Uma pergunta frequente em debates sobre mudanças climáticas se refere ao objetivo acordado pelos países participantes da cop15, em
2009: Evitar que o aumento da temperatura média do planeta chegue a 2ºC. Mas
por que 2ºC e não 1,5ºC ou 3ºC?
A Convenção
do Clima foi
aprovada em 1992 com o objetivo de “estabilizar a concentração de gases
de efeito estufa na
atmosfera em um nível que previna uma interferência antropogênica perigosa
sobre o sistema climático. Este nível deve ser atingido em um período
suficiente que permita que os ecossistemas se adaptem naturalmente às mudanças
climáticas, para assegurar que a produção de alimentos não seja ameaçada e
permitir que o desenvolvimento econômico aconteça de maneira sustentável”.
Com apenas um
relatório do IPCC – Painel
Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU publicado até então, nesse ano
não havia elementos suficientes para definir metas mais concretas sobre o nível
de concentração dos gases. A publicação do 4o. Relatório do IPCC,
em 2007, apresentou uma série de dados e informações com maior grau de certeza
sobre os cenários de aumento da concentração dos gases de efeito estufa, os
impactos no aumento da temperatura e as possíveis consequências para o sistema
climático global e para humanidade.
Nesse Relatório , o
IPCC apontava que, em algum ponto entre 1,9ºC e 4,6ºC de aumento médio de
temperatura, existe alto risco de ocorrer mudanças abruptas e irreversíveis no
sistema climático envolvendo correntes oceânicas, derretimento de geleiras,
aumento do nível dos oceanos, perda massiva de biodiversidade e de capacidade produtiva
agrícola entre outros impactos. No caso da biodiversidade, indicava que um
aumento de 1,5ºC a 2,5ºC pode levar a extinção de 20 a 30% das espécies.
Por
outro lado, os diversos cenários desenhados por estudos científicos indicam
que, para a temperatura não aumentar acima de 1,5ºC, a concentração de gases
não pode passar de cerca 320 ppm. Acima de 400 ppm, a chance de limitar a
temperatura em 1,5 ºC cai para menos de 10%. O relatório apontava ainda
que a concentração de gases da atmosfera, em 2004, chegaria a 385 ppm, enquanto
que, em milhares de anos até o final do século 19, não havia passado de 300
ppm.
Para poder planejar e
construir um novo acordo sobre mudanças climáticas, mais efetivo e robusto, era
preciso definir de forma mais concreta a referência para alcançar a meta da
convenção. Limitar em 2ºC é uma decisão politica tomada em 2009, no âmbito do Acordo
de Copenhague que
procurava combinar a capacidade e os limites de adaptação às mudanças do clima e, ao mesmo
tempo, as possibilidade e os limites para mitigar as emissões de forma a garantir o
desenvolvimento dos países.
Dois
graus representam quase o limite quase acima do qual as mudanças climáticas
tornam-se abruptas e irreversíveis. Temos 50% de chance de limitar o
aquecimento a 2ºC. Esse limite também serve de referência para embasar os
programas de adaptação às mudanças do clima que, ainda assim, vão ocorrer.
O
próprio Acordo de Copenhague reconhece que melhor seria tentar limitar em 1,5ºC
quando propõe que, na avaliação da implementação do Acordo, prevista para 2015,
a proposta seja reavaliada e reconsiderada.
O fato é que, em
2013, a marca de 400 ppm foi alcançada e não existem perspectivas de que o pico
das emissões globais vá ocorrer antes de 2020. Portanto,
o cenário de 2ºC está cada vez mais distante e as chances de que ele ocorra
caem a cada dia. Nas condições atuais, as chances de a temperatura média subir
4ºC entre 2050 e 2070 é bem maior do que 2ºC. E este seria um cenário trágico
que devemos evitar a qualquer custo. Como
o aumento de temperatura médio não é homogêneo, determinadas regiões poderiam
ter aumento médio de 10ºC neste cenário.
A
temperatura média da Terra é de cerca de 14ºC. Um aumento de 2oC equivale
proporcionalmente a uma febre de 40ºC em uma pessoa. Imagine o que significam
4ºC.
O 5º.
Relatório do IPCC, que
começará a ser divulgado em setembro próximo, deverá trazer ainda
mais luz e informação sobre os limites que precisamos observar. A conferir.