domingo, 11 de agosto de 2013

Cinquenta Gigatons de Cinza

Em 2012, as emissões antrópicas de gases de efeito estufa atingiram 50 Gigatoneladas (Gt) de CO2e. Em outras palavras, as emissões derivadas de atividades humanas levaram a emissão do equivalente a 50 bilhões de toneladas de CO2.
Cerca de 70% é CO2 propriamente dito e o restante são os demais gases – em especial Metano (CH4) e Óxido Nitroso (N2O) convertidos em CO2 equivalentede acordo com eu potencial de aquecimento do planeta.
Vamos a alguns dados: Uma tonelada de CO2 é o que emite em um ano um carro popular rodando com gasolina, em cerca de 20/30 km por dia; O metano emitido em um ano por um bovino, por meio da fermentação entérica (arrotos e flatulências), é de cerca de uma tonelada de CO2e; Uma viagem de avião de São Paulo para Londres, em voo comercial, corresponde a emissões de cerca de uma tonelada de CO2e por passageiro.Por esta perspectiva, 50 bilhões de toneladas de CO2 são muito!
O planeta viveu ciclos de aumento e redução de GHG na atmosfera. Estes ciclos duravam milhares de anos e atingiam picos de 300 ppm de CO2 na atmosfera seguidos de reduções para até 170 ppm. Todos os anos, centenas de bilhões de toneladas de CO2 circulam entre atmosfera e superfície terrestre e, também, nos oceanos. Em períodos de aumento de concentração de CO2 na atmosfera, este balanço entre emissão e captura é positivo; já em relação às emissões em períodos de redução da concentração de CO2, o balanço é negativo.
IPCC – Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas aponta que, na ausência de emissões antrópicas, o balanço global de emissões/remoções de CO2 é negativo em cerca de 17 Gt CO2. Ou seja, o planeta estaria absorvendo 17 Gt a mais do que está emitindo como mostra a figura abaixo.
Usando dados relativos a década de 90, os oceanos emitem 332 Gt e capturam 338 Gt gerando uma captura líquida de 6 Gt. Já a vegetação e o solo capturam 11 Gt a mais do que as 439 Gt que emitem por ano.
Isso quer dizer que, sem as emissões antrópicas, a concentração de GHG na atmosfera estaria em declínio e não aumentando. Portanto, é correto dizer que uma fração importante do que emitimos é absorvido pelos oceanos e a vegetação, mas pelo menos 60% do carbono acaba se concentrando na atmosfera. Conseguimos, com nossas emissões, inverter o caminho natural do planeta que estava em um ciclo de redução da concentração de carbono. Desde meados do século XX emitimos mais CO2 do que o planeta é capaz de absorver/capturar.
No ritmo atual de emissões provoca um aumento anual de cerca de 3 ppm (partes por milhão) por ano na concentração de CO2 na atmosfera. Em 2013, chegamos 400 ppm. Mesmo que as emissões parassem de aumentar e fossem estabilizadas em menos de 20 anos, atingiremos os 450 ppm, limite de estabilização da concentração de CO2 definida para que tenhamos pelo menos 25% de chance de que o aumento da temperatura média do planeta não supere 2ºC (leia o post Por que 2º?).
Para estabilizarmos e eventualmente reduzirmos a concentração de CO2 na atmosfera, precisamos baixar as emissões líquidas de CO2 a níveis iguais ou menores que a capacidade de captura líquida dos processos naturais do planeta. Este é o desafio.