Para que
tenhamos chance de limitar o aumento da temperatura média do planeta em 2oC
durante este seculo não deveríamos emitir mais do que 1.800 GtCO2e, ou seja uma
média de 18 GtCO2 por ano. Iniciamos o século emitindo 40 GtCO2e atualmente
supera as 50 GtCO2e. Entender de onde
vem estas emissões – quais as fontes e circunstâncias em que ocorrem é
fundamental para identificar e implementar politicas de redução das emissões
desde o nível local até o global.
As emissões
de forma geral proveem de cinco fontes: queima de combustíveis fósseis, mudança
de uso do solo (ex. desmatamento), agricultura (ex. fermentação entérica e uso
de fertilizantes), processos industriais (ex. transformação do calcário em
cimento) e manejo de residuos (ex. emissão de metano por decomposição do lixo).
O IPCC estabeleceu um guia de como estimar
através de um inventário as emissões de gases de efeito estufa de um país (ou
sub região como Estado ou Município) detalhando todas as possíveis fontes que
precisam ser levadas em conta. Estes inventários de emissões são obrigatórios
de serem feitos anualmente pelos países desenvolvidos ou, no jargão da
Convenção de Mudanças Climáticas, os países listados no Anexo 1 da convenção.
Para os demais os inventários são esperados a cada 4 ou 5 anos e sujeitos a
disponibilidade de recursos para sua execução. Todos os inventários dos países
são revisados por painéis técnicos e depois disponibilizados no site daconvenção.
Como uma
parte importante dos países não realizam inventários e a periodicidade dos
mesmos não é coincidente, não é possível obter o total das emissões globais
pela soma das emissões inventariadas nos países. Assim existem uma série de
iniciativas internacionais que procuram estimar as emissões globais através de
dados secundários entre eles a Agencia Internacional de Energia (que calcula
apenas para energia), o Words Resources Institute e o programa EDGAR (base de dados de emissões da
comunidade europeia).
Muitas vezes
ao observar as estimativas de emissões globais reportadas somos surpreendidos
por números muito distintos, o que leva alguns céticos a sugerir que trata-se
de uma prova grande inconsistência e incerteza sobre o tema climático. Decorre
que grande parte das discrepâncias na verdade diz respeito a não especificação
de que emissão esta sendo reportada. As principais variações são:
·
Fontes incluídas – é muito comum a referencia as
emissões globais restrita ao setor energético (ex. aquelas estimadas pela AIE)
que incluem praticamente apenas CO2 e representam cerca de 60-65% das emissões
totais globais dos gases de efeito estufa.
Também é comum encontrar referencias as emissões globais em mudança de
uso do solo, ou seja sem as emissões ou remoções oriundas de mudanças da
cobertura vegetal como desmatamento, degradação, regeneração e reflorestamento.
Isso decorre do fato da polêmica sobre a contabilização de áreas atualmente
sendo recuperadas/ reflorestadas (portanto capturando carbono) e que foram
desflorestadas no passado (estavam emitindo).
·
CO2 ou CO2e – Mais de 99% das emissões
globais são formadas por CO2 (dióxido de carbono), N2O (oxido nitroso) e CH4
(metano). Outras dezenas de gases incluindo os CFs e HFCs perfazem o restante.
O CO2 sozinho representa mais de 75% das emissões e é comum que a referencia ao
total das emissões seja apenas as emissões de CO2. Quando se pretende falar de
todos os gases é utilizada uma medida de conversão da massa destes gases no seu
potencial de aquecimento global (Global Warming Potential - GWP) em relação ao
CO2 num periodo de 100 anos (GWP100). Por este critério o potencial de
aquecimento global de uma tonelada de metano (CH4) equivale a 21 toneladas de
CO2 (estes valores são ajustados ao longo do tempo pelo IPCC de acordo com os
avanços da ciência do clima). Assim para reportar as emissões totais de todos
os gases se usa o termo carbono equivalente ou CO2e.
·
Carbono ou Dióxido de Carbono – é comum vermos uma citação
assim: emissões de carbono totalizando X toneladas de CO2. De fato, carbono (C)
e dióxido de carbono (CO2) também são referencias distintas, uma tonelada de
carbono equivale a 3,67 toneladas de CO2 (ah, as aulas de química.... lembra?
Carbono tem massa molecular 12 e o oxigênio 16 então a massa molecular do CO2 é
44... então, 12/44 é 3,67). Apesar disso em geral a referencia genérica a
carbono na maioria das vezes é de fato uma referencia a CO2.
Em resumo,
as emissões totais de gases de efeito estuda em geral são expressas em tCO2e.
Quando as emissões globais são expressas em CO2 em geral tratam apenas de
energia e representam cerca 2/3 das emissões totais.
Existem
ainda algumas fontes de emissões que são não são óbvias de definir a quem
alocar as emissões, como àquelas oriundas do transporte internacionais de
cargas e passageiros. Por exemplo, no inventário de quem devem ser
contabilizadas as emissões um navio de bandeira holandesa que transporta uma
carga do Brasil para a China passando pela Africa do Sul e de lá recebe outra
carga para o Japão. A este conjunto se dá o nome de bunker fields.
As formas
mais comuns de se referir as emissões globais de gases de efeito estufa seguem
abaixo:
>
Emissões globais de GHG (2010) - 50,1 Gt
CO2e (bilhões de toneladas de CO2
equivalente) - Fonte: EDGAR
>
Emissões globais de CO2 por queima de combustíveis fósseis (2010) - 31 Gt CO2
(bilhões de toneladas de CO2) - Fonte: IEA
> Um
gráfico produzido pelo World Resources Institute mostrando como se distribui as
emissões globais de gases de efeito estufa compilando dados do ano 2005.
E o Brasil,
quanto emite? Em que setores? Afinal as emissões estão caindo ou aumentando?
Vamos explorar estas questões em posts futuros.
Publicado em Planeta Sustentável em 23/08/2013
Publicado em Planeta Sustentável em 23/08/2013