quarta-feira, 13 de junho de 2012

Liderança pelo Exemplo


Anfitrião, o Brasil preside a Rio+20, a Conferencia das Nações Unidas para Desenvolvimentos Sustentável que reunirá entre os dias 20 e 22 de Junho mais de 100 chefes de estado e governo no Rio Centro. É o ápice de um processo de discussão que deve revisar nossa evolução desde a Rio+20 e, principalmente, apontar as correções de rumo para a construção de um futuro de bem estar e sustentabilidade no planeta.

Revisando nossa trajetória, o Programa das Nações Unidas para Meio Ambiente – PNUMA publicou o quinto Relatório do Panorama Global Ambiental (GEO5), a mais extensiva revisão do estado ambiental do planeta, que aponta que de 90 objetivos derivados de acordos da Rio92, evoluímos bem em apenas quatro e em oito, como a condição dos recifes de corais, regredimos. Em vários temas chave, ainda carecemos de metas globais claras que orientem as ações como emissões de gases de efeito estufa e proteção das florestas.

A correção de rumo aponta para necessidade de pelo menos três resultados na declaração a ser assinada pelos chefes de estado no final da próxima semana: (i) a definição de um conjunto robusto de objetivos e metas relacionadas a promoção do bem estar de todos respeitando os limites do planeta; (ii) uma revisão da governança ambiental que amplifique os mandatos e os recursos das instituições internacionais para apoiar o alcance destas metas e (iii) estabelecer um arcabouço de instrumentos e acordos que coloquem a economia a serviço do desenvolvimento sustentável como a eliminação de subsídios perversos, o reconhecimento dos serviços ambientais em escala global, novas medidas de prosperidade, produção e consumo sustentável entre outros temas.

O nível de ambição destes acordos depende essencialmente do nível de ambição do país anfitrião que preside a reunião. Este nível de ambição deve ir muito além do bravo trabalho da competente diplomacia brasileira. Nada é mais poderoso que liderar pelo exemplo e demonstrar com clareza a prioridade do desenvolvimento sustentável.

Em 2009,  durante a Cúpula sobre Mudanças Climáticas em Copenhague o Brasil deu um exemplo notável de liderança ao assumir metas ambiciosas de redução de emissões de gases de efeito estufa e em seguida transformou a meta em lei. Agora, ao invés da liderança propositiva, vivemos o esforço  para reduzir os danos do desastroso processo de debate do Código Florestal, a redução de Unidades de Conservação e outros processos em curso que ameaçam os avanços da agenda da sustentabilidade no Brasil.

O slogan oficial dos três pilares “crescer, incluir e preservar” soa bem, mas no modo de operação em curso no Brasil o slogan remete a uma hierarquia que submete o terceiro pilar ao primeiro. Para o “crescer” tem PAC, tem monitoramento constante, tem política fiscal, tem intervenção no juros e prioridade total de tempo e atenção. Para o “preservar” a prioridade parece ser evitar danos, sempre no limite que não impacte o crescimento.

Queremos ser surpreendidos, mas os sinais são de que não veremos a liderança e ousadia necessárias nos corredores oficiais. O nível de ambição da declaração dos chefes de estado corre sério risco de ser um mínimo denominador comum. Mínimo mesmo.

A liderança que falta no Rio Centro transborda nos mais de mil eventos que acontecem no Rio, em paralelo a conferencia oficial. É como se um festival de música contasse com uma centena de palcos secundários.

Os eventos são promovidos por organizações empresariais, governos e sociedade civil promovendo iniciativas focadas no desafio de prover de mínimas condições de bem estar toda população respeitando os limites de resiliência do planeta.

São iniciativas como a União Global pela Sustentabildiade, Bolsa Verde do Rio (BVRio) e o Fórum de Empreendedorismo Social para Nova Economia que garantem que, mesmo a pouca ambição da declaração final dos chefes de estado, a Rio+20 eleve o patamar de consciência e, portanto, deveria ser revivido periodicamente para promover a convergência do debate e das soluções para o nosso futuro comum.


Publicado em O Globo em 13/06/2012