Entre 1990 e 2012, o Brasil evolui de US$ 850 para US$ 1200 de PIB por tonelada de CO2e. É um salto importante em 22 anos. Mas será necessário um salto muito mais significativo para chegar à média global de US$ 20 mil de PIB por tonelada de CO2e em 2050. Este é o desafio.
Publicado em Planeta Sustentável - 13.08.2014

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Entrevista O GLOBO - Sociedade

Entrevista para O Globo gravada durante o TED Global 2014 no Rio de Janeiro em 07.08.2014.




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quarta-feira, 30 de julho de 2014

Além das eleições: Agenda do Clima no 2º semestre

Nem só de eleições viveremos no segundo semestre. A agenda do clima tem uma série de momentos de fundamental importância para a construção de um novo acordo climático global em 2015, que nos coloque na rota de limitar o aquecimento globalem 2ºC.
SETEMBRO
No inicio do mês, como parte da preparação para a Cúpula do Clima (Climate Summit), o SDSN (Sustainable DevelopmentSolutions Network) lança o primeiro relatório completo do projeto Caminhos para a Descarbonização Profunda (DeepDecarbonization Pathways Project).
Em 23 de setembro, em Nova York, na mesma semana da Assembleia Geral das Nações Unidas, o Secretario Geral das Nações Unidas, Ban-Ki-Moon, recebe chefes de estado de todo o mundo da Cúpula do Clima com a expectativa de que os líderes globais assumam comprometimento político com o novo acordo climático e, principalmente, sinalizem o nível de ambição de seus compromissos com a redução de emissões de gases de efeito estufa e aporte de recursos para mitigação eadaptação às mudanças climáticas.
Pelo menos uma dezenas de potenciais acordos multisetoriais (sociedade civil, governos e setor empresarial) estão sendo costurados para serem assinados durante (ou ao redor) da cúpula como, por exemplo, o Compromisso pelo Desmatamento Zero em 2020 na Amazônia.
OUTUBRO
Semanas depois, entre 20-24 de outubro, acontece a 5ª reunião do Grupo de Trabalho sobre a Implementação da Plataforma de Durban (AWG ADP). É neste grupo que acontecem as negociações sobre o novo acordo global de clima pós 2020, a ser aprovado em 2015, e a ampliação dos compromissos e ações até 2020. Nesta reunião, um dos pontos-chave é a definição do conteúdo mínimo e formato daapresentação das propostas de compromissos dos países para o período pós 2020, que deverá ser feita durante o primeiro semestre de 2015. É importante ter este formato único para que as propostas possam ser analisadas em conjunto e se entenda qual sua contribuição agregada para garantir um futuro de baixo carbono e umplaneta mais resiliente.
Na semana seguinte, entre 27 e 31 de outubro acontece a reunião do IPCC que lançará a última parte do 5º Relatório sobre o estado do clima (AR5), com a publicação do Resumo Analítico para Tomadores de Decisão, uma espécie de documento-síntese do trabalho dos grupos da ciência do clima, mitigação e adaptação.
NOVEMBRO
Neste mês, o Observatório do Clima lança a atualização das estimativas de emissões de gases de efeito estufa no Brasil até o ano de 2013. Até o final de novembro, o Ministério da Ciência e Tecnologia e a Rede Clima deve publicar os dados do 3º Inventário de Emissões e Remoções Antrópicas de Gases de Efeito Estufa com dados até 2010. Estas informações são fundamentais para melhor informar o processo de definição da contribuição brasileira para redução de emissões no período pós-2020.
DEZEMBRO
Finalmente, entre 1 e 12 dezembro acontece a 20ª Conferencia das Partes da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP20), em Lima, no Peru onde se pretende acordar os elementos que comporão o novo acordo global de clima a ser negociado em 2015.
Agenda cheia, e quase um aquecimento para um ano ainda mais cheio de emoções em 2015!

Ambiente de Guerra

Em 2003, quatro meses após o início da Guerra do Iraque, uma equipe da Unidade de Desastres e Conflitos do Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas desembarcou no país para avaliar os impactos do conflito sobre o ambiente e as pessoas e propor ações para remediar esses impactos.

O relatório produzido é impressionante. Os bombardeios das primeiras semanas de guerra afetaram a infraestrutura de geração elétrica. Sem eletricidade, os sistemas de fornecimento de água e coleta e tratamento de esgoto entraram em colapso. O esgoto corria a céu aberto e atingia os principais cursos d’água, chegando aos rios Tigre e Eufrates. As doenças relacionadas à água se espalhavam, agravando a precária situação dos hospitais e postos de atendimento médico, que já eram insuficientes para lidar com feridos nos ataques.

Com objetivo de eliminar possíveis locais de produção de armas químicas (nunca encontradas), indústrias químicas, de fertilizantes e farmacêuticas foram atacadas. Milhares de toneladas de produtos químicos tóxicos e perigosos foram espalhados por extensas áreas, com contaminação do ar, da água e do solo. Tanques e poços de petróleo foram queimados — muitos por sabotagem — e o fogo que se estendeu por semanas produziu uma fumaça tóxica que atingiu a população, a produção animal e agrícola.

O bombardeio e o trânsito de milhares de equipamentos pesados de guerra sobre áreas do entorno das cidades destruíram e degradaram ecossistemas inteiros.

Diagnósticos semelhantes foram obtidos no Afeganistão, em Serra Leoa, Sudão, Kosovo, Congo e Líbano, entre tantos outros países.

A guerra não explica todos os problemas ambientais encontrados, mas o que se constata é que a tragédia humanitária das batalhas vai muito além das mortes durante os conflitos. Ela se perpetua através dos impactos sobre a infraestrutura, residências, fábricas, áreas agrícolas e ambientais naturais, com reflexos diretos na qualidade ambiental, saúde e segurança alimentar.

Desde 2003, a ONU trabalha em conjunto com o governo e a sociedade iraquianos para recuperar as mínimas condições ambientais no país. Dez anos depois do início da guerra, o país ainda está longe de conseguir a paz e muito mais longe de recuperar os danos à qualidade ambiental que a guerra provocou ou acentuou. Triste sina para o país que abriga a Mesopotâmia, o berço da civilização, onde nasceu a agricultura e foi o embrião das cidades.

Enquanto escrevo este artigo recebo a noticia de que a única central elétrica da Faixa de Gaza, que atende a 1,8 milhão de habitantes, foi destruída. Chocante.