O ano começou com recordes de frio e neve em boa parte dos Estados Unidos, batendo recordes negativos de temperatura em várias regiões que são monitoradas desde épocas tão antigas como 1870. Seria esta uma evidência de que o aquecimento global não está acontecendo?
E a ocorrência de um dos invernos mais quentes já registrados nos países nórdicos (Noruega, Finlândia, Suécia) seria uma evidência definitiva de que realmente o aquecimento global é real?
Nenhum evento climático tomado de forma isolado prova ou refuta a tese do aquecimento global e as respectivas mudanças climáticas associadas. Mudanças climáticas são representantes por alterações de padrões, médias e variações de ao longo dos anos. Mas as descobertas da ciência do clima nos últimos apresenta elementos que permitem relacionar estes dois extremos (recorde de frio nos EUA e calor no inverno nórdico) como exemplos do tipo de mudança climática relacionada ao processo de aquecimento global.
Mas como o aquecimento global poderia gerar recorde de temperaturas frias? O entendimento do funcionamento das correntes de jato (jet streams) apresenta a chave explicar este aparente paradoxo.
O ar se movimenta de acordo com as diferenças de temperatura que mudam a densidade do ar. O calor é energia que movimenta os ventos. Os ventos se movimentam na direção norte sul alimentados pela diferença de calor nas regiões tropicais, subtropicais, temperadas e polares. O movimento giratório da terra e a diferença de temperatura entre o sistema terrestre e oceânico provocam movimentos no sentido oeste para leste. Esta movimentação é mais forte e predominante no extremo do hemisfério norte e forma as correntes de jato que ficam a 7 – 12 km de altitude.
Nas ultimas décadas o aumento da temperatura média no planeta tem se verificado duas a três vezes maiores no extremo norte do que no restante do planeta. Isso faz com que a diferença de temperatura entre a região do polo ártico e as latitudes médias está diminuindo. A diferença de temperatura entre estas regiões é o que alimenta o vórtice polar – que são enormes massas de ar polar que circulam no sentido anti-horário na região polar.
Quando a diferença de temperatura cai enfraquece o vórtice polar e permite de um lado o ar frio desça para o continente de um lado e de outro suba o ar quente para regiões próximas dos polos. Com o caminho mais longo as massas de ar se movimentam de forma relativamente mais baixa. Isso explica a forte massa de ar polar cobrindo grande parte dos Estados Unidos com recorde de temperaturas baixas de uma lado e no outro lado a massa de ar subtropical provocando aumento não-usual de temperatura no extremo norte da Europa.
O fenômeno de frentes frias de origem polar adentrar os continentes não é novo, mas a sua intensidade e frequência que tende a aumentar como efeito do aquecimento global. O fenômeno tem efeitos tanto no inverno como no verão, neste caso causando extremos de chuva e de seca nos dois lados das correntes de jato onde há contato entre a massa de ar quente e frias.
Esta é a questão central das mudanças climáticas. O aumento da emissão de gases de efeito estufa aumenta a retenção de energia no sistema terrestre tanto nos oceano como na atmosfera. O efeito deste novo balanço de energia tem reflexos no sistema climático global, provocando aumento da intensidade, frequência e impacto de eventos climáticos extremos, inclusive de frio. O que estamos assistindo ocorre com o aumento de cerca de 1ºC na temperatura média do planeta verificada no último século. O que esperar se o aumento da temperatura média ultrapassar 2ºC? Melhor não pagar pra ver.
Imagens: justinwkern/Creative Commons; NASA;
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Publicado em Planeta Sustentável - 14/01/2014