terça-feira, 12 de julho de 2016

Observando do espaço


Desde o Sputinik 1 em outubro de 1957 até 2015 foram lançados ao espaço 1380 satélites, cerca de metade destinado a comunicações e um quarto dedicado a observação da terra. Os demais estão dedicados a observar o espaço e garantir o geoposicionamento na terra (é o que permite, por exemplo, o GPS do seu celular funcionar). A grande novidade é que quase a metade destes satélites foi colocada no espaço nos últimos 5 anos! Só em 2015 foram 185 satélites lançados e em 2016 deve passar de 200.

O setor que mais cresce são os satélites de observação da terra. Hoje existem mais de 350 satélites cruzando os céu (alguns ali parados sobre alguma região do planeta) e recolhendo e transmitindo dados sobre a atmosfera, a cobertura e as características físico químicas da superfície terrestre. Estes dados nos permitem desde gerar programas como Wase e Google Maps até monitorar incêndios florestais e desmatamento ou fazer a previsão do tempo.

Recentemente visitei em São Francisco a sede da Planet Labs, uma startup fundada por quatro jovens em 2010,  que colocará  em órbita a maior constelação satélites já desenvolvida. Já são mais de 65 microsatélites no espaço e até o final do ano mais 50 devem ser lançados. Quando completa, a constelação terá mais de 150 satélites que alinhados e girando em torno de um eixo que corta o polo norte e sul do planeta será capaz de gerar imagens diárias de alta resolução de todo o planeta. Os microssatélites da empresa são feitos de partes padrão que pedem ser compradas    no mercado local e custam alguns milhares de dólares, uma ínfima parte do que custa um satélite convencional que se mede na casa das dezenas de milhões.

Existe pelo menos uma dezena de startups desenvolvendo constelações de micro e nano satélites para observação da terra. Dentro de poucos anos teremos milhares de satélites em órbita observando a terra produzindo diariamente imagens em foto e vídeo de todos os cantos do planeta. Elas serão acessíveis em qualquer lugar a partir do processamento e armazenamento na nuvem nos auxiliando em centenas de tarefas tão diversas como estimar safra agrícola, monitorar áreas de desastres, rastrear frotas de veículos, prever alterações climáticas ou entender a dinâmica de uso da terra.

Alguns fatores primordiais estão viabilizando esta agenda da corrida do olhar sobre a terra desde o espaço. Cito três: o rápido barateamento das missões de lançamento, especialmente em decorrência da entrada de empresas privadas inovadoras como SpaceX em terreno antes completamente dominado por entidades governamentais e militares; a disponibilidade de materiais, sensores e câmara de alta performance e baixo custo; e a popularização do uso de mapas e serviços associados a geo localização em smartphones.

Os modelos de negocio destas novas constelações tende  a favorecer a publicação gratuita de muita informação e alta flexibilidade de acesso para os usos comerciais. Se antes uma imagem de alta resolução tinha que ser encomendada e demorava semanas ou meses para ser entregue agora é disponibilizada em horas.

O que antes era um privilégio de programas de espionagem ou “inteligência” agora será posto a serviço do bem comum. O planeta nunca mais será visto como antes.

Publicado na Coluna Bússola em Época Negócios de Julho/2016